Este artigo foi inicialmente redigido em 2017, poucos meses depois das Comemorações do "Dia da Marinha", a convite pelo então Director da Direcção de Transportes da Marinha, tendo sido publicado parcialmente (por limite de páginas e ilustrações) na Revista da Armada n.º 544 de Setembro de 2019.
Posteriormente foi publicado na íntegra na Revista Desembarque n.º 35 de Março de 2020 da Associação da Fuzileiros.
Optei por publicar também neste blogue o artigo (com algumas actualizações) por forma a ilustrar todas as fotos reunidas das viaturas em apreço, dado que várias não foram publicadas em ambas as revistas citadas devido ao limite de ilustrações. Outro motivo advém do facto de servir mais uma vez de agradecimento e reconhecimento pelo pronto contributo com fotos, dados e testemunhos de vários civis e militares.
A Berliet-Tramagal foi montada entre 1964 e 1974
em Portugal sob licença pela fábrica MDF (Metalúrgica Duarte Ferreira, SARL)
com instalações situadas no Tramagal.
É uma viatura pesada baseada no modelo comercial francês
de 1956 “Gazelle” da Berliet, tendo sido especificamente modificado e
reforçado, originando os modelos da série “GBC KT” para utilização no conflito
da Argélia pelo Exército francês.
Berliet Gazelle (Foto da Internet)
Na sua linha de montagem a MDF construiu ao todo 3.549 viaturas:
- 1.670 exemplares desde 1964 do modelo “GBC 8 KT 4x4”;
- 972 exemplares desde 1966 do modelo “GBC 8 KT 6x6”;
- 907 exemplares desde 1968 do modelo “GBA MT 6x6”.
Foi adoptada como viatura táctica de transporte
de carga e pessoal na Guerra do Ultramar, atendendo às necessidades das FA’s (Forças
Armadas) Portuguesas, nomeadamente do Exército Português e, por forma a
substituir meios motorizados obsoletos nas Unidades em comissão de serviço,
como por exemplo as viaturas pesadas Norte-americanas “GMC” da General Motor do
período da 2.ª Guerra Mundial e, viaturas pesadas civis de mercadorias
militarizadas com simples tracção traseira (Mercedes, Scania e Volvo).
Tem como principais características: ser uma viatura
simples e desprovida de comodidades; de baixo custo de produção e manutenção
fácil de 1.º escalão; possui capacidade Todo-o-Terreno e tracção integral; dispõe
de ângulos de ataque e saída muito elevados atendendo a sua dimensão.
O modelo
Berliet-Tramagal “GBC 8 KT” com tracção 4x4 pesava 5.980 kg e possuía capacidade
para 4 toneladas de carga ou transportar 20 militares totalmente equipados
(mais 01 condutor), dispõe de um motor Berliet M520 de 5 cilindros e 7.900 cc
com 125 cv a 2.100 rpm, velocidade máxima de 82 km/h e autonomia máxima de 800
km.
Berliet-Tramagal GBC 8 KT 4x4 (Foto da Internet)
Em 1966 a MDF apresentou às FA’s Armadas
Portuguesas o modelo “GBC 8 KT” com tracção 6x6 de rodado simples, que já
incorporava 50% de componentes de fabrico nacional, tendo sido bem aceite pelo
Exército Português observando a mais-valia do desempenho Todo-o-Terreno em
relação ao modelo anterior de tracção 4x4.
Pesava 8.370 kg e possuía capacidade para 5
toneladas de carga ou transportar 20 militares totalmente equipados (mais 01
condutor), disponha de um motor Berliet M520 B de 5 cilindros e 7.900 cc com
125 cv a 2.100 rpm, velocidade máxima de 85 km/h e autonomia máxima de 800 km.
Berliet-Tramagal GBC 8 KT 6x6 (Foto da Internet)
Os modelos da série “GBC KT” tinha a famosa particularidade do motor ser policarburante, isso é, mediante um manípulo selector de combustível, trabalhava com gasóleo, gasolina ou outros carburantes como: petróleo refinado, querosene, óleo de motor, água rás, álcool, óleo de fígado de bacalhau, diluente, brilhantina, parafina e óleos vegetais.
