26/02/10

NAVIO POLIVALENTE LOGÍSTICO

(ACTUALIZADO)

Desenho manuscrito com perspectiva 3D do projecto do NPL da autoria de Luís Filipe Silva

          A dispersão das três parcelas do território nacional (Portugal continental, Arquipélago dos Açores e Arquipélago da Madeira) [triângulo estratégico] distando largas centenas de milhas umas das outras, aliada à nossa extensa orla costeira e à sua pouca profundidade, aconselham a necessidade de um navio vocacionado para proporcionar a mobilidade estratégica por via marítima de Forças Expedicionárias Anfíbias de intervenção rápida, com capacidade de projecção, dissuasão e ainda para apoio e assistência a populações civis.
          Estrategicamente, capacidade expedicionária corresponde à aptidão de intervir militarmente no exterior, pressupondo a existência de meios orgânicos adequados e configurados para esse expresso propósito, quer no planeamento quer na execução.
          Desde da década de 90 que está previsto pelas sucessivas Leis de Programação Militar a construção e desenvolvimento de um Navio Anfíbio, publicamente conhecido por NPL (Navio Polivalente Logístico), sendo LPD (Landing Plantaform Dock) o termo técnico da NATO equivalente.
          O projecto visa que a construção seja fruto de uma parceria entre a Marinha de Guerra Portuguesa, Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e da HDW (Estaleiros Alemães), sendo do conhecimento público que a preferência é por um projecto de navio baseado no tipo "Rotterdam / Johan de Witt", da Marinha de Guerra Holandesa, sofrendo as necessárias alterações para cumprir as especificações da Marinha Portuguesa.



Navio-Anfíbio "Johan de Witt" da Marinha de Guerra Holandesa

          O projecto técnico (doca com 880 m² e capacidade de embarque e manobra para LCVP e LCU, hangar com 510 m² e convés de voo com 1.300m² para helicópteros), orçado em 15 milhões de Euros faz parte das contrapartidas do concurso dos submarinos U209PN (classe "Tridente").


Desenho manuscrito da planta do NPL da autoria de Luís Filipe Silva

          O projecto técnico será facultado sem custos pela HDW (consórcio vencedor do concurso dos submarinos) que o desenhou entre Fevereiro de 2005 e Abril de 2007, segundo as especificações portuguesas e conta com o contributo de diversos organismos da Marinha, do Estado-Maior General das Forças Armadas e dos restantes ramos das Forças Armadas Portuguesas na definição dos requisitos técnicos do projecto.
          Trata-se de um navio orçado em 210 milhões de Euros e que servirá os 3 ramos das Forças Armadas, constituindo um meio fundamental para os desígnios da capacidade de projecção e permanência na zona de acção de Forças Expedicionárias Anfíbias no quadro de missões internacionais, cenários de conflito, apoio a crises humanitárias ou calamidades naturais.
          Em virtude de a sua construção é um objectivo nacional, decidido e aprovado pelo Governo em resolução do Conselho de Ministros, a sua materialização permitirá às Forças Armadas deterem mobilidade estratégica e a sustentação necessária a acções de salvaguarda dos interesses nacionais, no apoio à política externa do Estado, assegurar a evacuação de cidadãos nacionais de qualquer ponto do território nacional ou residentes no estrangeiro em áreas de crise ou conflito, tendo em linha de conta a evolução da conjuntura internacional, para além de uma efectiva capacidade de apoio à população civil em situações de emergência.
          O contrato foi assinado a 16 de Fevereiro de 2005 com os ENVC, tendo a entrega originalmente prevista para 2010; no entanto, no mesmo ano foi adiado o início da construção para 2009 com a entrega respectivamente para 2013.
          Porém, apesar do prazo de vigência do Contrato-Base com os ENVC ter sido prorrogado até 31 de Dezembro de 2008, através do Despacho 276/MDN/2007, actualmente é difícil de prever de modo sustentado a evolução deste projecto no tempo.
          Diversas empresas portuguesas participarão no projecto, como a EID que fornecerá diversos sistemas de comunicações, sendo de salientar que o navio está concebido para que a maioria dos seus sistemas sejam de tipo comercial, com o escopo de que possa ser construído num estaleiro com capacidade para construção de navios "roll-on roll-off" de médio porte.

