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05/04/24

LANÇAMENTO DA 2.ª EDIÇÃO DO LIVRO: "O MISTÉRIO DO ANGOCHE".

     Seguindo o sucesso da 1.ª edição de 2020 (1500 exemplares vendidos), vai decorrer no próximo Domingo, dia 07 de Abril de 2024, às 16H00 na FNAC do Centro Comercial Vasco da Gama - Lisboa, o lançamento da 2.ª edição do livro de Paulo Oliveira: "O Mistério do Angoche", seguido da respectiva apresentação e debate, com entrada livre.

- Informações adicionais sobre a 1.ª edição do livro em apreço e respectivo autor:

12/06/23

ACTUALIZAÇÃO DO ARTIGO SOBRE A LDM 404 "CHIPA" (13 ANOS DEPOIS)!

         A grande maioria dos artigos publicados neste blogue ou revistas com quem colaboro, são idealizados por iniciativa minha, outros têm origem no incentivo de pessoal da Marinha.
     Existe, porém, também o caso de serem artigos proveniente de assuntos que me despertaram interesse no contacto com pessoal militar, foi assim que 2010 foi publicado um artigo relativo à História da LDM 404 "CHIPA". Anteriormente, 2009 o Almirante Botelho Leal felicitou-me por email a publicação de um artigo sobre as LDM, na qual e cito:
- "…O que dedica às Lanchas de Desembarque tocou-me particularmente pois fez-me recordar travessias do Lago Niassa a caminho da Chipoka (Malawi). Viviam-se nessas viagens momentos únicos, quer por algum pitoresco de que se revestiam, quer pela importância indiscutível que elas tinham para o abastecimento das restantes unidades navais…".
        Resposta esta que logo me despertou curiosidade e pedi mais informações sobre o assunto ao estimado Almirante em apreço, sendo-me assim dado a conhecer a “CHIPA”!
        Como já na época possuía contacto com um vasto n.º de pessoal da Marinha, inclusive pessoal que cumpriu Comissões de Serviço na Base Naval de Metangula, junto ao Lago Niassa em Moçambique durante a Guerra do Ultramar, de imediato encetei mais pedidos de informações a todo o pessoal que tinha conhecimento que esteve por lá destacado.
        Além disto, o próprio Almirante teve a iniciativa de me colocar em contacto com outros camaradas que navegaram na “CHIPA”, assim como recorri ao Eng. Lema Santos, antigo Oficial da Reserva Naval, possuidor de um enorme acervo documental e grande conhecedor de tudo que diz respeito aos Oficiais da Reserva Naval e História da Marinha em geral.
        Deste modo, foram reunidos diversos testemunhos e alguns documentos para redação do artigo sobre a “CHIPA”, igualmente obteve-se algumas fotos, não obstante nenhuma era verdadeiramente ilustrativa ou permitia apresentar a embarcação de forma mais panorâmica na sua totalidade.
        Situação esta que apesar de não ter condicionado a publicação do artigo, mantive sempre a esperança de algum dia conseguir obter uma foto que exiba a LDM em apreço com melhor ângulo, ou a todo o comprimento e respectivas características peculiares.
        Em Março deste ano, após uma troca de email’s com 02 Oficiais do Curso de Escola Naval de 1959: Cte. Oliveira e Costa e Cte. José Pereira da Silva, este último colocou-me em contacto com seu amigo e antigo camarada - Eng. José V. Machado, antigo Oficial da Reserva Naval que exerceu o comando da LDM 404 “CHIPA” nas missões ao Malawi entre 1969 e 1971.
        Assim, para além de ter obtido mais um testemunho e informações, 13 anos volvidos da publicação do artigo sobre a “CHIPA”, para grande surpresa e alegria minha, este antigo Oficial da Marinha cedeu-me gentilmente uma foto que tem de recordação da sua passagem pela Briosa no âmbito do SMO, ao comando da sua “CHIPA”, com a mais-valia de ter sido registada a cores!
        Mais recentemente, o antigo Marinheiro CM Carlos Mota, conhecido por possuir um mini Museu da Marinha com quase 700 peças no seu próprio domicílio, colocou-me em contacto com o seu “filho da escola”: Luís Peguicha - Marinheiro CM 1256/65, que fez parte da guarnição da “CHIPA" e que por via do seu filho gentilmente cedeu-me um documento testemunhal e fotos interessantes.
        Foi também introduzido no artigo 02 fotos do SCH C US Lopes Ribeiro, na época Praça Telegrafista que também efectuou algumas viagens ao Malawi.
       Agradeço estas novas colaborações e igualmente a todo o pessoal que anteriormente apoiaram na compilação de dados e fotos para este artigo sobre a "história" deste pequeno grande navio de guerra!

Artigo actualizado sobre a LDM 404 "CHIPA":

04/11/20

PROMOÇÃO DE LIVRO: "O MISTÉRIO DO ANGOCHE"


 
         Quem se recordará ainda? Perfazem-se 50 anos em 23 de Abril de 2021. Que ”segredo de estado” informal será esse que lançou um véu de ocultação e desinformação sobre os factos ocorridos com o “navio-fantasma” português, toda a tripulação desaparecida até hoje, sem mortos ou despojos registados?
O livro vem levantar essa capa.

“O Mistério do Angoche”
          A crónica de uma investigação. Quem em Portugal planeou, executou, e ocultou a autoria do ataque terrorista ao navio Angoche nas costas de Moçambique em 1971?
O presente livro propõe-se desvendar o enigma.

Outros mistérios correm neste Portugal contemporâneo a par do “caso Angoche”:
- AGINTER-PRESS - a “outra PIDE” - agência de espionagem e de mercenários vertente portuguesa da Operação Gládio “filha” da NATO e da CIA.
- O enigmático Mr. HERBERT LESTER - agente secreto e conselheiro de Salazar.
- A rede de JORGE JARDIM - o “Lawrence d’ África”.
- “Conde de Pavullo” - o patriarca ZOIO - e uma teia lusa de “mercadores da morte”.

Moçambique, 23 de Abril de 1971, sexta-feira à noite.
          O navio português Angoche é atacado, incendiado. Por quem? Os ocupantes, 23 elementos da tripulação e um passageiro, desapareceram todos.
O Angoche está deserto.
          Dois dias depois, ao entardecer de domingo, 25 de Abril de 1971, uma mulher portuguesa de um bar de alterne é “suicidada”, atirada do 5º andar de um prédio da cidade da Beira, o “Miramortos”. Um mistério ligará os dois casos?
Nunca apareceu nenhum dos homens do Angoche, vivos, mortos, ou quaisquer despojos.

Um x-files, autênticos “ficheiros secretos” à portuguesa. Sabemos agora quem são os responsáveis e vamos apontá-los!

Pré-lançamento / venda com envio pelos CTT ou em mão e, em breve, nas livrarias:
Pelos CTT: Transferência de 25,00€ euros para o NIB: 0018 0003 3249 2209 0204 5 e mandar comprovativo para o mail: paulo@pauloliveira.com
Envie nome, endereço e indique o NIF caso pretenda factura.
Nota: apenas enviamos pelos CTT para território nacional.

