04/04/17

MERGULHADORES DA ARMADA NA DÉCADA DE 50 DO SÉCULO XX

           Pelo ano de 1953, dada a premência de apetrechar a Armada com meios e auxílio médico-terapêutico especializado no suporte a possíveis acidentes disbáricos e para salvamento marítimo, foi adquirida a primeira câmara de descompressão do país, desencadeando-se simultaneamente a medicina de mergulho e hiperbárica, aparelho que, perante os padrões actuais, encontra-se obsoleto e que foi transferido para o Museu da Marinha.

1.ª Câmara de descompressão (Foto cedida por Sarg. US Ferreira Marques)

          Pelo mesmo ano a Marinha de Guerra Portuguesa conta somente com um efectivo de 03 Mergulhadores...

- FORMAÇÃO EM IEE E MERGULHO NO REINO UNIDO:

           De 26 de Junho de 1954 a 15 de Abril de 1955, inserido na 2.ª parte do curso Long TAS "Torpedo Anti-Submarine Warfare", no âmbito da cooperação técnico-militar bilateral, Oficiais subalternos são certificados na Escola de Mergulhadores da Marinha Real Britânica: "HMS Defiance Diving School" em Plymouth com competências na guerra de minas e suas contramedidas, torpedos, demolições, incluindo mergulho (01 semana).

Curso Long TAS "Torpedo Anti-Submarine Warfare" de 1954 na Escola de Mergulhadores da Marinha Real Britânica: "HMS Defiance Diving School" em Plymouth (Foto cedida pelo Almirante Nunes da Silva)

           Esta parte do curso incluiu noções gerais sobre o equipamento usado em "deep diving" e "standard diving", experimentar escafandros clássicos semi-autónomos de circuito aberto em rio e equipamento de mergulho autónomo em piscina, a exibição dos filmes "Diving" (inglês) e "Deep sea diving" (norte-americano), a demonstração de equipamentos de salvação marítima "OXY-HYDRO" (aparelho subaquático de corte de chapa) e "UNDERWATER GUN" (aparelho subaquático de cravação de chapas no casco de navios), a câmara de compressão para Mergulhadores, regras para supervisão de Mergulhadores usadas na Royal Navy e equipamento utilizado pelos "Clearence Divers".
           De salientar que os Oficiais portugueses obtiveram respectivamente o 1.º e 5.º lugar, no curso frequentado por Oficiais de várias nações do ano 1954/1955, sendo que o mais antigo teve a exclusiva autoria e responsabilidade, conforme determinado verbalmente pelo então sub-CEMA, de compilar e enviar relatórios para o EMA, por intermédio do Adido Naval da Embaixada Portuguesa em Londres sobre a formação, contendo inclusivo propostas para se adquirir os filmes visualizados e diversos livros, tais como: "The Manual of Demolitions", "The Demolition Drill Book", "The Diving Manual".






































Certificado do curso "Long TAS" do então Cten. Nunes da Silva (Imagem cedida por Almirante Nunes da Silva)

           A partir de 1955 até Novembro de 1964, no âmbito da cooperação técnico-militar da NATO, são habilitados com cursos de inactivação de engenhos explosivos, os primeiros Mergulhadores Sapadores da era moderna: 15 militares entre Oficiais subalternos, Sargentos e Praças distribuídos por cinco cursos (1955; 1957; 1959; 2 x 1964), sendo a 1.º parte da cooperação "Clearance Diving" (16 semanas) ministrada em Escolas de Mergulhadores da Marinha Real Britânica: "HMS Defiance Diving School" em Plymouth ou "HMS Vernon Diving School" em Portsmouth, esta última instalada a bordo de um antigo Navio de Apoio alemão da 2.ª Guerra Mundial, rebaptizado de "HMS Deepwater".