          A guarnição será composta por 150 elementos, terá capacidade e acomodações adicionais para 22 elementos do Estado-Maior Naval, Conjunto ou do "Joint Headquarters Lisbon" e alojamento complementar para 150 pessoas por 24 horas ou 50 pessoas por 48 horas, o que justifica imperativamente a cidadela de protecção NBQ que incluirá os corredores de acesso lateral.
          Terá capacidade de projecção autónoma e sustentação por um período de 30 dias no Teatro de Operações (TO), até à chegada de reforços no caso de operações continuadas, da Força-Tarefa de assalto anfíbio denominada Batalhão Ligeiro de Desembarque ("Frame Work Unit") do Corpo de Fuzileiros, originando o binómio NPL-Fuzileiros, força esta organizada com carácter eventual e desenhada "Tailor Made & Mission Oriented":
- Elemento de Comando (Comando);
- Elemento de Manobra (Batalhão de Fuzileiros n.º 2: Companhias de Fuzileiros n.º 21, 22 e 23);
- Elemento de Apoio de Combate (Pelotão de Reconhecimento, Pelotão Anti-Carro, Pelotão de Morteiros, Pelotão Anti-Aéreo, Secção de Vigilância Campo Batalha, Secção de Sapadores, Secção de Guerra Electrónica);
- Elemento de Apoio de Serviços (Formação Comando DAP, Pelotão de Abastecimento, Pelotão de Manutenção, Pelotão de Transportes, Pelotão de Saúde, Pelotão de Polícia Naval, Secção de Descontaminação NBQ);
- Elemento de Assalto Anfíbio (Grupo de Botes de Assalto).


Desembarque de Fuzileiros

          O Batalhão Ligeiro de Desembarque [reduzido] é constituído por um total de 545 Fuzileiros (30 Oficiais, 62 Sargentos e 453 Praças) totalmente equipados, tendo o navio capacidade por inerência para o equivalente em forças terrestres.
          No que respeita à operação de desembarque, pode ser executada por via aérea (a partir de helicópteros) e por via marítima (mediante lanchas de desembarque, botes pneumáticos, blindados anfíbios do ou directamente nos portos).
          No tocante a meios aéreos, terá capacidade para 6 helicópteros médios (Lynx da EHM) ou 4 pesados (EH101 CSAR da FAP), ou combinações destes, será dotado de um hangar com 510 m² e um convés de voo com 1.300 m² com capacidade para operar com 2 helicópteros em simultâneo (banda F), acrescendo-se a capacidade de reabastecimento de combustível para helicópteros (250 toneladas / F44).
          Quanto a meios de superfície, terá capacidade de operar até estado do mar 4 e poderá ser apetrechado com:
- 53 Botes pneumáticos Zebro III;
- 4 Lanchas de desembarque do tipo LCVP com 25 metros de comprimento, capacidade para 8 toneladas de carga (36 militares ou 1 viatura ligeira), propulsionadas por dois sistemas de jactos de água à popa e um à proa para manobra;
- 1 Lancha de desembarque do tipo LCU com capacidade para 180 toneladas de carga (120 militares ou 3 carros de combate);
- 20 Viaturas Blindadas Anfíbias Ligeiras Anfíbias PANDUR II da CATT (Companhia de Apoio de Transportes Tácticos) do Corpo de Fuzileiros.


Blindado Anfíbio PANDUR II

          A operação de enchimento da doca demorará 2 horas e deverá atingir os 2 metros de profundidade de água (lastro: 4.200 toneladas).
          Também estará habilitado para efectuar o transporte de blindados da Brigada Mecanizada, de um Batalhão de Infantaria Mecanizada ou Esquadrões de Reconhecimento do Exército, para o qual estará provido de uma área de parqueamento de veículos com 900 m², com capacidade para viaturas ligeiras (22) e pesadas (76).