O Autor:
          Nascido em Lisboa em Setembro de 1959, fui com a família para Moçambique em Agosto de 1960, residi em Lourenço Marques (Maputo) até Setembro de 1979.
          Praticante e instrutor de paraquedismo com licença de queda-livre no Aeroclube de Moçambique em 1978/1979, cursei Engenharia Electrotécnica na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Regressei a Lisboa em Setembro de 1979.
          Vivi na África do Sul em 1983 e 1984 sendo ao tempo correspondente de vários jornais portugueses.
Jornalismo e Publicidade foram áreas em que me envolvi também em Lisboa de 1982 a 1987. Realizei diversos trabalhos na área de informática desde 1991 até ao presente.
          Desenvolvendo o que começou por ser um hobby, formei a “Portugal Wild Trail” - entidade de animação turística / Turismo de Natureza - com organização de eventos em Sintra, Cascais, Oeiras, Mafra, Lisboa e Alenquer - passeios, caminhadas, foto-safaris e provas de degustação de vinhos e produtos locais.
          Colaboração com projectos Google: Guia Local / Google Local Guide - Level 10 (nível de topo), e Google Street View Pro Trusted - Certificado de Fotógrafo Fidedigno.

A Obra
Publicou: 
Dossier Makwákwa - Renamo: uma descida ao coração das trevas
Mak - Operação D7 (em preparação / já publicado em formato electrónico)
O Mistério do Angoche
Após o “Coração das Trevas”: 1991 / 1997 Deambulações e apontamentos de viagem (em preparação).

20/03/17

LEITURAS À VISTA N.º 11

          Para a 11.ª “LEITURA À VISTA”, recomendo o livro: "Fuzileiros em África - Comissão em Moçambique 1964-1966", redigido pelo Cte. Maxfredo Ventura Costa Campos, edição de autor.






































          Este livro para além de ser dedicado à Comissão de serviço que o autor efectuou no Comando do DFE - Destacamento de Fuzileiros Especias n.º 1, entre 1964 e 1966 em Moçambique, apresenta uma grande acervo de relatórios de operações desta Unidade de Fuzileiros, que ocupa metade do livro.
          Aborda ainda num contexto político-militar a Guerra Colonial; a Marinha Portuguesa em África; o Teatro de Operações em Moçambique; os erros praticados na guerra a nível de Comandos; a recriação dos Fuzileiros, o recrutamento de efectivos e constituição de Unidades de Fuzileiros, a especialidade de Fuzileiros Especiais e a criação da sua Escola de no qual o autor esteve directamente relacionado!

15/09/16

NAVIO DE APOIO LOGÍSTICO “SÃO MIGUEL” / 2.ª PARTE

A 1.ª GUARNIÇÃO DO NAVIO

1985
 
PRIMEIROS DIAS A BORDO:

          A guarnição do navio nos seus primeiros dias era somente constituída por 09 militares: Comandante (CFR), Imediato (Cten), Engenheiro EMQ (1.º Ten), Mestre (2.º SARG), 02 Sargentos e 01 Praça de máquinas e 02 Praças de manobra, padecendo da falta de energia, água e defensas que prejudicavam as condições de vida a bordo, sendo de salientar que o 1.º Ten EMQ fez parte das três guarnições do navio.
          A 11 de Novembro de 1985 decorre a apresentação da guarnição ao Cte. e, a 13 do mesmo mês é iniciada a descarbonização do gerador que se encontrava inoperacional. A 23 de Janeiro de 1986 é pintado o nome do navio e a 17 de Fevereiro o Cte. toma Posse do Comando do navio na tolda.

O navio com o nome atribuído (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
          Com o escopo de colmatar os problemas o Comandante todos os dias deslocava-se até Unidades, Departamentos e Serviços, procurando obter apoio para a recuperação do navio, alcançando reduzidos empréstimos junto de camaradas, a título particular ou mesmo de modo clandestino.
          De salientar a título de curiosidade, que com o desiderato de encontrar uma solução para o problema da falta de defensas, o Mestre após solicitação do Comandante para resolução do dilema, adquiriu por sua iniciativa e custo (100$ Escudos) um enorme pneu de camião numa Bomba de Gasolina, que muito contribuiu para a moral da pequena guarnição, juntamente com recepção de energia de terra.
          Entretanto melhorou-se o aparelho dos paus de carga e os circuitos hidráulicos, conseguindo-se que os paus aceitassem alguma carga mas sem confiança devido aos derrames do óleo e à degradação do material.
          Mais tarde, foram trazidas para bordo pelo Comandante, Mestre e 02 Marinheiros duas grandes defensas constituídas por um tronco ferrado com dois pneus e amarretas de suspensão, recuperadas de um monte de material diverso e abandonado no cais, substituindo a defensa do Mestre que entretanto foi guardada no Porão (n.º 3) do Comandante.

PRIMEIRA SAÍDA EXPERIMENTAL:

          A 12 de Março de 1986 decorre o 1º almoço a bordo (caldo verde e bacalhau cozido), a meio da tarde do dia seguinte, ainda com as cores da CNN (à excepção da chaminé), zarpou para a sua 1.º saída experimental no Mar, navegando para Sul a caminho do Porto de Portimão.

O "São Miguel" ainda com as cores da CNN (Foto cedida por Luís Miguel Correia)

          De realçar que:
- No dia anterior teve um problema com a máquina em frente à Torre de Belém, optando por fundear no Dafundo, onde recebeu peças do Arsenal do Alfeite para proceder à recuperação do material avariado;
- A guarnição (28 militares) ainda não tinha efectuado nenhum treino de carga, exercícios, nem tinha formação de estiva e transporte;
- O Oficial (CFR) destacado para exercer o Comando do navio não estava habilitado com o Curso de Comandante do CITAN;
- Em termos de autonomia estava abastecido para 08 dias (diesel / nafta / água doce / alimentos), o remanescente (luvas de cabedal, capotes, tintas, papel higiénico, tintas, lanternas, binóculos, defensas, etc) foi cedido a título de empréstimo por camaradas de Corvetas, Fragatas e unidades terrestres a pedido do Comandante, Oficiais e Sargentos do “São Miguel”, em virtude da anterior tripulação civil do “Cabo Verde” ter removido tudo, tendo inclusivo desmantelado o quadro de manobra da máquina e retirado os manuais do navio, deixando somente alguns manuscritos em sueco, sem esquemas ou figuras;
- Na noite do dia 13 de Março de 1986, quando navegava na Latitude de Sines teve uma avaria no gerador ficando sem energia, existindo uma única lanterna a bordo, guardada na Ponte de Comando;
- Somente tinha a chaminé do navio pintada com a cor cinzenta da Armada (devido a não haver tinta para mais), contrastando com as restantes cores do navio utilizadas pela antiga CNN, ficando só mais tarde completamente pintado com as cores da Armada na Ilha de São Vicente - Cabo Verde, onde se procedeu à pintura de parte dos paus de carga e Pau Real;

O "São Miguel" ainda com os paus de carga e pau real pintados com as cores da CNN (Foto cedida pelo SIRP do GABCEMA)
 
- Atracou no Porto de Portimão no dia 19 de Março de 1986, sem auxílio de rebocador, rodando no Rio Arade frente ao cais, tendo-se registado na leitura do tubo da sonda esta “veio molhada” com água doce, devido à parte superior do tanque da aguada estar enfraquecida e ter furado.
          Durante esta 1.º saída experimental, o navio atracou no cais do PANTROIA no dia 13 de Março e, no dia seguinte facultou boleia até Lagos - Algarve a um 1Ten FZ da Reserva Naval que frequentava o último ano do 5.º COF a decorrer na Escola Naval, que se encontrava de momento destacado no PANTROIA como Observador num exercício do então BRD - Batalhão Reforçado de Desembarque.
          Chegado a destino, fundeou ao largo de Lagos e no âmbito do espírito do "botão de âncora" e dos necessários testes a efectuar ao material a bordo, a baleeira motorizada foi arriada para transportar o Oficial Subalterno FZ uniformizado a rigor (Boina azul-ferrete dos FZ's, fato de camuflado, bota de combate e mochila militar às costas) até ao cais da cidade por forma a reunir-se à sua família que se encontrava de férias na localidade.
          No que concerne a combustíveis, o navio tinha capacidade para 347,7 toneladas, utilizando nafta para navegação corrida e sem alterações sensíveis de velocidade, atingindo 14,5 nós de velocidade máxima e 12 nós em velocidade de cruzeiro; utilizando diesel podia alterar a velocidade e fazer manobras diversas, atingindo 12 nós de velocidade máxima e 11 nós em velocidade de cruzeiro.