Curso "Clearance Diving" de 1957 na Escolas de Mergulhadores da Marinha Real Britânica: "HMS Defiance Diving School" em Plymouth  (Foto cedida por Cte. Oliveira Simões)


























Curso "Clearance Diving" de 1959 na Escolas de Mergulhadores da Marinha Real Britânica: "HMS Defiance Diving School" em Plymouth. O 2.º militar à esquerda é o Cte. Alpoim Calvão  (Foto cedida por Sarg. US Ferreira Marques)
























Certificado do curso "Clearance Diving" do então Marinheiro Ferreira Marques (Imagem cedida por Sarg. Ferreira Marques)


Curso "Clearance Diving" de 1964 na Escolas de Mergulhadores da Marinha Real Britânica: "HMS Defiance Diving School" em Plymouth (Foto cedida por Cte. Canelas Cardoso)


























Certificado do curso "Clearance Diving" do então Tenente Canelas Cardoso (Imagem cedida por Cte. Canelas Cardoso)


"HMS Deepwater" da Marinha Real Britânica



























Mergulhadores portugueses e Instrutor inglês a bordo do "HMS Deepwater" em 1959 (Foto cedida por Sarg. US Ferreira Marques)

           Neste curso era instruído natação de superfície e submersa, manejo de equipamentos de oxigénio, mistura e de ar comprimido, recuperação de minas marítimas, fisiologia do mergulho, sabotagem submarina, procedimentos em campos de minas marítimas, técnicas de busca de querena de minas-lapa, identificação e inactivação de minas marítimas, demolições, manutenção de equipamentos de mergulho, limpeza de obstáculos em praias para desembarques e técnicas salvação marítima.
           A 2.ª parte da cooperação "Explosive Ordnance Disposal" (08 semanas) era ministrada em Escolas de Engenharia do Exército britânico "Royal Engineers Corps" em Horsham "Bomb Disposal School" e Rochester.






Curso "Explosive Ordnance Disposal" de 1957 na Escola de Engenharia do Exército britânico "Bomb Disposal School" em Horsham (Foto cedida por Cte. Oliveira Simões)























Certificado do curso "Explosive Ordnance Disposal" do então Tenente Canelas Cardoso (Imagem cedida por Cte. Canelas Cardoso)

         É de destacar que após a conclusão da parte teórica do curso "Clearance Diving", de modo a aplicar os conhecimentos adquiridos, os formandos eram integrados nas equipas de desactivação "Bomb and Mine Disposal Teams" britânicas, procedendo à inactivação de bombas e minas marítimas empregues na 2.ª Guerra Mundial, que frequentemente davam à costa, alertados pelas autoridades ou pela entidade civil "Mine Watching Organization".
























Equipa de desactivação "Bomb and Mine Disposal Teams" a proceder a inactivação de uma mina marítima anti-submarino de fundear VICKERS. Os 02 militares à esquerda são portugueses (Foto cedida por Cte. Canelas Cardoso)

           Paralelamente no mesmo período temporal, começa de modo gradual a cair em desuso a utilização dos escafandros clássicos, em prol de aparelhos de mergulho autónomo não-magnéticos:
- "CDBA" (Clearance Diving Breathing Apparatus) adquirido à Marinha Real Britânica e conhecido entre os Mergulhadores da Armada por «Corvo», com capacidade de circuito fechado com 100% de O² respirável (10 metros / sabotagem submarina) e capacidade de circuito fechado com mistura de 60% de O² e 40% de N² ou 40% de O² e 60% de N² (diversas profundidades / inactivação de minas);


Visita do então Presidente da República Almirante Américo Thomaz à Escola de Mergulhadores, podendo se observar elementos com o equipamento de mergulho CDBA "Corvo" (Foto cedida por Sarg. US Ferreira Marques)

































Mergulhador com o equipamento de mergulho CDBA "Corvo" (Foto cedida por Sarg. US Ferreira Marques)

- "OXYMAX" do tipo "CDBA" de circuito fechado com 100% de O² respirável (10 metros / sabotagem submarina), também adquirido à Marinha Real Britânica;


















Equipamento de mergulho "OXYMAX" (Foto Blogue Barco à vista)

- "Dräger FGT1/P" de fabrico alemão, com capacidade de circuito fechado com 100% de O² respirável e capacidade de circuito semi-fechado com mistura de 60% de O² e 40% de N², 40% de O² e 60% de N² ou 32,5% de O² e 67,5% de N² (54 metros / 03 horas de autonomia / inactivação de minas de influência magnética, acústica ou de pressão).





























