10/09/09

REEQUIPAMENTO DO CORPO DE FUZILEIROS

          Quase 80% das nações existentes têm fronteiras marítimas ou acesso ao mar e a realidade mundial aponta para a continuação da proliferação de conflitos de índole regional, quer de carácter político-militar, quer envolvendo convulsões de cariz mais humanitário.
          Deste modo, tendo em linha de conta que 70% da população mundial vive em cidades a menos de 100 km de costas marítimas, as Forças Expedicionárias Anfíbias (Fuzileiros) estão claramente talhadas e vocacionadas para responder a este desafio dadas as suas inerentes capacidades de intervenção rápida, potencial de combate, flexibilidade de emprego e sustentação.
          Como é evidente a escolha da arma individual de referência para tais Forças assume especial importância, devendo ser encarada numa perspectiva de longo prazo, mas que tenha em consideração as capacidades evolutivas das suas concorrentes.
          Importa assim salientar que actualmente a principal arma individual que equipa as Forças Armadas Portuguesas, incluindo o Corpo de Fuzileiros, ainda é a espingarda automática HK G3 A4 de 7,62mm com coronha retráctil ou fixa, de fabrico nacional sob licença, adquirida na década de 60 durante a Guerra Colonial, padecendo de certas características (pesada, comprida e de difícil utilização em viaturas e helicópteros) que a tornam desadequada para os cenários actuais ou previsíveis, nomeadamente no que diz respeito ao combate em áreas edificadas (combate urbano).


Espingarda automática HK G3 A4 de 7,62mm com corunha retráctil

          Porém, no actual contexto estratégico este calibre é considerado obsoleto, em virtude do de 5,56mm ter sido adoptado como calibre-padrão das armas individuais das Forças Armadas dos países membros da NATO, com o desiderato principal de permitir a uniformização e facilidades na logística, embora a prestação deste novo calibre em Teatros de Operações como o Iraque e Afeganistão tem dado muito celeuma entre os militares destacados, nomeadamente no que toca ao seu fraco poder de penetração, o que desencadeou a procura de outras soluções que passam pela adopção futura de um outro calibre.
          Desde os anos 80 que as Forças Armadas Portuguesas têm vindo a desenvolver estudos visando a substituição da espingarda G3, em 2001 o Ministério da Defesa Nacional lançou um concurso internacional para aquisição da nova arma ligeira, concurso que viria a ser cancelado na fase de selecção das propostas por imposição dos Tribunais com a decisão sustentada em alegadas incorrecções na definição das características e requisitos a que deveria obedecer a nova arma.
          Mais recentemente, em 2006 foi lançado um novo concurso público sob a égide da DGAED (Direcção-Geral de Armamento e Equipamento de Defesa), aguardando-se de momento os resultados que levaram à selecção da nova arma ligeira, cumprindo os requisitos definidos e que ofereça as melhores contrapartidas comerciais.
          Entretanto, face aos compromissos internacionais assumidos que não se compadecem com unidades militares deficientemente equipadas, ao abrigo da Lei de Programação Militar têm sido adquiridas espingardas automáticas da família HK G-36 de 5,56mm nas quantidades necessárias à intervenção em missões internacionais de forças de elite como:
- DAE do Corpo de Fuzileiros;
- GOE da PSP;
- UPF (ex-RESCOM) da Polícia Aérea;
- Sub-agrupamento Alfa da GNR.


Espingarda automática HK G-36 K de 5,56mm


Espingarda automática HK G36 K de 5,56mm com lança-granadas AG36 de 40mm


Espingarda automática HK G-36 C de 5,56mm


Metralhadora-ligeira HK MG-36 com carregador duplo Beta C-Mag de 100 munições de 5,56mm

          A par da substituição da arma individual e no âmbito da Lei de Programação Militar está a decorrer um programa de reequipamento que inclui equipamento de protecção individual, equipamento de protecção NBQ e 33 VTLB (Viatura Táctica Ligeira com Blindagem) 4x4, este último programa também tutelado pela DGAED.
          Das 260 viaturas blindadas PANDUR II adquiridas pelo Estado Português, apenas 20 estão atribuídas ao programa de reequipamento do Corpo de Fuzileiros, com entrega prevista a partir de Dezembro de 2009, constituindo o futuro PELVBLA - Pelotão de Viaturas Blindadas Ligeiras Anfíbias da CATT (Companhia de Apoio de Transportes Tácticos), desempenhando as seguintes função:
- Transporte de tropas;
- Desembarque anfíbio;
- Escolta;
- Patrulha e reconhecimento;
- Comando e comunicações.
          Além do que foi supracitado como objectivos estabelecidos para a capacidade de projecção de uma Força-Tarefa, no âmbito da revisão da componente operacional do Sistema de Forças Nacional, existe a intenção de:
- Constituir um Pelotão Defesa Anti-Aérea equipado com 8 postos de tiro de mísseis de curto-alcance, unidade que não tem sido uma prioridade e existe somente na documentação estruturante;
- Apetrechar com mais meios a Secção de Engenharia de Praia (adstrita a Base de Fuzileiros).
          Trata-se de unidades que são essenciais na preparação de locais para o desembarque de forças, material logístico e viaturas, numa perspectiva de segurança, de defesa imediata e mobilidade, assim como permitem apoiar na progressão no terreno.

2 comentários:

  1. Espero que o Estado / Governo português tenha a mesma visão que o caro amigo.

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  2. É necessário olhar para os nossos Fuzileiros com outra visão estratégica e mais respeito pelas suas potencialidades. Isso não tem sido feito por quem tem esse dever. É preciso aceitar, que a sua diferença é uma mais-valia para o nosso Pais (à beira mar plantado) que importa aproveitar melhor. Seja em terra ou no mar, é só chamar, que não tardam a chegar.

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