1986

          Em Abril de 1986, atracou pela 1.ª vez no Porto de Leixões (Doca n.º 1), ainda durante o mesmo ano efectuou diversas missões de transporte.
          Em Maio participa no "Dia da Marinha" na Madeira transportando diverso material da Marinha e do Exército Português:
- Equipamento de comunicações, viaturas militares [viaturas ligeiras todo-o-terreno, viaturas blindadas e obuses de artilharia], material de guerra;



Jipe todo-o-terreno do Exército Português (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
Viatura blindada de transporte de tropas M-113 do Exército Português (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
Obus de artilharia "Oto Melara" de 105mm do Exército Português (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)

- Material do Instituto de Socorros a Náufragos, da Cruz Vermelha Portuguesa e da UCCLA;
- Produtos alimentares, carga congelada, material diverso de apoio às populações;
- Um cavalo de um Major de Cavalaria do Exército Português de Lisboa para o Funchal, num contentor de madeira em Maio de 1986;
- Uma viatura pesada com contentor itinerante de divulgação da Marinha.

Viatura pesada com contentor itinerante a ser preparada para ser carregada a bordo do navio (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
          Entre 16 e 28 de Junho de 1986, realiza a sua primeira Missão Logística à Ilha da Madeira apoiando Forças Armadas.
          Destaque para 02 lançamentos ao mar de munições obsoletas em Julho de 1986, uma das tarefas para o qual o navio foi destacado pela Armada após aumento ao efectivo, atendendo ao Plano de Forças da Marinha.
          Na 1.ª vez, entre os dias 11 e 13 de Julho de 1986, após ter carregado no Cais do Portinho da Costa 966 toneladas de munições:
- 100 toneladas oriundas da Armada, sendo que 12 toneladas eram material diverso;
- 866 toneladas provenientes da Região Militar de Lisboa (Quartel de Beirolas do Exército Português) compreendendo munições inertes de 75mm de Carros de Combate, granadas de mão, espoletas, munições contendo fósforo e torpedos bengalórios;

Camiões DAF do Exército Português a aguardar a estiva das munições obsoletas transportadas (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
- No lote de munições do Exército Português, estavam também incluídas munições da PSP, GNR, Guarda Fiscal e INDEP;
- O lote do Exército Português foi transportado em comboios de camiões Mercedes e DAF, sendo sempre escoltados durante todo o trajecto, com trânsito condicionado, atravessando a Ponte 25 de Abril entre as 02 e 04 horas da manhã; posteriormente enquanto aguardavam a sua vez de descarregar, estacionados na berma da estrada de acesso ao Cais do Portinho da Costa, eram regularmente regados por viaturas auto-tanques do Exército Português, com o desiderato de evitar explosões por aquecimento térmico;

Camiões do Exército aguardar ordem para entrar no Cais do Portinho da Costa (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
- Durante toda a missão, a guarnição do navio teve ajuda para a faina do lançamento ao mar de 12 Soldados e dum Aspirante como Oficial de ligação do Exército Português;

Militares do Exército Português apoiar na estiva das munições obsoletas (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa) 

- Na fase propriamente de lançamento ao mar das munições, executada de forma manual, verificou-se a ocorrência de alguns rebentamentos submarinos;

Lançamento manual ao mar de munições obsoletas (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
- Apesar de uma Corveta ter sido destacada pelo Comando Naval do Continente para escoltar e prestar apoio ao “São Miguel”, durante o período de lançamento das munições ao mar, nunca chegou a desamarrar do Porto de Leixões, tendo sido notória a sua falta por razões de segurança, atendendo à presença na área de navios de pesca (arrastões) japoneses e de um navio fábrica russo;
- Finda a missão o Comando do Quartel de Beirolas do Exército Português ofereceu ao navio 02 morteiros de 81 mm, colocados na Câmara de Oficiais.
          Na 2.ª vez, efectuou o lançamento ao mar de cerca de 700 toneladas munições obsoletas.


Lançamento ao mar com recurso a pau de carga de munições obsoletas (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa) 

          Entre 21 e 28 de Julho de 1986, participou no Exercício “ALBATROZ 86” na Costa Alentejana, integrado numa Task-Force sob comando do Navio-Reabastecedor A5206 “S. Gabriel”, transportando Fuzileiros que efectuaram um desembarque na Praia do Pinheiro da Cruz e, contribuiu para a avaliação da capacidade dos meios logísticos de apoio a execução de exercícios / operações anfíbias.






































Fuzileiros a efectuar exercícios físicos a bordo do "São Miguel" (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
1987

          De 27 de Março a Junho de 1987, o navio esteve pela primeira vez em docagem e fabricos na Setenave - Setúbal e, em Agosto do mesmo ano é editado a pagela de apresentação do navio pelo EMA para oferecer aos visitantes a bordo.

O navio em fabricos na Setenave (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 




























O Brasão de Armas do "São Miguel" (Imagem cedida por Cte. Brito Subtil)
 
          A 09 de Junho de 1987 apresenta-se ao serviço o Oficial Subalterno 2Ten Médico Naval, no mesmo mês apresenta-se também o Oficial Subalterno da Administração Naval (Chefe do Serviço de Abastecimento). É de realçar que 2Ten Médico Naval, além de assegurar o Serviço de Saúde a bordo, contribuiu com os seus conhecimentos de electrotécnia e de informática, orientando a instalação do sistema de vídeo (cedido pela Corveta “Jacinto Cândido”) e TV (03 televisões a preto e branco, retiradas das Corvetas) instaladas respectivamente na Câmara dos Oficiais, Câmara dos Sargentos e Refeitório das Praças.
          Previamente à partida para a missão de Ajuda Humanitária a Moçambique elaborou no seu computador (ZX SPECTRUM) um programa de estabilidade, com dados facultados pelo Comandante, Imediato, Engenheiro e responsáveis por espaços do navio, sendo de salientar que finda a missão o programa foi cedido ao Comando Naval do Continente, tendo sido melhorado e aplicado às Corvetas.
          Aquando da já citada missão a Moçambique realizou também um filme, onde constam registados os momentos mais gratificantes para a guarnição, tendo sido facultada uma cópia ao Estado-Maior da Armada.

MISSÃO DE AJUDA HUMANITÁRIA A MOÇAMBIQUE:

          Entre 31 de Agosto e 20 de Dezembro de 1987, realizar uma missão de Ajuda Humanitária a Moçambique, com a duração de 111 dias, 1.900 horas de navegação e percorrendo 22 mil milhas, transportando 3.500 toneladas de alimentos, roupa, medicamentos, material escolar, livros, material hospitalar e sementes seleccionadas oferecido pelo Governo Português, Câmara Municipal de Lisboa e Ordem Soberana de Malta.
 