Blindado posto de comando M-577 A2


Blindado de luta anti-carro M-901 A1 ITV com lança-mísseis TOW e metralhadora-ligeira M60D de 7,62mm


Posto de Comando do Pelotão Sanitário do GCC ou BIMec M-577


Blindado de transporte de carga M-548 A1


Blindado M-113 com lança-mísseis anti-carro TOW M-220 e metralhadora-pesada BROWNING M2HB de 12,7mm


Blindado de transporte de tropas M-113 A2, com metralhadora-pesada BROMNING M2HB de 12,7mm


Blindado de socorro a carros de combate M-88 A1, com metralhadora-pesada BROWNING M2HB de 12,7mm


Blindado antiaéreo lança-mísseis M-48 A2 CHAPARRAL


Blindado 4x4 BRAVIA CHAIMITE V-600 porta-morteiro de 81mm

          Estará preparado inclusivo para suportar o peso de carros de combate Leopard 2A6 ou M-6o A3 TTS da Cavalaria do Exército, que podem ser desembarcados pela lancha de desembarque do tipo LCU (3 carros de combate) ou directamente pela porta lateral de acesso à garagem por estibordo.
          Em caso de necessidade como medida de recurso, pode transportar mais viaturas no hangar e no convés de voo em detrimento do transporte de helicópteros.



Carro de combate LEOPARD 2A6, com peça de 120mm e metralhadora-ligeira FN MAG-58 de 7,62mm


Carro de combate M-60 A3 TTS, com peça de 105mm e metralhadora-pesada BROWNING M2HB de 12,7mm

          De salientar que está previsto que o projecto colocará em prática as lições absorvidas por marinhas de guerra estrangeiras que operam navios semelhantes, tornando-se deste modo um navio de eleição em comparação com os seus congéneres:
• Da classe "Rotterdam" (casco, doca, convés de voo e respectivo hangar, instalações hospitalares e propulsão diesel-eléctrica), da classe "Johan de Witt" (sistemas de C2), ambas da Marinha de Guerra Holandesa;
• Da classe "Bay" (uso de pods em vez de veios), Marinha de Guerra Inglesa;
• Da classe "Foudre" (chaminés de dimensões reduzidas e maior armazenamento de combustível para helicópteros), Marinha de Guerra Francesa;
• Da classe "San Antonio" (mísseis RAM de defesa de ponto, em vez de canhões Vulcan PHALANX), Marinha de Guerra Norte-americana;
• Da classe "Galicia" (Radar 3D), Marinha de Guerra Espanhola.
          No entanto, pautar-se-á por atender a especificações nacionais sui generis, nomeadamente no que toca a padrões ergonómicos e funcionais de habitabilidade e ao emprego de botes pneumáticos Zebro III (53) do Corpo de Fuzileiros, para tal será dotado de duas portas laterais para o lançamento destas embarcações, bem como de uma estação de reabastecimento, depósito de combustível (20 m²), espaço de armazenamento e corredores próprios.
          É de salientar que um dos desideratos do projecto foi elaborar os requisitos técnicos de forma a permitir que o navio possa evoluir ao longo da sua vida operacional, mediante as disponibilidades financeiras do país e das necessidades da Marinha ou de tempos vindouros, dentro da filosofia "fitted for but not with", isto é, a estrutura do navio permite realizar modernizações no que concerne a armamento, sensores e equipamento com menores custos, num prazo relativamente curto, não requerendo alterações físicas na estrutura do navio, nem a sua imobilização em doca seca, como por exemplo incorporar um multisensor electro-óptico, sistema de IFF/SIF, sistema ESM ou instalar um sistema que permita receber um submersível de salvamento tipo LR5.
          Data dos anos 90 a pretensão da Marinha de Guerra Portuguesa para ser apetrechada com um navio de assalto anfíbio, tendo-lhe sido oferecido um navio LST da classe "Newport" pela Marinha Norte-americana, assim como, face à possibilidade da Marinha Australiana passar a reserva o seu navio LST "Tobruk", a Marinha Portuguesa manifestou interesse na sua aquisição em 1995, chegando inclusivé a enviar uma equipa de Oficiais a Sydney para inspeccionar o estado geral do navio em apreço.
          Em 2000, ainda ocorreram contactos com os estaleiros holandeses da "Royal Schelde" para a construção de um navio semelhante ao "Rotterdam" da Marinha de Guerra Holandesa, mas não tiveram posteriormente continuidade por falta de recursos económicos.
          Quando ocorre a necessidade de utilizar um navio desta natureza, a Marinha Portuguesa recorre a aliados da NATO, regra geral Espanha, tal foi o que sucedeu em Maio de 2008, durante o exercício "ESPABRAS", integrando uma Força de fuzileiros no "European Union Amphibious Battle Group" (EUABG) constituído pela "Spanish/Italian Landing Force", em que os 100 Fuzileiros portugueses (BF2 / UMD / BF / CATT) embarcaram a bordo do Navio-Anfíbio da Armada Espanhola "Galícia".
          No concernente ao transporte de equipamento pesado de forças nacionais, como por exemplo viaturas de reconhecimento ou mecanizadas do Exército, para participação em missões da NATO ou sob os auspícios do ONU como no Kosovo, Bósnia, Iraque [GNR], Timor-Leste, o Governo Português solicita sempre meios estrangeiros ou freta navios mercantes.



