(ACTUALIZADO)
Desfile em Ordem Unida do 1.º Curso de Fuzileiros Especiais no Corpo de Marinheiros da Armada (imagem do livro "Fuzileiros - Factos efeitos na Guerra de África" do Cte. FZE Sanches Baêna)
O 1.º Curso de Fuzileiros Especiais realizou-se a 5 de Junho de 1961 e teve a duração de 15 semanas, sendo dividido em duas fases, a 1.ª na data supracitada frequentada por 36 Praças e a 2.ª a 14 de Agosto do mesmo ano frequentada por 42 Praças, participando também 5 Oficiais Subalternos da classe de Marinha (três 1.º Tenentes e dois 2.º Tenentes) e 1 Oficial Subalterno da classe de Administração Naval (2.º Tenente).
A título de curiosidade é de salientar que antes da realização do curso, procedeu-se à montagem apressada de tendas colectivas de campanha cedidas pelo Exército, no campo de futebol para alojar os instruendos e a construção e disposição no terreno dos obstáculos e pistas de treino nas instalações do Corpo de Marinheiros da Armada, efectuados pelos próprios instruendos e sob supervisão dos 4 instrutores que lhes ministraram o curso e anteriormente frequentaram o curso de especialização "Royal Marines Commandos" no Reino Unido.
Em 10 de Novembro de 1961, após concluir a instrução e formação em Portugal, parte para Angola a bordo de um avião Douglas DC6 da FAP, a 1.ª unidade de Fuzileiros, o DFE n.º 1 [Portaria n.º 18 774 de 13 de Outubro de 1961], composta por 04 Oficiais, 04 Sargentos, 19 Marinheiros e 59 Grumetes, todos elementos oriundos do 1.º Curso de Fuzileiro Especial, iniciando a sua comissão de serviço no âmbito das operações de reocupação militar do Norte de Angola.
A 31 de Maio de 1962 desembarca em Luanda - Angola a Companhia de Fuzileiros Navais n.º 1, composta por 07 Oficiais, 09 Sargentos, 9 Cabos, 12 Marinheiros e 106 Grumetes.
1º Pelotão Companhia de Fuzileiros Navais n.º 1 de partida para Angola
Para além dos livros e manuais supracitados no artigo sobre a "FORMAÇÃO EM "ROYAL MARINES COMMANDOS" NO REINO UNIDO", a instrução do 1º Curso de Fuzileiros Especiais e seguintes foi também baseada em livros e manuais de carácter militar de origem nacional:
- Disciplina de Infantaria da Escola Naval;
- Manuais do Exército de Guerra Subversiva ("Operações contra Bandos armados e Guerrilha, Acção Psicológica, Apoio às Autoridades Civis e Administração e Logística");
- Regulamento para a Instrução de Sapadores de Armas;
- Livro "Guerra Revolucionária" do Tcor Hermes de Oliveira.
Em fins de Julho de 1961, por despacho do então Almirante Sub-CEMA Reboredo e Silva, o 1.º Tenente da classe de Marinha Maxfredo da Costa Campos (CMG REF), anteriormente destacado na Escola Naval como Professor, leccionando a disciplina de Infantaria e mentor da 1.ª Pista de Combate da Escola Naval denominada pelos Cadetes de "Maxlândia", é destacado para desempenhar as funções de 1.º Comandante do Batalhão de Instrução do Curso de Fuzileiro, ao mesmo tempo que frequenta o curso, na qualidade de Oficial - aluno e proceder à procura de um local para a implantação da futura Escola de Fuzileiros.
1.ª Pista de Obstáculos e de Combate da Escola Naval "Maxlândia" (imagem cedida pelo Cte. Maxfredo da Costa Campos)
A Escola de Fuzileiros seria criada pela Portaria n.º 18 509 de 3 de Junho de 1961, nas Instalações Navais de Vale do Zebro e subordinada ao G2EA, tratando-se da unidade responsável pela instrução e formação técnico-militar, física, moral e cultural de Fuzileiros Navais e Fuzileiros Especiais.
Parte significativa do equipamento utilizado na instrução dos primeiros Cursos de Fuzileiros Especiais provinha de várias origens:
- Botes pneumáticos da marca ZODIAC adquiridos à África do Sul, posteriormente substituídos por botes da marca AERAZUR de fabrico francês e por último, por razões de Política Internacional, pelo modelo ZEBRO, nas suas versões I, II e III fabricados pela empresa portuguesa de artigos de praia REPIMPA, que reunia as melhores características dos modelos anteriores (casco do ZODIAC e painel de popa do AERAZUR) a pedido do Cte. Maxfredo da Costa Campos;
- Espingardas automáticas ARMALITE AR-10 de 7,62mm adquiridas directamente ao representante do fabricante holândes, posteriormente cedidas às Tropas Pára-quedistas, que adquiriram a mesma arma, mas em lotes de maior quantidade, em troca das primeiras espingardas HK G3 A1 m/961 com coronha e guarda-mão em madeira de fabrico nacional (Fábrica de Braço de Prata).