Fase de carregamento de sacos a granel de leite em pó a bordo dos porões do "São Miguel" (1.ª Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa, 2.ª foto por Cte. Brito Subtil)
 
Fase de carregamento de carne de porco a bordo dos porões do "São Miguel" (1.ª Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa, 2.ª foto por Cte. Brito Subtil)
 
          O material começou a ser transportado da Doca da Marinha para o navio a 14 de Agosto, por pessoal do Exército Português sob orientação do então Imediato, tendo a particularidade de o transporte do material até ao cais e da sua estiva a bordo foi braçal.
          O navio zarpou desconhecendo os locais onde a mesma iria ser descarregada, em virtude do plano de descarga só ser decidido aquando da chegada a Maputo, após o governo moçambicano conhecer o conteúdo da oferta e porque além dos Portos de Maputo, Beira e Nacala também incluiria alguns núcleos populacionais ao longo da costa ainda não referenciados.
          Nesta viagem escalou respectivamente o Porto de Lisboa e a 12 de Setembro o Porto MOTBAY (Military Ocean Terminal Bayonne Newark) de New Jersey - EUA, para carregar os porões; realizou escalas técnicas em Horta - Açores, Fortaleza - Brasil e Cape Town e Durban - África do Sul, seguindo aposteriori directamente para Moçambique.

Foto registada por aeronave da Força Aérea da África do Sul (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
          A título de curiosidade, aquando da escala do Porto MOTBAY, a 05 milhas antes de «entrar na rotunda» de “Ambrose Light” o navio contactou via rádio com a Unidade Naval da Guarda Costeira Norte-americana destacada para dar as boas-vindas e escoltar até ao local de atracação, a determinado momento solicitaram que o “S. Miguel” ligasse as luzes do navio dado não o identificarem.
          A situação ocorreu devido ao facto do navio não apresentar a silhueta tradicional de um navio de guerra e, ainda manter pintada a faixa vermelha fosforescente sobre as janelas da ponte a toda a sua largura (esta sinalética é obrigatória somente nos navios da navegação mercante que navegue nos EUA), faixa que só foi retirada aquando da Docagem e Revisão Intermédia, na doca de Rocha de Conde d’ Óbidos, entre finais de 1988 e 26 de Junho de 1989.
          A 27 de Setembro de 1987, decorre a tradição da Briosa “Festa dos Reis dos Mares” com o respectivo julgamento durante a passagem da linha.

Festa dos Reis dos Mares (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)

          Atraca em Moçambique a 28 de Outubro, sendo o 1.º Navio de Guerra da Armada a fazê-lo depois da independência, onde procedeu à descarga em vários locais da costa, utilizando nos que apresentavam mais difícil acesso, 04 lanchas anfíbias LARC-5 guar­necidas por 05 Fuzileiros da UAMA, que transportava a bordo.

"Foto de família" da guarnição do navio com a equipa de 05 Fuzileiros para a missão a Moçambique (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
          De salientar que as LARC-5 chegaram à Doca da Marinha navegando pelos próprios meios, sendo içados para bordo mediante os paus de carga, sendo colocados no convés a vante da meia-nau do navio, mais tarde após reunião com o Imediato e com o Engenheiro foi decidido que no Porto da cidade da Horta procederia à mudança das viaturas para o porão, onde também se verificou o lastro do tanque 3C e atestou-se com 70 toneladas de gasóleo o navio.

O "São Miguel" atracado no Porto da cidade da Horta (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
          Em Moçambique as LARC-5 foram carregadas e arriadas no mar junto à costa, próximo do local indicado pelo Governo Moçambicano, procedendo à entrega do material e permitindo a distribuição directamente às populações que devido a guerra refugiaram-se ao longo da costa, em locais que lhe proporcionavam segurança, algum bem-estar e subsistência, mas isolados e sem acessos rodoviários.
          Durante a estadia do navio em Moçambique, a guarnição teve a oportunidade de visitar alguns locais em Maputo e, o Serviço de Saúde prestou assistência médica e medicamentosa a elementos civis e militares moçambicanos, mas de forma discreta atendendo que não fazia parte dos planos da missão, ao ponto de ter esgotado o material clínico disponível em menos de 03 semanas, dado que as consultas ocorriam de manhã até à noite.

Elementos da guarnição após uma visita a um museu em Maputo (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)
 
          Na viagem de regresso a Portugal, atracou em Ana Chaves - São Tomé e Príncipe, descarregando cimento e material escolar, facultado pela Câmara Municipal de Lisboa, ao abrigo de acordos de cooperação estabelecidos na União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas, fazendo de seguida uma escala técnica em S. Vicente - Cabo Verde.

Fundeado e amarrado de popa a 100 metros da costa de S. Tomé e Príncipe (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)

1988
 
PROJECTO DE TRANSFORMAÇÃO DO NAVIO:

          Em 1988, o Gabinete de Estudos da Direcção-Geral do Material Naval efectuou um projecto que previa o procedimento de fabricos e transformações no navio, a realizar no Arsenal do Alfeite, com o desiderato de dotá-lo também com as seguintes capacidade de transporte logístico:
- Alojamento extra para 120 pessoas / ou uma Força de Fuzileiros de escalão Companhia;
- Transporte de um núcleo de Estado-Maior para operações navais e/ou anfíbias;
- Convés de voo à popa para 01 helicóptero ligeiro;
- Centro clínico com sala de operações.
          Não obstante, o custo destes trabalhos e a idade do navio determinaram o abandono do projecto e, face à sua curta expectativa de vida operacional, voltou a realizar transportes logísticos no designado «Triângulo Estratégico» de Portugal Continental para os Açores e a Madeira.
          Curiosamente, tal projecto não previa a reformulação do sistema de cargas e descargas, nem do sistema de abertura e fecho de três porões, ambos obsoletos.
          Entre os dias 08 e 26 de Março de 1988, realizou uma Missão de Apoio Logístico a Unidades militares Forças Armadas sediadas na Madeira e Açores, transportando carga, viaturas e pessoal, escalando Funchal, Horta, Praia da Vitória e Ponta Delgada.
 
O "São Miguel" atracado no Porto do Funchal - Madeira (Foto cedida por Cte. Oliveira e Costa)

16/06/16

LEITURAS À VISTA - 07

          Para a 7.ª “LEITURA À VISTA”, recomendo o livro: "TRAIÇÃO - O Agente e a Professora", redigido por José Lucena Pinto, edição de autor.

          O livro narra sobre factos ainda hoje controversos de carácter político, militar e social do passado recente da História de Portugal, incutindo sentimentos fortes ao leitor.
           Possui um enredo de leitura fácil e cativante, ombreando com uma história de vida, que espelha o modo de estar na vida do seu autor: "Um só rosto, uma só palavra".
          Os "Grupos de caça" da DGS existiram. Não era mais do que equipas de seis elementos, sendo um deles Agente, os outros elementos Agentes Auxiliares autóctones que, falavam perfeitamente as línguas das zonas onde os "grupos" actuavam.
          As deslocações para as zonas de intervenção eram executadas em jeep Land Rover, algumas vezes integradas em MVL - Movimento Viaturas de Logística. Também por Heli Allouete III ou outros meios.
          Os "Grupos de caça", eram fundamentalmente grupos de recolha de informações, estando muitas vezes oito dias em zonas de alto risco, camufladas dos olhares. Por vezes, havia contactos de fogo em que, tanto da parte do IN-Inimigo como dos "Grupos de caça" havia mortos e feridos. Uma homenagem aqui, ao primeiro mentor desses "Grupos de recolha de Informações " - Orlando Cristina.
         O livro, destina-se a divulgar em tom romanceado, a história da Brigada da DGS-Nampula que, constituía os três "Grupos de caça". Desde o humor de situações caricatas, passando pelo amor de um Agente e uma Professora, a recolha de informações em zonas de 100% de risco e as operações, algumas clandestinas em países limítrofes a Moçambique.
          Os Informadores a quem a DGS recorria, alguns em Embaixadas, foram de inestimável valor. Por fim, o livro aborda a traição política militar de que esses Agentes foram vítimas.