Blindado ligeiro de reconhecimento PANHARD VBL M-11 D 4x4 com metralhadora-ligeira BROWNING de 7,62mm


Blindado ligeiro de reconhecimento PANHARD VBL M-11 D 4x4 com metralhadora-ligeira BROWNING de 7,62mm e lança-mísseis filoguiado anti-carro MILAN


Blindado ligeiro de reconhecimento PANHARD VBL M-11 D 4x4 com torreta blindada PL 127/40, e metralhadora-pesada BROWNING M2HB de 12,7mm


Blindado ligeiro PANHARD VBL M-11 D 4x4 com metralhadora Brownning de 7,62mm e Radar de vigilância do campo de batalha AN/PPS-5B


Blindado de transporte de tropas 4x4 BRAVIA CHAIMITE V-200, com torre armada com metralhadora dupla de 7,62mm


Blindado ligeiro de reconhecimento CADILLAC GAGE V-150 S COMANDO 4x4 com peça CM90 Mk3 de 90mm e metralhadora-ligeira M60D de 7,62mm

          A necessidade de uma plataforma deste género já ficou comprovada por diversas ocasiões, podendo-se apontar a título de exemplo prático, o sucedido no golpe de Estado desencadeado em 7 de Junho de 1998 pela auto-denominada Junta Militar chefiada pelo Brigadeiro Assumane Mané, seguido de guerra civil na Guiné-Bissau que afastou o Presidente João Bernardo Vieira (Nino Vieira).
          O Governo Português encarregou as Forças Armadas de evacuar civis e militares nacionais, o Corpo Diplomático Português e de outros países da União Europeia, além de cidadãos de outras nacionalidades que solicitaram auxílio, assim como refugiados guineenses («Operação Crocodilo»).
          A Armada Portuguesa assumiu um papel preponderante e esteve à altura das missões que lhe foram atribuídas, empregando uma força com meios navais e 541 militares (533 homens e 8 mulheres), apesar de os meios disponibilizados não serem os mais adequados para a missão: uma Fragata, duas Corvetas e um Navio-Reabastecedor.



Refugiados a bordo da Fragata Vasco da Gama

          Não houve possibilidade de serem utilizadas as facilidades locais da Guiné-Bissau, como por exemplo o aeroporto, mas paralelamente utilizaram-se em alternativa e em grande escala dois helicópteros Lynx e botes pneumáticos Zebro III.


Evacuação de civis por Linx na Guiné-Bissau


Evacuação de civis por recurso a botes pneumáticos

          Nomeadamente no desembarque de tropas de elite da Marinha (Fuzileiros e DAE) e apoio aos seus objectivos, passando pelo controlo do Porto de Bissau, até à recolha de 1.237 refugiados.


DAE no cais do Porto de Bissau


DAE a proceder à evacuação de cidadãos nacionais

          A administração da empresa portuguesa PORTLINE disponibilizou ao Governo o Navio de Cabotagem porta-contentores civil "Ponta de Sagres", que se encontrava no limite das águas territoriais da Guiné-Bissau, para proceder a uma eventual evacuação de cidadãos nacionais devido ao crescente clima de insegurança, acção que se concretiza em 11 de Junho com apoio de pessoal militar da Embaixada Portuguesa em Bissau, transportando posteriormente para Dacar no Senegal 2.250 refugiados de 20 nacionalidades, 400 dos quais portugueses.