Espingarda automática ARMALITE AR-10 de 7,62mm
Espingarda automática HK G3 A1 m/961
-Pistolas-metralhadoras FBP de 9mm e espingardas de repetição MAUSER 98K de 7,92mm, facultadas pela Escotaria do Corpo de Marinheiros para instrução e exercícios;
- Lança-chamas MARAÑOZA, LGF INSTALAZA 58-B "BAZOOKA" de 88,9mm e morteiros médios ECIA 81mm adquiridos a um vendedor civil (Sr. José Zoio);
- Granadas de mão, pistolas WALTHER P-38 de 9mm, metralhadoras-ligeiras MG-13 DREYSE de 7,92mm, morteiros ligeiros M2M/52 de 60mm, jipes DODGE (Jipão), camionetas Scania e camiões GMC 6x6 cedidos pelo Serviço de Material do Exército;
- 2 Jipes WILLY's (posteriormente substituídos por LAND ROVER) adquiridos a um stand de automóveis Todo-o-Terreno (Sr. Santos) sito na Avenida da Liberdade.
Quanto aos locais para treino, para além das próprias instalações do Corpo de Marinheiros, foram utilizados a Quinta do Antelmo para exercícios de destreza (Pista de Combate), a vasta área de mata da Base Naval do Alfeite para exercícios tácticos, a Serra da Arrábida para exercícios de campo (Escaladas, Rappel, Orientação, Golpes de mão, Corridas de Fundo, Progressões Nocturnas), Portinho da Arrábida (Natação Nocturna), Pedra da Anicha (Passagem Interior), zona das Matas de Palmela e Rios Tejo e Sado.
Exercícios do 1.º Curso de Fuzileiros Especiais no Corpo de Marinheiros da Armada (imagem do livro "Fuzileiros - Factos efeitos na Guerra de África" do Cte. FZE Sanches Baêna)
A formação ministrado aos instruendos foi evoluindo ao longo dos primeiros Cursos de Fuzileiros, consistindo em aulas teóricas e práticas entendidas necessárias à preparação física, consciência psicológica e força anímica:
- Infantaria de combate;
- Marinharia;
- Preparação física e militar;
- Combate corpo-a-corpo;
- Higiene e primeiros-socorros;
- Comunicações;
- Condução de meios terrestres e aquáticas;
- Sobrevivência na selva;
- Judo e boxe;
- Natação utilitária;
- Orientação;
- Táctica e estratégia;
- Armamento;
- Tiro e manejo de explosivos.
A partir de Junho de 1964, após a frequência de um Curso de Minas e Armadilhas na Escola Prática de Engenharia do Exército pelo Cte. Maxfredo da Costa Campos, alguns Fuzileiros começaram a receber instrução em técnicas de inactivação e minas e armadilhas.
Indiscutível e reconhecido por todas as gerações de Fuzileiros são os valores superiores que sempre nortearam a formação moral e ético-profissional ministrada:
- o espírito de Fuzileiro;
- a camaradagem;
- o cumprimento da missão ao serviço da Nação.
Instruendos do 1.º Curso de Fuzileiros Especiais com a espingarda automática ARMALITE AR-10 de 7,62mm (imagem do livro "Fuzileiros - Factos efeitos na Guerra de África" do Cte. FZE Sanches Baêna)
Observando o disposto no Decreto-lei 43 515 de 24 de Fevereiro de 1961, em Agosto de 1961 é implementado um regulamento [Portaria 18 659 de 12 de Agosto de 1961], no qual é instituída nos quadros da Armada uma nova classe de Sargentos e Praças, a dos Fuzileiros Navais, permitindo aos militares destas categorias o ingresso na classe de Fuzileiro mediante a frequência do curso de Fuzileiro com a duração de 17 semanas ou um curso de conversão, tendo por especializações a de Monitor (FZM) e de Fuzileiro Especial (FZE) [Portaria 18 314 de 13 de Janeiro de 1961].
Atendendo à dupla necessidade de facilitar o acesso à especialização de "Fuzileiro Especial" e utilizar os recursos humanos existentes no seio dos quadros da Marinha de Guerra Portuguesa, pela Proposta n.º 93 de 26 de Maio de 1961 do então Almirante CEMA, é permitido atribuir esta especialização a outras classes da Marinha, mediante a frequência do respectivo curso.
Não obstante, no mesmo ano é criada a especialização de Fuzileiro Especial como formação complementar da Escola Naval, sendo nomeados para frequência do respectivo curso muitos Oficiais subalternos da classe de Marinha, com a finalidade de servir a posteriori como Comandante ou Imediato de um DFE ou CF [Portaria 18 525 de 14 de Junho de 1961].