Equipamento de mergulho "Dräger FGT1/P" (Foto Blogue Barco à vista)







































 



Equipamento de mergulho "Dräger FGT1/P" (Foto cedida por Cte. Magalhães Cruzeiro)

           Em 1956 entram ao serviço da Armada aparelhos de mergulho autónomo de circuito aberto, do tipo "COUSTEAU - GAGNAN" e de mergulho semi-autónomo de circuito aberto, do tipo "NARGUILLÉ".
           Observando o disposto no Decreto n.º 41 646 de 24 de Maio de 1958, é criado na dependência da Direcção e Serviço de Submersíveis um Serviço de Mergulhadores e de Salvação, destinado a preparação de Oficiais, Sargentos e Praças para o mergulho, à selecção de pessoal a instruir e à inspecção de todo o equipamento de mergulho da Armada.
           Pelo Decreto-lei n.º 42 045 de 23 de Dezembro de 1958 é criada a subclasse de Mergulhadores compreendida na classe de Serviços Gerais.
           Pela Portaria n.º 17 045 de 21 de Fevereiro de 1959 são afixados os quantitativos.
           Em Fevereiro de 1959 é implementado um novo Regulamento do Serviço de Mergulhadores [Portaria n.º 17 045 de 21 de Fevereiro de 1959], que cria as diferentes categorias de Mergulhadores:
- Mergulhadores-Sapadores (para salvação marítima, sabotagem e IEE - inactivação de engenhos explosivos);
- Mergulhadores-Normais (para integração dos oriundos do escafandro clássico);
- Mergulhadores-Vigias (para realizar a buscas de querena e trabalhos simples de manutenção em unidades navais).
           A Portaria n.º 17 170 de 5 de Maio de 1959 e Portaria n.º 17 725 de 12 de Maio de 1960, regulam as condições em que os actuais Mergulhadores da Armada podem ingressar na subclasse.

Artigos relacionados com a década de 50 e os Mergulhadores:

01/04/17

KITS NOGUEIRA PINTO ESTÃO DE VOLTA … E COM NOVIDADES!

           No âmbito da redacção de um livro sobre as viaturas anfíbias dos Fuzileiros (LVT-4 / Chaimite / LARC-V), “odisseia” já com alguns anos…, fui sendo presenteado com diversos assuntos que me despertaram interesse por estarem relacionados com as viaturas em apreço.
           Acrescido do propósito de que o livro sirva também de apoio a projectos de modelismo, principalmente aguçando a imaginação para a construção de dioramas, aconselhei-me com amigos modelistas.
           Foi assim que mediante o meu amigo modelista Eng. Álvaro de Melo (antigo Oficial Subalterno Fuzileiro Naval da Reserva Marítima de 1968) que tive conhecimento que no final da década de 90 existiu um kit na escala 1/35 de fabrico nacional e edição particular da Chaimite V-200 4x4 da BRAVIA pela NP MODELS.
           Tive o prazer de observar detalhadamente um Kit deste montado por este modelista, durante uma Exposição de Modelismo (I MODELFUZOS) que decorreu durante o "Dia do Fuzileiro 2015" na Escola de Fuzileiros. Exposição coordenada pelo CCF, Comando da EFZ’s e pela Associação de FZ’s, contando com um inestimável contributo e apoio organizacional da Associação de Modelismo de Almada.
           No caso tratava-se de uma versão apetrechada de um ligeiro “scratchbuilding”, representando a famosa Chaimite V-200 4x4 AP-19-34 “ARMADA 90” dos Fuzileiros, cuja principal alteração ao modelo original consistia na instalação dos tubos de LFG de 90mm na torre.