17/09/15

MERGULHADORES DA ARMADA NA GUERRA COLONIAL: TO DE MOÇAMBIQUE

          Durante a Guerra Colonial, no Teatro de Operações de Moçambique, os Mergulhadores da Armada estiveram destacados a nível de Secção no Navio de Apoio Logístico NRP "Sam Brás" e, na Vila de Augusto Cardoso (Base Naval de Metangula).






























Mergulhador-Sapador do Navio de Apoio Logístico NRP "Sam Brás" (Foto cedida por Cabo US Leite Veloso)

Mergulhadores-Sapadores da 1ª Secção destacada na Base Naval de Metangula no Lago Niassa (Foto de 1Ten US Rogério Domingues)
 
          A 21 de Novembro de 1969, foram aumentadas três Praças com especialização em Mergulhador-Sapador à guarnição do Navio de Apoio Logístico NRP "Sam Brás", quando este ainda se encontrava na doca seca de Rocha de Conde de Óbidos, formando a Equipa de Mergulho, chefiada pelo Oficial Chefe dos Serviços Gerais.
          Esta 1ª Secção de Mergulhadores-Sapadores prestou apoio à Capitânia de Porto Amélia e às docas secas da Capitânia do Porto de Lourenço Marques (actual Maputo) e à respectiva frota de rebocadores e dragas do Serviço de Dragagem da Marinha, procediam a missões de salvação marítima e vistoria às obras-vivas de navios mercantes, também efectuavam serviço de mergulho para os Caminhos de Ferro de Moçambique, entidade que geria todos os Portos e Águas que abasteciam as populações do interior.



































3.ª Secção de Mergulhadores-Sapadores do Navio de Apoio Logístico NRP "Sam Brás" em Porto Amélia (Foto cedida por SMOR US Armando Lobato)
 
          Em 1971, dois Mergulhadores-Sapadores deste navio procederam aos trabalhos de demolição (02 horas) das ruínas do Farol Vasconcellos e Sá, junto a Baía de Lourenço Marques (actual Maputo), por recurso a duas cargas dirigidas de 06 kg de dinamite.
          Esta Secção de Mergulhadores-Sapadores do Navio de Apoio Logístico NRP "Sam Brás" foi posteriormente rendida pelo mesmo número de elementos até 1975 (1.ª Secção 1969-1971, 2.ª Secção 1971-1973, 3.ª Secção 1973-1975).
         Ainda para Moçambique, a partir de 1968 foi destacada uma outra Secção de Mergulhadores-Sapadores (01 Sargento US, 01 Cabo US e 01 Marinheiro US) para a Vila de Augusto Cardoso (Base Naval de Metangula), de modo a garantir o apoio ao SAO e às unidades navais atribuídas ao Comando de Esquadrilhas de Lanchas do Lago Niassa (5 LFP, 4 LDM e 3 LDP).






































Mergulhador-Sapador da 1.ª Secção equipado com fato de mergulho seco USD e garrafas de ar comprimido (Foto de 1Ten US Rogério Domingues)

2.ª Secção de Mergulhadores-Sapadores destacada na Base Naval de Metangula equipada com equipamento de mergulho autónomo de circuito fechado CDBA "Corvo" (Foto cedida por SMOR US Lopes Almeida)
 
          Esta unidade de Mergulhadores-Sapadores destacada na Base Naval de Metangula foi seguidamente rendida pelo mesmo número de elementos de dois em dois anos (1.ª Secção 1968-1970, 2.ª Secção 1970-1972, 3.ª Secção 1972-1974).
          Destaque para a 1.ª e 2.ª Secção de Mergulhadores-Sapadores destacadas entre 1968 e 1972 na Base aval de Metangula, que procederam à construção da muralha de pedra solta do cais de atracação das lanchas atribuídas à Esquadrilhas de Lanchas do Lago Niassa.



















Mergulhador-Sapador da 1.ª Secção destacada em Metangula durante uma fase da construção da muralha de pedra solta do cais de atracação (Foto de 1Ten US Rogério Domingues)

Mergulhadores-Sapadores da 1.ª Secção destacada em Metangula a preparar cargas explosivas durante uma fase da construção da muralha de pedra solta do cais de atracação (Foto de 1Ten US Rogério Domingues)

Mergulhadores-Sapadores da 2.ª Secção destacada em Metangula durante os trabalhos de construção da muralha de pedra solta do cais de atracação (Foto de SMOR US Lopes Almeida)

Explosão subaquática de carga explosiva durante fase de construção da muralha de pedra solta do cais de atracação (Foto de SMOR US Lopes Almeida)

02/04/15

HISTÓRIA À VISTA - 38

          HISTÓRIA À VISTA N.º 38, da autoria do SAJ REF de Manobra Bernardino da Silva Torres (248650) de 86 anos, então conhecido por Cabo Silva, primeiro Patrão da LDM 404 “CHIPA”.
          Em Outubro de 1964 fui destacado pelo Comando para a guerra de Moçambique e nomeado como Patrão da Lancha de Desembarque Média LDM 404 para o Lago de Niassa, faziam parte da guarnição desta lancha 01 Cabo, 02 Condutores de Máquinas, 01 Marinheiro Artilheiro e 01 Marinheiro Telegrafista.
         A lancha e a guarnição embarcaram no navio-mercante misto “Beira”, misto porque era de carga e passageiros, ao fim de 28 dias de navegação chegou-se a Lourenço Marques onde desembarcou a guarnição e a referida lancha LDM 404.
         Aqui embarcaram várias entidades para apreciarem a lancha a navegar por vários sítios da Baía de Lourenço Marques, daqui foi a reboque de uma Fragata com destino ao Chinde, depois foi rebocada de novo para a ilha de Moçambique e no Lumbo embarcou com a sua guarnição numa plataforma de comboio que ao longo do percurso demorou a chegar ao Catur 20 dias.
          Ao longo da linha havia várias pontes e como a lancha era mais larga que as referidas, tinha-se que fazer manobras por forma a pô-la mais alta para atravessar as referidas pontes. Durante o percurso foi acompanhada por um Pelotão de soldados para a sua segurança.
          Depois de chegar ao Catur, onde acabava a linha férrea, foi colocada em cima de um camião, no seu percurso em duas curvas muito fechadas a lancha e o camião viraram-se, com muitos sacrifícios foi colocada de modo a prosseguir a sua viagem.
          Ao longo do caminho rebentaram minas que fizeram com que a lancha não prosseguisse, mas com todas as dificuldades lá conseguimos chegar ao Lago Niassa. Foi lançada à água e prossegui a sua viagem até Metangula onde estava o Comando de Defesa Marítima dos Portos do Lago Niassa.
          Ao longo de meses transportou-se Fuzileiros, Companhias do Exército e foram feitas várias missões ao longo da costa do Lago Niassa, por vezes faziam-se com grandes dificuldades pelo motivo de se formarem altas vagas de 4 e 5 metros de altura.
          Mais tarde a lancha LDM 404 foi transformada em lancha de carga, sendo pintada de verde, foi colocada uma cobertura no poço para transporte de gasóleo. A sua guarnição passou de militar para civil, trabalhando para a firma SONAREP, de onde este combustível era transportado do Malawi.
          A guarnição tinha cédulas marítimas, a 1ª viagem de Metangula foi realizada às 10 horas da noite, chegou-se ao destino no Malawi a 01 hora da tarde, logo a chegada estavam muitas pessoas a sua espera, incluindo autoridades fiscais que a revistaram.

