06/04/11

FORMAÇÃO EM "ROYAL MARINES COMMANDOS" NO REINO UNIDO

DÉCADA DE 50

          A partir dos anos 50 do século passado, a evolução política do continente africano, com despertar dos «Nacionalismos Africanos», nomeadamente com a criação de novos Estados independentes com assento na ONU, ex-colónias de países europeus e a crise originada pelo Presidente do Egipto Coronel Gamal Abdel Nasser ao nacionalizar o Canal do Suez em 1956, originaram o fomento e reorganização da Marinha Portuguesa em África.
          As alterações na política de Defesa Nacional em 1959, face a percepção latente das potenciais ameaças à soberania nacional nas colónias africanas, determinou a atribuição da primeira prioridade de intervenção nos mesmos territórios, revendo-se conceitos de estratégia e táctica adoptados até à data.
          Tal mutação teve consequências para a Armada, entre elas destaca-se os contactos efectuados pelo então Sub-CEMA CMG Roboredo e Silva nos inícios de 1959 a franceses e a britânicos, com o escopo de solicitar apoio à formação de um pequeno quadro de futuros Oficiais e Sargentos instrutores de Infantaria Naval.

          Tal solicitação materializou-se sob a forma de pedido de proposta de treino, primeiro ao Comando da "École des Fusiliers Marins du Centre Siroco" em Cabo Matifou - Argélia, a 1.ª escolha do Sub-CEMA, cujo aprovação do pedido foi retransmitido a 3 de Fevereiro de 1959 por intermédio do Adido Militar da Embaixada de Portugal em Paris, para a ser frequentado por: um 2.º Tenente, 1 Sargento e 5 Praças, com a condição de os instruendos frequentarem um período de treino básico de 8 meses para Oficiais, mais 2 meses adicionais de especialização em "Commando Marine", e um período de treino básico de 5 meses para pessoal recrutado.
          Atendendo à longa duração do treino proposto pelos franceses, no mesmo dia (3 de Fevereiro de 1959), o Sub-CEMA envia também uma proposta de treino ao Comando dos "Royal Marines" da Marinha Real Britânica (criados em 1942 durante a 2.ª Guerra Mundial), por intermédio do Adido Naval da Embaixada de Portugal em Londres, recebendo a 3 de Abril de 1959 por resposta a proposta de frequência de um curso de instrução especializada em "Comandos", com a duração de 9 semanas.

DÉCADA DE 60


Almirante Roboredo e Silva

          Deste modo, após os contactos estabelecidos e a escolha pela proposta britânica, em virtude de tratar-se de um curso de menor duração e objectivos da formação, o Sub-CEMA Comodoro Roboredo e Silva com grande antevisão de potenciais problemas de soberania nas Províncias Ultramarinas, entrega uma proposta [informação n.º 29] em Janeiro de 1960 ao Almirante CEMA, para na reorganização da Marinha de Guerra Portuguesa ocorra a reconstituição de uma força destinada a operações de comandos e desembarques anfíbias - os Fuzileiros.
          Em 26 de Abril de 1960, o Sub-CEMA insiste na sua proposta junto do Almirante CEMA [informação n.º 139], alegando que a reconstituição de uma força anfíbia como os Fuzileiros oferecem o maior interesse para o Ultramar e a Metrópole, além de que permitiria libertar as guarnições de unidades navais de efectuarem serviço de segurança e patrulhamento em terra ou operando como Força de Desembarque, em detrimento da capacidade operacional do Navio de Guerra a que se encontravam destacados.
          Tal proposta acaba por ser aprovada sob a forma de Despacho CEMA em 20 de Abril de 1960, atendendo ao indicado na Proposta n.º 104 de 01 de Maio de 1959 pelo Estado-Maior da Armada, sugerindo a frequência de um curso de "Comandos" no estrangeiro por 1 Tenente, 1 Sargento ou 1 Cabo e 3 Praças, projecto que contou com o apoio inicial do Reino Unido.

- FORMAÇÃO EM "ROYAL MARINES COMMANDOS" NO REINO UNIDO


Exercícios de campo em Lympstone (Foto cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          Seis meses antes de o eclodir do conflito do Ultramar no Norte de Angola (15 de Março de 1961), em 16 de Agosto de 1960, foram enviados para a Escola dos Fuzileiros da Marinha Real Britânica, no âmbito da cooperação técnico-militar, uma equipa de 4 futuros instrutores com o propósito de frequentarem a partir de 22 de Agosto, as últimas 10 semanas do curso de especialização "Royal Marines Commandos" em Lympstone - South Devon, nas instalações do "Infantry Training Centre Royal Marines":
- (1) 2º Tenente da classe de Marinha Pascoal Rodrigues (CMG REF), na época destacado num Draga-Minas;
- (3) 1.º Marinheiros da classe Monitores Santos Santinhos , Baptista Claudino e Ludgero Silva "Piçarra" (SAJ FZE REF), na época a ministrarem recruta e instrução na Escola de Alunos Marinheiros (GN1EA Vila Franca de Xira).