Em 1968, com o
intuito de simplificar, aumentar e baratear o processo de produção, o
fabricante nacional concebeu o modelo “GBA MT” com tracção 6x6, com menos peso
e dimensão e ligeiras diferenças exteriores em relação ao modelo “GBC”, fruto
da experiência do comportamento da viatura nos TO’s (Teatro de Operações)
africano.
Pesava 7.150 kg, tinha capacidade para 4,5
toneladas de carga ou transportar 18 militares totalmente equipados (mais 01
condutor), dispõe de um motor Berliet M420/30XP a diesel de 4 cilindros com 135
cv a 2.600 rpm, velocidade máxima de 85 km/h e autonomia máxima de 800 km.
Berliet-Tramagal GBA MT 6x6 dos Fuzileiros (Foto cedida pelo CCF)
As diferenças mais notórias são: tampa do motor (capó)
mais curta e simplificada com ângulos mais direitos; reposição dos faróis
dianteiros; introdução de pequenas modificações no depósito de combustível e
instalação de aberturas laterais do compartimento do motor por forma a facilitar
a ventilação e evitar o sobreaquecimento, atendendo ao clima dos TO’s
africanos.
Ambos os modelos “GBC” e “GBA” eram muito
apreciados pelas tropas portuguesas nas antigas colónias em África pela sua
robustez, força do motor, capacidade de passagem a vau de cursos de água até 1,2
m (GBC) / 1,5 m (GBA) de profundidade graças à estanquicidade do motor e
depósito de combustível, o guincho mecânico que permitia ter saída para a
frente e traseira da viatura, facilitando a resolução de problemas no terreno.
Berliet-Tramagal GBC em 1.º plano e GBA em 2.º plano (Foto de Pedro Monteiro)
A robustez da carroçaria da viatura em aço oferecia
uma certa resistência à deflagração de engenhos explosivos (minas Anti-Pessoal
/ Anti-Carro / fornilhos), que se reflectia na mais-valia de contribuir para a redução
de baixas e respectiva confiança, força anímica e moral das Forças em campanha.
Fruto de apresentar o eixo dianteiro adiantado em
relação à posição do condutor, muitas Berliet-Tramagal foram empregues na
função de “rebenta-minas”, seguindo à frente das colunas motorizadas, sendo apetrechadas
com diversos sacos de areia de modo aumentar o peso da viatura e absorver o
impacto da explosão, tendo por regra como único ocupante o próprio condutor.
Berliet-Tramagal "Rebenta-minas" (Foto da Internet)
No início de 1974, após uma visita do então
CEMGFA General Costa Gomes aos TO’s de Angola e Moçambique, foi convocada para
22 de Fevereiro de 1974 a Comissão Conjunta dos Chefes de Estados-Maiores para
debater os planos de aquisição e orçamentos para 1974 e uma previsão para 1975.
Dessa Comissão foi elaborado um Apontamento onde
ficou previsto que a renovação das viaturas das Unidades de Fuzileiros deveria
processar-se automaticamente e abranger anualmente ¼ da dotação total.
Ficou ainda acordado nesse Apontamento a
possibilidade de substituir as Mercedes por outra mais adequada para as missões,
podendo a solução recair na Berliet-Tramagal, permitindo obter mais-valias no
tocante a logística e manutenção ao se uniformizar com o Exército Português.
A 16 de Maio de 1973 é efectuada uma proposta de
aquisição da viatura táctica pesada “Berliet-Tramagal GBC 8 KT 6x6” à Marinha
Portuguesa pelo seu fabricante nacional - a MDF.
Este modelo de viaturas tácticas foram adquiridas
a 13 de Julho de 1973 e entraram ao serviço da Marinha Portuguesa em pequeno
número (presume-se terem sido somente 5 exemplares) em 28 de Agosto de 1973,
não obstante é de realçar que do que foi possível aturar por recurso a
testemunho de Fuzileiros Veteranos da Guerra do Ultramar, que foram enviadas para
o Comando Naval de Angola e destacadas para Vila Nova da Armada 02 Berliet-Tramagal
“GBC’s”, que findo o conflito regressaram a Portugal.