03/02/15

O HOVERCRAFT DA MARINHA PORTUGUESA

          Os hovercrafts, também conhecidos como veículos de colchão de ar ou ACV, nas versões civis são utilizados essencialmente para transporte de passageiros e viaturas, nas versões militares para transporte de tropas, viaturas, patrulha, logística e desembarque.
          Apesar de ser um aparelho anfíbio, é mais utilizado na água, pese embora seja capaz de operar sobre terra, lama, areia, gelo, pântano, lodo, bancos de areia, deserto, neve, águas costeiras, rios e lagos.
          Deslizam sobre o terreno ou flutuam sobre a água, sustentados num colchão de ar feito de borracha, designado popularmente por “saia” que lhe permite que se desloque quase em suspensão sobre a água e contra a corrente sem perder velocidade, característica que faz com que seja mais rápido que maioria dos navios, não necessitando nem de tanta potência ou combustível, em virtude da água não oferecer resistência e não ser practicamente afectado pelo movimento das ondas.


















Hovercat a deslizar sobre lama e lodo

          Tipicamente, os hovercrafts têm 02 ou mais motores separados, um dos motores designado de sustentação, serve para accionar o levantamento do aparelho ao absorver ar atmosférico a alta pressão para o interior da “saia”, por recurso a um ventilador (ou rotor) de elevação centrífuga.
          O outro motor que, por regra funciona a uma rotação mais elevada, proporciona a força propulsora para deslocação e direcção desejada, sendo que a direcção é determinada pelo uso de lemes verticais para controlo direcional, instalados por regra atrás da turbina.

          Em Outubro de 1965, Robin Parkhouse projectou e construiu em madeira um protótipo de hovercraft de 05 lugares, baptizando-o de “SCORPION”, sem apoio industrial. Subsequentemente desenvolveu um novo aparelho em Abril de 1967, o “MANX HOVERCAT” construído na Ilha de Man pela empresa Manx Hovercat Ltd.















Imagem do "SCORPION" na revista "flightglobal.com"

















Esquema do "MANX HOVERCRAFT" na revista "flightglobal.com"

          A empresa Hovermarine adquiriu no final do mesmo ano a sua patente, tendo o seu inventor continuado associado a empresa como consultor, posteriormente o aparelho teve as suas linhas externas redesenhadas, controlos melhorados e os seus motores foram substituídos antes de ser colocado para produção em série, dando origem ao “HOVERCAT MkII”.
          O “HOVERCAT MkII Multipurpose Amphibious Hovercraft”, era fabricado pela empresa Hovermarine Ltd, criada em 1965 e situada em Southampton, (actualmente Hovermarine Transport Ltd.), tratava-se de um hovercraft anfíbio leve e multiuso, muito versátil, de 05 lugares (01 conductor + 04 passageiros), combinando baixo custo de operação e facilidade de manutenção.













Publicidade da Hovermarine sobre o Hovercat

          A facilidade de manutenção advém de não requer mecânico especializado dado a maioria dos componentes são de fácil obtenção, tendo tal vantagem tido em linha de conta na sua projecção.
          Este modelo teve a particularidade de apenas 03 exemplares terem sido construídos totalmente entre 1968-1972, com os seguintes n.º de fabrico HC2-001, HC2-002 e o HC2-003.
           O HC2-001 foi usado inicialmente pela Hovermarine para promoção de vendas e demonstrações, posteriormente foi vendido a um particular britânico, esteve à venda no eBay e, actualmente encontra-se em Selsey - Reino Unido em recuperação para o “Hovercraft Museum” situado em Hampshire - Reino Unido.




















Imagem do Hovercat HC2-001 no eBay

          O exemplar HC2-003 antes de ser vendido, ardeu num incêndio ocorrido na fábrica em Fevereiro de 1969, onde se perdeu igualmente mais quatro em vários estágios de construção e os respectivos moldes.
          O n.º HC2-002, segundo a documentação que a Hovermarine e o “Hovercraft Museum” facultaram (a quem também se agradece), estava destinado ao serviço estatal “Inland Water Transport Authority” do Paquistão Oriental (actualmente Bangladesh), mas por motivo desconhecido desistiu da aquisição e tornou-se o Português.
          Como pequeno hovercraft, conseguia operar em climas extremos e a partir de instalações relativamente despreparadas para o receber, fosse em rios, lagos ou zonas costeiras com alterações de marés e áreas de navegação congestionada, devido a sua flutuabilidade hidrodinâmico. A título de exemplo, realizou os seus testes de fábrica, bem-sucedidos, em condições de clima frio na Escandinávia.

















Testes do Hovercat na Escandinávia

          Espaçoso, com bons campos de visão e dotado de excelente capacidade de manobra, especialmente em baixas velocidades, por combinação de lemes e uma entrada de ar montada à proa, apresentava características que cativavam o seu emprego para missões de carácter civil e militar.
          Segundo as brochuras publicitárias, é possível constatar que podia exercer funções de carácter civil, de autoridade policial e missões militares: Patrulha de rio, serviços aduaneiros, operações de guarda costeira, transporte VIP, missões SAR, ambulância anfíbia, trabalhos agrícola, táxi, correio, reconhecimento, apoio logístico com pods externos, embarcação de desembarque.
          No caso de exercer funções de ambulância anfíbia, podia receber equipamento básico de suporte de vida, os bancos traseiros eram removidos, sendo substituídos por macas sobrepostas e, se necessário para proporcionar maior capacidade de transporte de macas, podia ser equipado com mais duas nas laterais do convés, uma de cada bordo em pods externos.

























Macas sobrepostas no Hovercat versão ambulância anfíbia


















Pods externos equipados com macas num Hovercat versão ambulância anfíbia

          O casco era todo construído em fibra de vidro reforçado, material leve e robusto, durável e de fácil manutenção, sendo a sua estrutura de grande rigidez e a cabine internamente era forrada com material retardante ao fogo.
          A estrutura do casco era composta por uma montagem de 02 peças de fibra de vidro reforçada (cabine e convés) e 01 estrutura de liga de alumínio marítimo rebitada que, compreendia o conjunto de 02 lemes verticais e o suporte do motor de propulsão.
          As bordas externas do casco eram unidas ao colchão de ar (sendo este flexível e de fácil substituição das zonas desgastadas ou danificadas), por calhas horizontais aparafusadas que também eram utilizadas para suportar a armação superior da saia, sendo inseridas no casco inferior armações transversais e longitudinais.
          As secções do compartimento de flutuação é dividido por nervuras para localizar a perda de flutuabilidade em caso de danos, sendo que até 02 compartimentos podiam ser rompido sem que o aparelho incorresse em perigo em situação de “água aberta”.
          A caixa dianteira transversal situada entre a antepara da cabine e a proa permitia controlar o impulso lateral (por recurso à entrada de ar), os lemes posicionados atrás do motor de propulsão, facultavam a força necessária para controlo máximo do vórtice da hélice.
          Os 02 lemes eram aerodinamicamente equilibrados através de cabos de tracção, sendo usados em alta velocidade e operados por pedais, 02 alavancas de aceleração independentes situavam-se lado a lado numa consola entre os bancos dianteiros.
          Uma válvula de proa estava equipada para dar o controlo direccional de guinada a baixa velocidade, sendo operado por um braço basculante no painel de cabine, com uma conexão mecânica à válvula do propulsor.





















Hovercat em navegação, note-se a caixa dianteira transversal na proa.