Desenho manuscrito do navio de cabotagem porta-contentores "Ponta de Sagres" da autoria de Luís Filipe Silva

          É de salientar que neste conflito a Diplomacia e a Marinha Portuguesa tiveram uma intervenção concertada no processo de paz para pôr fim às hostilidades, em virtude de terem actuado por iniciativa exclusivamente nacional, fora do quadro das alianças e servindo como mesa de conversações, inicialmente a bordo da Fragata "Vasco da Gama" e posteriormente na "Corte Real", entre as duas facções intervenientes na guerra civil a fim de se assinar o acordo de cessar-fogo («Operação Falcão»).
          Outros momentos em que se sentiu a necessidade de um navio desta natureza foi:
• Em 1997 durante a participação na «Operação Forrez», com o objectivo de evacuar cidadãos nacionais do conflito da República do Zaire;




Fuzileiros na Operação Forez no Zaire

• Em 1999 em Timor-Leste, no âmbito da missão da INTERFET / UNTAET para o processo de transição para a independência, com a presença de uma Companhia de Fuzileiros reforçada e uma Fragata com helicóptero;


Desembarque de Fuzileiros em Timor-Leste


Missão da UNTAET em Timor-Leste


Helicóptero na missão da INTERFET em Timor-Leste

• Em 2000, os Fuzileiros foram destacados para efectuar missões SAR e prestar ajuda humanitária às vítimas das cheias do Rio Save, em Moçambique.


Fuzileiros em missões SAR e de ajuda humanitária, nas cheias do Rio Save em Moçambique

          Mais recentemente, a nível internacional poderia ter sido empregue na ajuda internacional ao Haiti, nomeadamente apoiando a equipa nacional destacada e prolongando respectivamente a sua missão.
          A nível nacional, perante a calamidade que ocorreu na Ilha da Madeira em Fevereiro de 2010, podia apoiar a Protecção Civil e ser utilizado para transportar material pesado da Engenharia do Exército, conforme foi solicitado pelo Governo Regional.



Retroescavadora


Escavadora hidráulica


Moto-niveladora Volvo


Tractor de esteiras


Dumper VOLVO

          As Forças Armadas disponibilizaram de imediato diversos meios, tendo a Marinha empenhado a fragata "Corte Real" com um helicóptero Lynx, cuja a guarnição está certificada internacionalmente pelo Reino Unido para intervenção em operações de assistência humanitária em terra ("Operational Sea Training"), transportando uma equipa médica, uma equipa de Mergulhadores (7), duas secções de Fuzileiros, incluindo elementos do Destacamento de Acções Especiais para Resgate em Montanha (40) e o contentor DISTEX (equipamento para situações de emergência).
          Num passado recente ocorreu um sismo de grande intensidade (7.2 na escala de Richter), em Janeiro de 1980, no Grupo Central do Arquipélago dos Açores, afectando as ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa; em Outubro de 1997 em virtude da intensa precipitação ocorreu o deslizamento de terras em S. Miguel e em Julho de 1998 as ilhas do Faial, Pico e São Jorge foram afectadas por um sismo de magnitude 5,6 na escala de Richter.