Berliet-Tramagal GBC 8 KT 6x6 dos Fuzileiros em Vila Nova da Armada - Angola (Foto cedida por SAJ FZE Valter Raposeiro)
Uma dessas “GBC” manteve a função de transporte
de pessoal e chegou a estar destacada na UAMA / UMD, o outro camião (AP-18-14) foi enviada para a própria fábrica MDF (tal como sucedeu a algumas viaturas do
mesmo modelo do Exército Português) para ser modificada para a função de “Pronto-Socorro”,
sendo dotada de grua mecânica "MDF" com capacidade para rebocar uma
viatura sobre-elevada até o máximo de 3500kg e um pirilampo para sinalizar a
marcha-lenta.
É de referir, igualmente, que existiam alguns destes
camiões no Comando Naval de Moçambique, cedidas a título de empréstimo pelo
Exército Português (dispunha mais de 610 exemplares em África), mas que nunca
receberam matrícula da Armada e eram utilizadas para missões logísticas e
administrativas, por vezes apoiavam a movimentação de Unidades de Fuzileiros,
tal ocorreu por exemplo com o DFE - Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 1
(1967 - 1969) em Cabo Delgado no Norte de Moçambique.
Berliet-Tramagal do Exército Português emprestadas aos Fuzileiros em Moçambique (Foto cedida por FZE António Manuel Carvalho)
No que concerne ao
modelo “GBA”, segundo os registos da DT - Direcção de Transportes, a dotação da
Marinha / Fuzileiros era de 12 exemplares e eram consideradas: «viaturas
especiais» para efeitos de Cadastro de Viaturas e, designadas oficialmente em
termos de tipo de material pelas Instruções Técnicas dos Fuzileiros por:
«Viatura Táctica Pesada 6x6 Berliet GBA», entraram ao serviço da Marinha
Portuguesa entre Novembro de 1974 e Junho de 1975, tendo sido adquiridas com
verbas do OFNEU74 / OFNEU75 e destacadas à carga do Batalhão de Fuzileiros n.º
3 (Unidade de manobra), mais concretamente do «GTTT - Grupo de Transportes
Tácticos Terrestres», configurando uma Unidade de Apoio de Combate.
Viaturas do GTTT do BF n.º 3 (Foto cedida por Cabo FZE Liberto Cartó)
De salientar que em 1975 estas viaturas tácticas
pesadas ofereceram aos Fuzileiros flexibilidade e mobilidade operacional num
momento em que transitavam por um processo de adaptação de guerra de guerrilha
para conflitos de cariz mais convencional e, permitiram aumentar a capacidade
de manobra táctica, permitindo o emprego desta força de elite em situações de
maior exigência operacional num largo espectro de exercícios, operações e
actividades militares.
No passado recente da história portuguesa, no
período político-militar denominado por "Verão Quente" de 1975 e anos
que se seguiram, os Fuzileiros participam activamente com as suas 12
Berliet-Tramagal GBA em várias missões de Manutenção da Ordem Pública e,
esporadicamente em Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA (Movimento
das Forças Armadas) de apoio às populações.
Coluna de Berliet-Tramagal dos Fuzileiros em 1975 (Foto cedida por Cabo-Mor FZ Jorge Almeida)
Como viatura de transporte táctico, transportavam
Unidades de Fuzileiros (uma viatura por Pelotão) que se encontravam em estado
de prontidão imediata e atribuídas ao COPCON (Comando Operacional do Continente),
desempenhando um papel determinante como demonstração de força, por vezes
quando era necessário incrementar o grau de resposta, essas missões eram
reforçadas pelas viaturas blindadas Chaimites dos Fuzileiros.