          Equipamentos de controlo e instrumentos básicos de navegação montados na consola central incluíam: conta-rotações, medidor de combustível, medidor de temperatura de cada motor, compasso, anemómetro, interruptor de corte combustível, interruptor de lastro, sensor de fogo, sistema de ventilação e aquecimento.
          A Hélice era de madeira Hoffman com passo fixo (1,98m de diâmetro) e os dois motores do Hovercat MkII eram de automóveis, atingindo a velocidade máxima de 35 nós (64km/h) sobre a água, sem vento contrário:
- 01 Motor de sustentação que accionava o ventilador de elevação (Volkswagen 124A de 46cv a 3.600 rpm, 1.584cc com 4 cilindros, refrigerado a ar), com uma antepara laminada com uma camada de noramite e amianto à prova de fogo entre o motor e o ventilador;
- 01 Motor que fornecia potência de propulsão (Porsche 912 de 90cv a 5.800 rpm, 1.532cc com 4 cilindros, refrigerado a ar) coberto por uma capota de fibra de vidro reforçado, o ar de arrefecimento era introduzido através de um filtro “Knitmesh” que proteger o motor contra a entrada de água salgada.
          O tanque de combustível de alumínio (79 litros de gasolina de 97 octanas), montado sob o ventilador do motor centrífugo de sustentação, tinha uma válvula solenoide e uma antepara à prova de fogo.















Esquema da motorização do Hovercat

          Ao aparelho podia ser montados jerrycans externos, ou receber um tanque de combustível de maior dimensão, por forma a aumentar a autonomia, mas por inerência, diminuía a capacidade de carga. Um extintor portátil era montado num suporte na cabine permitindo canalizar a extinção de fogo no compartimento do motor de sustentação, 01 pequeno extintor adicional encontra-se dentro da cabine.
          Possuía um sistema de lastro longitudinal, com 02 tanques de água doce montados na proa e outro na popa, para permitir que a guarnição corrigida a variação das condições de carga, sendo a transferência feita por duas bombas de accionamento elétrico (uma para cada direcção 5L/min.).
          Tinha 01 bateria de 12 volts, 01 buzina, limpa-vidros (de uma Ford Transit), pára-brisas e óculo traseiro de vidro temperado, 02 portas com puxadores e fechaduras (de um Fiat 600) e borrachas vedantes (01 a bombordo e 01 a estibordo), os seus 02 bancos dianteiros eram individuais e reguláveis, atrás havia 01 banco traseiro de assento e encosto fixo, sendo todos de lona com revestimento à prova d'água.
          Em caso de necessidade, o banco traseiro podia ser removido com facilidade, por forma a toda a sua área acomodar carga, a título de exemplo podia transportar: 02 maca, 02 bidons de gasolina, armas, munições, mantimentos, etc.



















Armas, munições e outros equipamentos no interior do Hovercat

          Para segurança da guarnição e passageiros, disponha de fábrica 05 coletes salva-vidas, kit de primeiros-socorros, âncora e cabos de amarração guardados sob os assentos dos bancos, as áreas de convés normalmente utilizados como passadiços possuíam superfícies antiderrapantes e, se necessário para proporcionar maior capacidade de carga, podia ser apetrechado com duas capsulas nas laterais do convés, uma de cada bordo.
          Para navegação disponha de luzes de presença: 01 vermelha e 01 verde, e uma luz interior de cabine operada a partir do painel de controlo, adicionalmente a pedido do cliente, podia ser apetrechado de radio e radar de navegação.

          O exemplar Português foi adquirido directamente a fábrica em Southamth – Reino Unido, pelo então Oficial de Marinha a exercer funções de Adido Militar Naval da Marinha de Guerra Portuguesa na Embaixada de Londres, em 11 de Janeiro de 1971, pelo valor de 110,900£ libras (com uma hélice de reserva) e, desembarcado em Porto Amélia (Pemba) em Julho de 1972 por um navio-mercante que tinha por destino África do Sul, ficando à responsabilidade do Comando de Defesa Marítima dos Portos da localidade.

















Hovercat no Comando de Defesa Marítima dos Portos de Porto Amélia (Foto cedida pelo SAJ FZE Valter Tavares Raposeiro)

          Anteriormente, a empresa portuguesa representante da fábrica em Portugal (Quimia - Sociedade Técnica Química, Lda), forneceu informações complementares e formalizou um convite ao EMA, datando de 15 de Dezembro de 1970, para que 01 Oficial assistisse a demonstrações, experimentasse e conhecesse dois modelos da Hovermarine - o “HOVERCAT” e o “HM2”, sem encargos e com despesas suportadas pela empresa.
          Anuindo ao convite, é nomeado em Maio de 1972 pelo EMA através do Comando Naval de Moçambique, um Oficial Superior EMQ (na época Cten, actualmente Calm REF), então destacado no Comando de Defesa Marítima dos Portos de Porto Amélia e Chefe de Serviço de Assistência Oficinal, para deslocar-se ao Reino Unido, onde frequentou um estágio, ficou habilitado na prática de navegação do aparelho e redigiu um relatório.
          Como características próprias, possuía uma tonalidade cinza clara, uma escotilha rectangular no tejadilho, os seus bancos eram de napa verde, apresentando descrito no seu convés o n.º de octanas (gasolina de 98) que devia ter o combustível e, ficava sempre estacionado em terra junto do cais do Comando de Defesa Marítima dos Portos de Porto Amélia.
          De salientar que este aparelho, segundo a fábrica podia ser dotado de blindagem ligeira e receber um reparo para armamento (01 metralhadora-ligeira), sobre a escotilha superior, sendo a sua guarnição de 01 piloto e 01 proeiro. O exemplar Português foi somente apetrechado com o reparo para armamento à frente da escotilha superior (o objectivo era montar uma metralhadora-ligeira MG-42 mod.59 de 7,62mm).


















Versão militar do Hovercat equipado com metralhadora-pesada de 12,7mm

          A sua guarnição operava por rotação, tendo recebido formação ministrada pelo então Cten EMQ e um técnico inglês da Hovermarine no Comando de Defesa Marítimo dos Portos de Porto Amélia, de 31/07/1972 a 03/11/1972, sendo composta por 04 Praças FZ's: 02 Marinheiros (pilotos) e 02 Grumetes (proeiros), destacados para o efeito da CF n.º 9 em Comissão de Serviço em Moçambique entre 1972/1974.
          A 03 de Novembro de 1972, o Navio de Apoio Logístico NRP "Sam Brás", atribuído a título permanente ao Comando Naval de Moçambique durante a Guerra Colonial, transportou-o à vante junto a grua de proa, de Porto Amélia para Lourenço Marques (Maputo), sendo no início o destino era Beira / Zambeze, tendo ocorreu durante o transporte um pequeno acidente, devido a grua ter feito um rasgo na saía do aparelho, tendo sido o mesmo reparado a bordo.
          Nunca recebeu n.º de amura (matrícula), indicativo de chamada internacional ou endereço radiotelegráfico e, do que foi possível apurar, foi meramente utilizado até 27/01/1973 ao largo das baías das cidades de Lourenço Marques e Porto Amélia, em demonstrações de capacidades anfíbias para Altos Comandos Militares e Autoridades Civis de Moçambique, sendo que se os seus resultados operacionais fossem considerados satisfatórios, visavam decidir a aquisição de mais exemplares.

