          Para além da potencial polivalência de emprego e flexibilidade de missões civis ou militares, este tipo de navio será um meio de auxílio com um valor incalculável em operações de calamidade natural, apoio humanitária e de evacuação de cidadãos nacionais do estrangeiro.
          Nomeadamente empenhando o seu Destacamento de Saúde (35 elementos) e a sua infraestrutura hospitalar completa (400 m²), com capacidade de resposta médico-sanitária e médico-cirúrgica até 235 pacientes, ou em cenário de conflito funcionando como navio de recepção primária de baixas "Primary Casualty Receiving Ship",
com capacidade que lhe permitem cumprir com o Primeiro Escalão de Apoio Médico (E-1), após estabilização e tratamento dos pacientes, os meios aéreos podem proceder à evacuação para escalões médicos superiores (E-2 / E-3 / E-4):
- Enfermaria com 25 camas, sendo 10 para cuidados intensivos;
- Capacidade para acolher 200 macas;
- Salas de consulta;
- Sala de pequenos tratamentos e pensos;
- Sala de estomatologia com equipamento portátil;
- Triagem (classificação T1 / T2 / T3 / T4);
- Área para intervenções cirúrgicas com duas salas de operações (tempos operatórios T1 / T2 / T3);
- Área de esterilização de material cirúrgico e laboratório de análises;
- Câmara hiperbárica contentorizada de 20 pés (apoio a Mergulhadores);
- Equipamentos de radiologia, reanimação e anestesia;
- Área de armazenamento de sangue, farmácia e paiol de medicamentos.
          De realçar que está provido de meios próprios (lanchas de desembarque e helicópteros) para fazer a ligação com terra, sem necessidade de montagem prévia ou disponibilidade de facilidades locais adequadas, mesmo quando as instalações portuárias se encontrem danificadas ou sejam inexistentes.
          Em situações de calamidades graves, nomeadamente em ilhas, locais de difícil acesso ou zonas próximas do litoral, a sua capacidade de desembarque de pessoal especializado e respectivo equipamento de busca e salvamento (SAR), mediante os meios próprios em zonas costeiras de acesso dificultado por terra, prestar apoio nas comunicações, efectuar salvamento marítimo, evacuação das vítimas e a assistência médica conferem valências acrescidas.

          Não obstante, um meio com consideráveis valências (Transporte, Desembarque e Hospital) deverá ter em consideração todos os factores que dificultem a sua detecção (assinatura radar, assinatura de infravermelhos, assinatura magnética, assinatura acústica e controlo de emissões electromagnéticas), assim como possuir um mínimo de capacidade de defesa própria por camadas (hard e soft-kill): anti-míssil, anti-aérea, anti-torpedo e NBQ, ou tornar-se-à num alvo demasiado vulnerável, mesmo tendo em conta somente as ameaças assimétricas, tão em prol nos dias de hoje, para além de que não cumpriria com grande parte das directivas veiculadas pela NATO para este tipo de navios.
          Outra área a não descurar é a capacidade de gestão de plataforma e a de C2I (Comando, Controle e Informação) para exercer o Comando de Operações Anfíbias de média envergadura ao nível TG (escalão Brigada BLD), como será por regra o caso nacional, pelo que a sua inexistência significaria negar a sua própria natureza como navio anfíbio, uma vez que são capacidades basilares para o cumprimento de qualquer missão, conforme previsto nos "Requisitos Operacionais".
          Negligenciar as capacidades nos dois parágrafos supra-citados conduzirá a que Portugal nunca fique no comando como "framework nation" em espaços geográficos considerados como nossa área de influência (CPLP / PALOP); quando participe junto de aliados em missões que exijam interoperabilidade se fique limitado a funções secundárias, ou confinado a uma mera presença em crises de baixo grau de conflitualidade.

PRINCIPAIS TAREFAS A DESEMPENHAR:
• Participar nas operações de suporte humanitário funcionando como Navio-Hospital (evacuações médicas e sanitárias);
• Participar com forças nacionais ou multinacionais anfíbias ou em operações da NATO como "Primary Casualty Receiving Ship" (estará adstrito ao "Joint Headquarters Lisbon");
• Garantir o sustento das forças desembarcadas, inclusive o suporte sanitário, até a chegada de reforços no caso de operações continuadas;
• Participar nas forças nacionais ou multinacionais anfíbias em operações de paz (PK) e humanitárias sob os auspícios do ONU ou do OSCE;
• Participar nas tarefas de cooperação multilateral, nomeadamente com as forças de Fuzileiros dos CPLP / PALOP;
• Efectuar operações do interesse público e de Protecção Civil em situações de catástrofes naturais, mas também em todas as situações em que a sua capacidade de apoio o torne uma mais-valia;
• Funcionar como plataforma de suporte às operações de contra-terrorismo, e de combate ao narcotráfico e imigração ilegal, suportando forças de Fuzileiros e Mergulhadores.