Tais missões tinham por áreas de responsabilidade
e intervenção o Distrito de Setúbal e Concelho de Almada, manter a Ordem
Pública na zona de Almada (incluindo no Arsenal de Alfeite e na Lisnave) e
Trafaria, assim como os designados "Pontos Sensíveis": instalações da
NATO, abastecimento de água, postos de transformação da EDP, fábrica de
munições, fábrica da pólvora, instalações de entidades públicas, etc.
Berliet-Tramagal dos Fuzileiros em missões e exercícios em 1975 (Foto cedida por Cabo-Mor FZ Jorge Almeida)
Neste período político-militar para além das
próprias Berliet-Tramagal os Fuzileiros utilizaram este modelo de camiões
cedidos pelo Exército Português, tal sucedeu a título de exemplo com a Companhia
de Fuzileiros n.º 7, conhecida pela alcunha de "Ralis das Lezírias"
destacada no G1EA - Grupo n.º 1 das Escolas da Armada em Vila Franca de Xira,
quando prestou serviço sob Comando do COPCON, dispondo de duas Berliet GBC
cedidas pelo Exército, assim como uma Unimog dotado de canhão sem recuo de
106mm entre os dias 24 e 26 de Novembro.
Estas viaturas também eram presença assídua em desfiles
militares, exercícios exclusivos dos Fuzileiros, sectoriais da Marinha (PHIBEX)
e conjuntos ou combinados com os restantes Ramos das FA's Portuguesas ou
estrangeiras (ALBATROZ / MARTE / GALERA).
Berliet-Tramagal e exercícios de desembarque de LDG's
Nos Fuzileiros durante grande parte do ano
operacional as viaturas circulavam desprovidas do toldo de lona da cabine e da
traseira, respectiva armação e laterais do compartimento de carga junto ao
chassis, igualmente os estrados dos bancos eram colocados de forma as tropas
transportadas permanecessem de costas contra costas, por forma a permitir
rapidamente abandonar a viatura em caso de necessidade, configuração que já era
empregue na Guerra do Ultramar para reacção a emboscadas.
Exercício de reacção a emboscada (Foto cedida por FZ José Aleixo)
Em 1977, quando as viaturas ainda se encontravam
sob tutela do BF n.º 3, foram implementados projectos nas oficinas da SAO - Serviço
de Assistência Oficinal da FFC - Força de Fuzileiros do Continente, por iniciativa
do então Comandante do Batalhão - Cte. Alves da Rocha, que visavam utilizar o
seu potencial de “massa”, “velocidade” e de “apoio de combate”, mediante a
instalação de armas de apoio de fogos na sua estrutura, mais concretamente a
montagem de um reparo na cabine para suportar metralhadoras-ligeiras HK MG-42 /
MG-3, assim como um artefacto na traseira para acoplar os pratos-base de
morteiros de 81 mm, transformando a viatura num “vector de multiplicação de
forças”.
Este mesmo Oficial foi encarregado anteriormente pela
construção da pista de treino táctico de Fuzileiros condutores (FZV) de
viaturas de tracção total existentes na FFC, treino que incluía a
responsabilização de cuidar pelo grau operacional da viatura atribuída e
respectiva manutenção de 1.º escalão, gerando o binómio condutor/viatura
táctica.
Esta pista situava-se no interior da FFC, no
perímetro interior da Unidade, com início ao fundo da parada junto da
Enfermaria, sendo constituída por vários obstáculos consecutivamente, colocando
à prova a coragem, determinação e destreza dos FZV e testando os limites
técnicos das viaturas.
O treino táctico dos FZV também era realizado nas
praias do litoral próximo, envolvendo estudos de percursos viável entre marés,
nas praias da Costa da Caparia até ao Cabo Espichel.
Berliet-Tramagal numa BTE em Olhão em 1977 (Foto cedida por SMOR FZE Miguel Aleluia)
Em 1978, a Berliet-Tramagal AP-19-31 sofreu um
aparatoso acidente no Portinho da Arrábida, tendo inclusivo rolado várias
vezes, do qual resultou alguns feridos ligeiros entre Fuzileiros que
transportava na traseira, tendo sido posteriormente recuperada e voltado ao
serviço.