Chaimite V-200 AP-19-34 dos Fuzileiros (kit da NP Models montado por Eng. Álvaro de Melo). 

           Desde então, tenho mantido contacto com o autor deste kit de resina - o Major Nogueira Pinto, modelista e Oficial do Serviço de Material do Exército Português.
           O Major Nogueira Pinto, não foge à regra e, tal como muitos modelistas por todo o mundo começou a dedicar-se apaixonadamente ao modelismo na adolescência, no seu caso mais concretamente aos 13 anos de idade.
           Principiou-se com a construção de aeronaves de asa fixa na escala 1/72, nomeadamente das marcas Airfix e Matchbox, mais tarde debruçou-se sobre as viaturas da 2.ª Guerra Mundial da escala 1/76 da marca Hazegawa, por último, já nos inícios dos anos 80 começou a montar modelos à escala 1/35 da Tamiya, Italeri e outras marcas.
           Foi exactamente neste período que de forma germinada evolucionou para uma dedicação especial ao tema “Exército Português”, montando, na medida do possível, modelos existentes nas marcas de kits que permitissem replicar os meios utilizados neste ramo das FA’s Portuguesas.
           Posteriormente, já no final dos anos 90, optou por testar as suas habilidades modelísticas e construir por sua conta alguns kits de modelismo em resina, recorrendo a moldes de silicone, em virtude de não se encontrem disponíveis no mercado e por inerência adaptar para representar viaturas das FA’s Portuguesas.
           A título de exemplo é sobejamente conhecido entre os modelistas que não existe um kit da Chaimite V-200 4x4 de fabrico nacional da BRAVIA, obrigando a um verdadeiro e complexo trabalho de “scratchbuilding” para conceber uma destas viaturas utilizando por regra um kit de uma viatura V-100, V-150 ou M706. 
           É neste berço de empreendedorismo que nasce a NP MODELS, estreando-se com um kit na escala 1/35 da VBTP - Viatura Blindada de Transporte de Pessoal sobre rodas Chaimite V-200 4x4, fabricando cerca de 30 exemplares que rapidamente esgotou, sendo adquirida entre amigos modelistas para as suas colecções particulares.
           Mais recentemente, na mesma escala, produziu uma Viatura Blindada de Transporte de Pessoal sobre rodas de fabrico francês, tendo a particularidade de apenas ter sido adquirido por Portugal num total de 28 exemplares - a TP 14 Panhard ETT 8x8.
           Actualmente está a ultimar os trabalhos de montagem em kit relacionados com a Viatura Auto-Tanque de água de fabrico Norte-americano Kelly Springfield K-50 de 1915, adquirida pelo Exército Português em 1916 e, utilizado pelo CEP - Corpo Expedicionário Português a partir de 1917 na sua participação da 1.ª Grande Guerra (1914 - 1918).
           Os kits da Chaimite e da Panhard são dotados de um folheto de instrução de montagem e formados por uma peça base - o casco e várias peças acessórias, as respectivas torres tem a mais-valia de permitirem o modelista optar por manter a escotilha aberta ou fechada.
           Por sua vez, o kit da Kelly Springfield permite o modelista optar por recurso ao “scratchbuilding” a nível do chassis montar noutras versões (não incluídas):
- Transporte de carga com capota;
- Corpo de Marinheiros da Marinha Portuguesa apetrechado com uma metralhadora-ligeira do tipo Hotchkiss Modelo 1900;
- Auto-bomba tanque de água do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa.
           Estes 03 kits estarão brevemente disponíveis para venda, mediante encomenda directamente ao seu fabricante – ModelismoNP: modelismonp@gmail.com
           Na senda de continuar a pautar-se pela originalidade, futuramente outros modelos de kits de meios utilizados pelas FA’s Portuguesas serão publicitados, de momento encontram-se num estágio de experiência.