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DO PROJECTO:
- Deslocamento: até 12.500 toneladas;
- Dimensões: até 170 x 27 x 6 metros;
- Velocidade máxima: 19 nós (35 km);
- Propulsão: diesel-eléctrica, 2 hélices e 1 propulsor de proa;
- Autonomia para 6,000 milhas a 14 nós / víveres para 30 dias;
- Aguada: 30 dias;
- Guarnição:
    Oficiais: 18
    Sargentos: 29
    Praças: 103
    Total: 150
- Capacidade total para 800 pessoas com bons padrões de habitabilidade;
- Força de desembarque de 600 Fuzileiros totalmente equipados;
- Área de parqueamento de veículos com 900 m²;
- Porta lateral de acesso à garagem por estibordo;
- Paióis de carga com 3.000 m³;
- Doca com 880 m² / 55 X 16 metros;
- 4 lanchas de desembarque do tipo LCVP;
- 1 lancha de desembarque do tipo LCU;
- 53 botes pneumáticos Zebro III;
- Capacidade para 6 helicópteros médios (Lynx) ou 4 pesados (EH101 CSAR da FAP);
- Hangar com 510 m², convés de voo com 1.300 m², 2 "Landing spots";
- Hospital com 400 m²;
- Combustível: 900 toneladas, óleo de lubrificação: 30 toneladas, gasolina: 15 toneladas, água potável: 300 toneladas.

EQUIPAMENTO:
- Capacidade e contramedidas de defesa anti-míssil, anti-aérea, anti-torpedo e protecção NBQ;
- Artilharia de pequeno (8 x 12,7mm) e médio (2 x 25 / 30mm) calibre;
- Radares de navegação e de busca ar/superfície;
- Sensores de guerra electrónica;
- Sistemas de comando e controlo (EDISOFT);
- Sistema integrador de informação (EDISOFT);
- Sistema integrado de comunicações [voz, audio e vídeo, HF, VHF, UHF, SATCOM e INMARSAT] (EID);
- Sistema integrado com capacidade de link de dados;
- Reabastecimento: Sistema "PROBE", sistema "Light Jack Stay" e "VERTREP".


NOTA:
Informação sobre o NPL no site do Estado-Maior da Armada: http://ema.marinha.pt/NR/rdonlyres/72A7DC0A-01C3-4B83-8817-3D50E89A2521/0/Navio_Polivalente_Logístico.pdf
Artigo do OPERACIONAL sobre a crise na Guiné-Bissau em 1998 e a capacidade militar nacional:
http://www.operacional.pt/a-crise-na-guine-e-a-capacidade-militar-nacional/

12 comentários:

  1. Dei com este site no google, procurando saber que material nacional temos que sirva para enviar para a Madeira, não é aceitável nem se entende porque razão ainda não se deu prioridade a construção de um navio assim.
    Logo um que podia ter sido enviado com tantas coisas uteís neste momento duma só vez, ao contrário de se mandar aos poucos de avião ou fragatas, de certeza com mais custos de combustível, que pouco podem fazer e obriga a retirar estes de patrulhar a costa.
    Se numa próxima desgraça na Madeira ou nos Açores um temporal destruir o aeroporto e os cais marítimos, se ainda não houver um navio destes, como se vai acudir as pessoas?
    Como português até acho vergonhoso ter-se que passar sempre por coitadinhos e pobrezinhos pedir ajuda aos estrangeiros.
    Porque não se discute a nível nacional a necessidade deste navio para a marinha?
    Para este navio não devia haver dificuldades financeiras e se houver a que resolver!
    Há que abordar o assunto em rádios, televisão, escrever para jornais, fazer debates!

    Jorge Teixeira, cidadão português

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  2. Peço desculpa não indicar o nome26 de fevereiro de 2010 às 13:11

    Segundo rumores, o NPL tem o projecto básico pronto (a contrapartida dos 15M€), o qual já foi entregue ao Estado Português. Também há rumores que vai ser construído na Holanda.
    O Ministério da Defesa terá assinado em Dezembro último um contrato nesse sentido.
    Será verdade?

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  3. Com este artigo são 3 textos seguidos: NPL, submarinos U209PN e viaturas blindadas PANDUR que este distinto blogue aborda detalhadamente e com clareza assuntos sobre meios da maior importância para a Marinha e para o país.