Em Junho de 1979, dada a premência de obter uma
melhor racionalização dos meios de apoio atribuídos às Unidades dos Fuzileiros,
são edificados na dependência do CCF, diversas Unidades, entre elas a UATT -
“Unidade de Apoio de Transportes Tácticos”, para onde, já em Junho de 1978,
transitaram as Berliet-Tramagal e as restantes viaturas tácticas ligeiras e
pesadas de todas as Unidades do Corpo de Fuzileiros, mantendo estas somente as
viaturas ligeiras administrativas da sua dotação.
Uma das Berliet-Tramagal dos Fuzileiros esteve
destacada diversos anos na Escola de FZ’s para efeitos de instrução de condução
(formação operacional), outra desempenhou a mesma função no G1EA - Grupo n.º 1
das Escolas da Armada em Vila Franca de Xira.
Em 1994, a Berliet-Tramagal GBC AP-18-14
Pronto-Socorro com grua mecânica "MDF" procedeu ao reboque de 03
viaturas blindadas anfíbias Chaimite dos Fuzileiros até a Secção de Inúteis da Direcção
de Abastecimento da Marinha.
Berliet-Tramagal dos Fuzileiros em diversos desfiles motorizados
Todas as viaturas em apreço (GBC e GBA) foram abatidas
ao efectivo entre 1996 e 1999, demarcando-se com Honra na História dos
Fuzileiros, durante pouco mais de duas décadas de serviço e, certamente na
memória de várias gerações dos “Filhos da Escola”!
Importa realçar que a MDF também montava a
Berliet-Tramagal para forças militares na versão de camião-oficina e camião
cisterna de 5.000 lt para hidrocarbonetos e, que os 03 ramos das FA’s
Portuguesas as adaptaram para diversas funções, suportar certas cargas,
sistemas de armas ou equipamento específico.
Berliet-Tramagal GBC com sistema de armas anti-aérea quádruplo dotado de canhões Oerlikon de 20mm a desfilar em Luanda - Angola (Foto de Luís Ferreira)
Várias GBC e GBA transitaram posteriormente das
FA’s para diversas corporações de Bombeiros que as adaptaram ao combate a
incêndios e, de empresas e particulares que as modificaram para as mais
variadas utilidades, actualmente algumas encontram-se na posse de associações e
coleccionadores de antigas viaturas militares, sendo que algumas são presença
assídua em encontros e concentrações de viaturas militares clássicas.
Berliet-Tramagal GBA de Bombeiros (Foto de Raul Nunes)
O Exemplar GBA 6MT de matrícula “AP-19-32”, a penúltima
do seu modelo a entrar ao serviço nos Fuzileiros a 18/06/1975 e abatida a 07/07/1999,
começou a ser recuperada pela DT em 2014 da Secção de Inúteis da Direcção de
Abastecimento da Marinha, para integrar o “Núcleo Museológico de Viaturas
Antigas da Marinha”, sendo de louvar esta iniciativa tendo em linha de conta
que se trata de uma viatura emblemática das FA’s Portuguesas. De destacar que o
Regimento de Manutenção (Entroncamento) do Exército Português colaborou cedendo
algumas peças e o toldo de lona traseiro.
Berliet-Tramagal GBA na Secção de Inúteis da Direcção de Abastecimento da Marinha
Foi apresentada publicamente, pela primeira vez,
nas comemorações do “Dia da Marinha de 2017” na Póvoa do Varzim / Vila do Conde,
fazendo por certo recordar tempos passados de diversos cidadãos que cumpriram o
SMO - Serviço Militar Obrigatório, as delícias dos entusiastas de viaturas militares
clássicas e de modelistas.