Hovercat no Comando de Defesa Marítima dos Portos de Porto Amélia, note-se a estrutura tubular para suporte do reparo de armamento (Foto cedida pelo SAJ FZE Valter Tavares Raposeiro)

          Posteriormente, por vezes, esporadicamente, foi aproveitado como meio de transporte pelo então Almirante Comandante Naval de Moçambique para realizar funções inspectivas a Unidades subordinadas, quando se encontrava no Comando Naval de Moçambique Recuado (Lourenço Marques) ou quando se deslocava ao Comando Naval Avançado sediado em Nampula (a 200km do mar), sendo que utilizava o aparelho em parte do trajecto até ao Porto de Nacala.
          Durante a Guerra Colonial, no TO de Moçambique os rios de maior importância militar eram o Rovuma e o Zambeze, este último era o 4.º maior rio em África e um dos maiores rios da África Austral.
          Em 1969 foi iniciada no Rio Zambeze a construção da Barragem de Cabora Bassa - Província de Tete, com o desiderato de fornecer energia elétrica em Moçambique, originando um grande albufeira (lago artificial).
          Por inerência tal empreendimento transformou-se num objectivo militar da FRELIMO, sendo quer a barragem quer o seu lago artificial passaram a ser guarnecidos militarmente pela Marinha de Guerra Portuguesa, ramo das FA’s que até 1972 só disponha de um DFE na cidade de Tete e de uma pequena Unidade de FZ’s no Zumbo.
          Deste modo, em 1972 tendo em linha de conta os fracos recursos navais, foi superiormente determinado pelo Comando Naval de Moçambique, a criação do Comando da Defesa Marítima dos Portos do Zambeze (Portaria n.º 210/72 de 17 de Abril), encarregue de negar as vias fluviais utilizadas para infiltrações pela Frelimo e, permitir às FA’s portuguesas utilizar essas vias para transporte de tropas e abastecimentos, em detrimento das rodoviárias, evitando-se desta forma minas e emboscadas.
          A compra destes aparelhos tinha por desiderato substituir ou apenas constituir um complemento à utilização de botes pneumáticos Zebro III, passando a ser empregue pelos Fuzileiros em operações de patrulha, reabastecimento e assalto a objectivos nos Rios Zambeze e Rovuma, dado que estes botes sofriam com frequência grande desgaste das hélices dos motores, devido aos baixios, detritos de madeira e fundos rochosos; acrescido que não ficavam limitados a orla ribeirinha por possuir capacidade para penetrar em profundidade em terra.

















SAJ FZE Valter Tavares Raposeiro, então Marinheiro FZE piloto do Hovercat nos comando do aparelho (Foto cedida pelo SAJ FZE Valter Tavares Raposeiro)

          Assim, a aquisição de Hovercraft’s fazia parte de um “Plano de Segurança” que, advogava a sua utilização a nível de Secções em águas interiores, em complemento de botes pneumáticos, por parte de Fuzileiros destacados nas Bases de Mutarara e Chinde.
          Além da sua velocidade, autonomia e capacidade de transporte, apresentavam a vantagem de facilmente transpor lodo, solo argiloso, gradiente acentuado das superfícies, navegar independentemente da intensidade da corrente e, caso necessário operavam em terra e procederiam à rápida evacuação de baixas.
          Não obstante, atendendo ao facto de não ser dotado de blindagem, nem nunca ter sido apetrechado com uma metralhadora-ligeira, mas principalmente por os seus motores (propulsão e sustentação) produzirem muito barulho e, comprometerem as operações (estava-se numa guerra de guerrilha), determinou-se superiormente que nunca fosse destacado operacionalmente no TO, nomeadamente por motivos de segurança da sua guarnição e passageiros. Tais inconvenientes já se encontravam patentes no relatório de estágio do Cten EMQ quando esteve no Reino Unido.
          Ao largo de Porto Amélia, chegou a sofrer uma avaria grave no motor Porsche de propulsão, fruto de funcionar sempre, por defeito, à máxima rotação, tendo sido trocado em Moçambique por um técnico que se deslocou para o efeito e, cujas despesas e novo motor ficaram a cargo da Hovermarine.

















Motor de propulsão Porsche 912 de 90cv do Hovercat (Foto cedida pelo SAJ FZE Valter Tavares Raposeiro)

          Após regresso a Portugal (pese embora se desconheça uma data correcta, presume-se que ocorreu ainda em finais de 1973, ou em última instância findo o conflito colonial), foi enviado para o Depósito de Inúteis da Direcção do Serviço de Abastecimentos da Marinha, sendo pouco depois abatido ao efectivo da Armada.
          Foi posteriormente adquirido em leilão por particulares que o usaram para lazer, passeios turísticos em Tróia e ocasionalmente para serviços de emergência médica na zona balnear da localidade.
          Pouco mais tarde, foi obtido pelo grupo de empresas Torralta, tendo para o efeito sido pintado com as cores do grupo (laranja e branco) e afecto a “Hotelcar”, sendo utilizado para transportar turistas VIP’s na travessia do Estuário do Sado entre Setúbal e Tróia. Pretendia-se inclusivo utilizar no futuro "Club Hotel de Tróia", hoje "Design Hotel".
          O seu actual proprietário, empresário de Setúbal – Sr. Pedro Nunes adquiriu em 2011 num ferro velho situado no Casal do Marco - Seixal, perto do Rio Sul Shopping, com o intuito de o recuperar, encontrando-se o aparelho em sua posse, sobre o telhado dum prédio urbano na Rua Clube Naval em Setúbal.














Hovercat no ferro velho do Casal do Marco



















Hovercat na Rua Clube Naval em Setúbal

          Apesar de nunca ter participado operacionalmente em operações de combate (somente era guarnecido por Fuzileiros), a par da sua actividade na posse de civis, não deixa de ter o seu devido valor histórico, como 2.º exemplar do seu modelo (HC2-002) e, por usufruir da primazia de ter sido a Unidade Naval singular do seu tipo - hovercraft - que a Marinha de Guerra Portuguesa possuiu.

           A título de curiosidade, é de destacar que:
- Foi igualmente a Hovermarine que fabricou os 04 hovercraft’s do modelo HM.2 MkIII Passenger Sidewall Hovercraft (com propulsão de hydrofoils): "Soltroia", "Torralta", "Troiamar" e "Troiano" da Sociedade Turística Ponta do Adoxe Sarl (grupo de empresas Torralta), que efectuavam durante a década de 70 e 80 do século passado, travessias no Estuário do Sado entre Setúbal, Sesimbra e Tróia.
















O "Torralta" a navegar no Estuário do Sado

- Algumas empresas construtoras navais estrangeiras, tendo tido conhecimento do interesse da Marinha Portuguesa em Hovercraft’s, apresentaram pela mesma época folhetos e catálogos publicitários dos seus produtos, incluindo unidades navais ainda protótipos de hidrofoil’s:
• Protótipo do Hidrofoil Lança-mísseis classe "Pegasus", da empresa norte-americana Boieng, com 01 peça Otomelara de 76mm e 08 mísseis anti-navio Harpoon;
• Hydrofoil Lança-mísseis classe "Sparviero" da empresa italiana Alinavi, com 01 peça Otomelara de 76mm e 02 mísseis anti-navio otomat Mk2;
• Hovercraft tipo AACV Winchester “SRN-5” e “SRN-6”, mais a sua versão militar “BH-7 Wellington” da empresa britânica Saunders-Roe;
• Hovercraft “Hoverhawk” da empresa britânica Hover-air Limited;
• Hovercraft “CC7 Cushioncraft” da empresa britânica British Hovercraft Corporation.

Principais características do HOVERCAT MkII:
- Dimensões: 8.55 x 3.92m x 2.62 metros (comprimento, largura, altura);
- Profundidade do colchão de ar: 0,61cm;
- Peso: 2,500 kg;
- Velocidade máxima: 35 nós;
- Autonomia: 03 horas;
- Combustível: 79 litros (Gasolina);
- Carga máxima: 05 pessoas ou 327kg;
- Guarnição: 02 militares.



















Desenho técnico legendado do Hovercat