    Deixo um apelo a quem tiver contactos na comunicação social para divulgar este artigo, num momento de tragédia na Madeira, que inflizmente demonstra oportunadamente à sociedade nacional a necessidade do NPL.

    M. O. Oficial da Marinha na Reforma

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  4. realmente fico muito radiante ao ler no seu blog as descriminações referentes a marinha, muito completas e informativas para quem não tenha conhecimento da realidade e necessidade do navio NPL e a falta que faz à MARINHA e ao país.Agora os nossos governantes que avancem com a iniciativa de mandarem construir o tão necessitado NPL, que tanta falta poderá vir a fazer ao país.
    F.P.S. Sarg Ch.da Marinha na Reforma

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  5. Meus amigos, direi apenas para começar: PALAVRAS PARA QUÊ! É bem esclarecedor pelo que é descrito, de quanto teria sido vantajoso, na calamidade que assolou a Madeira. Penso que estaria mais que justificado o seu custo. Para um país como Portugal, seria um investimento e não tanto, custo. Espero que não se acorde tarde demais.

    Fuzileiro Sempre

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  6. Concordo com o meu camarada e amigo da A Voz da Abita, o jovem autor destas linha, apresenta um raciocínio estratégico raro de se encontrar em pessoas sem formação própria da organização militar.
    O texto justifica muito bem a utilidade e polivalência de um NPL para o Estado português, não só para a Marinha, pois prefaz muito bem a ponte entre o elemento militar e o carácter civil.
    Qualquer cidadão que pretenda conhecer o porquê do NPL, mediante este texto, pode ficar muito bem esclarecido.

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  7. É uma pena ainda não existir este navio, a FAP lá terá de utilizar os C-130 diversas vezes para enviar todos os "lanços" e conponentes da ponte militar da engenharia do Exército, quando este navio podia já lá estar e desembarcar todo de uma só vez, juntamente com muitas outras coisas.
    Enfim, será preciso acontecer outra desgraça?

    António Martins, ex-Cabo de manutenção da FAP

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  8. como marinheiro aposentado estou de acordo que se faça pressão para a aquesição de um navio com essas polivalências, é desejável.

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  9. Há verbas para tudo.TGV;Obras Megalómanas;Está_
    dios para estarem às moscas;obras embargadas com
    verbas desprediçadas;grandes derrapagens orçamen_
    tais,etc;etc.Só não há verbas para as Forças Ar_
    madas e da Segurança Pública.
    Um antigo militar Veterano do Dien-Bien-Phu,Por_
    tuguês.

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  10. É sempre bom ler estes artigos! Tenho pena que ainda não se tenha adquirido um navio deste tipo, faz falta, e pode muito bem ser feito em Portugal!

    Como sou optimista, sei que mais cedo ou mais tarde haverá neste blog um post sobre este navio, já a navegar e com missões realizadas!

    Cumprimentos,
    www.roda-do-leme.com

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  11. É com muito orgulho que vi e revi este blog, que tanto me alegrou e me fez lembrar os meus 5 anos ao serviço da Armada. Adorei reviver e ainda hoje faço parte da Associação do Núcleo de Marinheiros da Armada de Aveiro, podendo ser consultado através do www.nmaa.info
    Obrigado e bem-haja a todos que fazem parte desta família que é a Marinha de Guerra Portuguesa.

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  12. Ter uma ZEE de 1,7 milhões de Km2 se não a maior, uma das maiores do mundo e discutir-se sobre a desnecessidade de pelo menos uma esquadrilha de 4 submarinos ( um em doca em rotação) é ser dono da mais profunda ignorância sobre as reais necessidades de um país marítimo como o nosso. De igual forma, não dispor ainda de um NPL capaz de projectar forças em qualquer teatro de operações fora de Portugal é,do mesmo modo miopia política. Enquanto tivermos totós como Almeida Santos ( e alguns outros «cromos» políticos ignorantes da arte da guerra) a dizer que os submarinos são caros e...desnecessários(!?)continuaremos a ser alvo das mais variadas ingerências na nossa ZEE e da troça dos nossos parceiros da NATO.

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