Berliet-Tramagal GBA em fase de recuperação
Tendo sido convidado para estar presente na
tribuna durante estas comemorações pelo então Almirante CEMA - Almirante
António Silva Ribeiro, foi com grande surpresa que contemplei a presença desta
viatura exposta, sendo que por obra do acaso o meu lugar na tribuna ombreava
com o do então Director da Direcção de Transportes - CMG EMQ Carmo Limpinho que
conheci durante o evento e em tom de conversa foi notório o orgulho pelo
trabalho e façanhas realizado pelo seu pessoal na recuperação desta viatura e
outras do “Núcleo Museológico de Viaturas Antigas da Marinha”.
Tomado pela curiosidade e em consequência da
conversa supramencionada, já quando fui observar com mais detalhe a viatura em
exposição estática, fiquei admirado com o estado geral impecável em que se
encontra, acaso para se dizer “como novo”! fruto da sua recuperação.
No entanto, mais interessante foi verificar a
reacção perante a viatura de alguns cidadãos que pela sua conversa com
familiares ou amigos apercebi-me tratarem-se de antigos combatentes da Guerra
do Ultramar; em tom de confidência, posso afirmar que fiquei particularmente sensibilizado
ao verificar a reacção emotiva de um desses cidadãos que finda a verbalização
de uma história de uma ocorrência em Moçambique a familiares, lavado em
lágrimas literalmente abraçou a frente da viatura por uns momentos, como se
fosse um antigo camarada que não via a décadas e que segundo a história a quem
deve a sua vida!...
A DT futuramente pretende recuperar o
camião-cisterna de Limitações de Avarias da Marinha de matrícula “AP-26-25” Tramagal
TT13/160 6x6 Turbo de 13 toneladas, também fabricado pela MDF e que esteve
destacada na Escola de Fuzileiros (possuía a matrícula DT-20).
Camião-cisterna de Limitações de Avarias da Marinha Tramagal TT13/160 6x6 Turbo
No que concerne ao modelismo, existe um kit de
fabrico nacional e edição particular da autoria do Major Nogueira Pinto,
modelista e Oficial na situação de Reforma do Serviço de Material do Exército
Português, que permite montar na escala 1/35 a Berliet-Tramagal GBC 8 KT 6x6.
Kit de modelismo 1/35 de uma Berliet-Tramagal GBC 8 KT 6x6 “Pronto-Socorro”com grua mecânica "MDF"
Em Abril de 2018 foi lançado em Lisboa e no Porto o livro
"Berliet, Chaimite e UMM: Os Grandes Veículos Militares Nacionais" do meu amigo Pedro Monteiro, que me concedeu a honra de fazer a apresentação do livro e autor na Livraria "Ascari" - Porto.
Capa do livro "Berliet, Chaimite e UMM: Os Grandes Veículos Militares Nacionais" de Pedro Monteiro
Cumpre-me agradecer a pronta ajuda de vários
civis e militares na compilação de dados, documentos, fotos e testemunhos sobre
as Berliet-Tramagal e o seu uso na Briosa pelos seus Fuzileiros. A todos Bem
Hajam!
Muito interessante este grande conjunto de informações e fotografias sobre uma viatura tão usada pelas Forças Portuguesas na Guerra em África /Ultramar, nomeadamente pelos nossos Fuzileiros. Na minha experiência num DFE em Moçambique 1969/71 utilizámos com frequência este tipo de viaturas, na maioria das vezes cedidas pelo Exército com condutores daquele ramo, quer na Operação Nó Górdio quer nas muitas operações que efectuámos a partir duma terra hoje muita falada na Imprensa pelas piores razões - Mocimboa da Praia.
ResponderEliminarExcelente artigo.
ResponderEliminarObrigado pela partilha.
Exelente artigo amigo, como sempre. Gosto imenso de ler o que se escreve e como escreve. Sinto admiração e orgulho. E o melhor de tudo sempre que aqui venho aprendo umas coisas. Entrei para os Fuzileiros a 05/03/1996 e posso-lhe dizer que ainda bati muito costado nas Berlies. Simplesmente umas grandes máquinas.
ResponderEliminarGostava era mesmo de saber porque é que esse magnífico motor não esta ao serviço das forças armadas e de agências do governo. Porque é que os veículos do estado não são fabricados em Portugal!?!? Grande abraço