Na companhia de um Instrutor inglês (foto cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          Estas últimas semanas corresponderam à fase de aplicação prática da teoria com os exercícios físicos finais, familiarizando-se com as respectivas técnicas e tácticas de Infantaria Naval, a posteriori no final do curso receberam a «Boina Verde» e o distintivo de "Royal Marines Commando" como símbolo de Forças de Elite.


Os 4 primeiros Fuzileiros com a Boina Verde dos "Royal Marines Comandos" (Foto original cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          Regressaram a Portugal em 30 de Outubro de 1960 e observando o disposto na Proposta n.º 93 de 26 de Maio de 1961 do CEMA para o Ministro da Marinha, começaram a ministrar instrução nas instalações do Corpo de Marinheiros da Armada, enquanto se procedia às obras de adaptação das instalações em Vale do Zebro.
          De destacar que os 4 portugueses (únicos estrangeiros) ficaram nos 10 primeiros lugares do curso de especialização "Royal Marines Comandos" (32 instruendos ao todo), entre Oficiais, Sargentos e Praças, sendo de salientar que o 1.º Marinheiro Mário Claudino concluiu o curso em apreço e a Prova de Marcha de 60Km em 1.º lugar, inclusive à frente dos próprios ingleses, feito pelo qual foi distinguido com um louvor e medalha.


Exercício em Pista de obstáculos em Lympstone (Foto cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          Tratou-se de um curso que focou com particular ênfase a capacidade física, a disciplina e o treino técnico para o combate ofensivo (patrulhas de combate, emboscadas e incursões), tendo a teoria sido brevemente abordada (operações anfíbias e tácticas básicas de infantaria), originando a iniciativa do Tenente Pascoal Rodrigues de a completar e desenvolver posteriormente, mediante o acompanhamento da criação dos Caçadores Especiais do Exército no CIOE de Lamego e respectivos exercícios.


Exercícios de campo em Lympstone (Foto cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          De realçar que também foi cedido ao Tenente Pascoal Rodrigues manuais de contra-guerrilha e guerra psicológica, por alguns Oficiais destacados no CIOE que frequentaram em 1958 e 1959, cursos de informação, contra-subversão e contra-guerrilha em centros de instrução estrangeiros (Argélia, Bélgica, Espanha, EUA, França e Inglaterra), a título de exemplo:
- Intelligence Centre of the British Army;
- Centre d'Instruction à la Pacification et à la Contre-Guérilla d'Arzew no teatro de operações francês na Argélia;
- Centro de Tropas de Choque da Córsega;
- Estágios na Défense nationale Française.

          De modo a sedimentar os conhecimentos adquiridos, o Tenente Pascoal Rodrigues optou por estudar livros sobre a doutrina e experiências de países estrangeiros:
- Operações anfíbias dos Fuzileiros Norte-americanos (2ª Guerra Mundial e Coreia), cedido por Adidos Militares Navais da Embaixada Norte-americana em Lisboa;
- Manuais sobre tácticas inglesas de contra-guerrilha (Malásia), trazidos da formação em Inglaterra;
- Conceito de contra-penetração francês (Indochina e Argélia);
- Manual de Campo de Treinamento Físico Militar do Ministério da Guerra do Brasil de 1958.

          É de salientar que para a constituição orgânica das unidades de Fuzileiros (Equipa, Secção, Pelotão, Companhia, Destacamento), o Tenente Pascoal Rodrigues inspirou-se igualmente no modelo britânico e para a formação em meio aquático de botes pneumáticos no sistema ATP das publicações temáticas militares da NATO.
          A título de curiosidade, o uniforme e procedimento de manejo das armas e marcha em acelerado com arma na Ordem Unida, ainda hoje implementado nos Fuzileiros, é da autoria do Tenente Pascoal Rodrigues, por adaptação dos conhecimentos do curso frequentado no Reino Unido.

5 comentários:

  1. Caro amigo parabéns pelo fabuloso artigo, desconhecia estas fotos do meu camarada Pascoal Rodrigues, você tem um jeito verdadeiramente agradável para redigir sobre a Briosa e as suas unidades.

    M. O. Oficial da Armada com curso FZE

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  2. Como sempre está de parabéns pelo excelente artigo.

    Acho que o Corpo de Fuzileiros ou a nossa Associação de Fuzileiros deveria convidar este nosso GRANDE AMIGO para o aniversário dos 50 anos da Escola de Fuzileiros!

    Fica a ideia a quem decide nas devidas organizações.

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  3. Boa Noite.

    Agradeço aos quatro magníficos, que nos transmitiram toda a experiência. Eles foram os causadores de eu ter sido FUZILEIRO ESPECIAL, aos 18anos.
    Como FUZILEIRO ESPECIAL, fiz duas Comissões na GUINÉ.
    Sempre em DESTACAMENTOS DE FUZILEIROS ESPECIAIS.
    Apenas dos quatro, conheci pessoalmente o PIÇARRA.
    Creio que o CMDT Pascoal, vive no Brasil.
    E os outros dois creio que já faleceram.
    Mas para eles o meu bem haja.
    Aos que faleceram os meus sentimentos.
    Obrigado aos 4.
    Jacaré

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  4. Obrigado a todos os Fuzileiros Especiais que , ainda se lembram do Herói que , em Inglaterra deu cartas aos Ingleses ficando em 1º lugar .

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