13/04/12

"HISTÓRIAS À VISTA" - 04

          4.ª “HISTÓRIA À VISTA”, sobre Fuzileiros Especiais do DFE nº 2, em Comissão de Serviço em Angola entre 1965/1967, da autoria do Marinheiro FZE José Rebelo e SAJ REF Afonso Brandão, este último além de ser especializado nas armas de FZE e Mergulhador-Sapador (Comissão de Serviço na Guiné-Bissau na Secção n.º1 de Mergulhadores-Sapadores entre 1970/1972), é o administrador e seu grande dinamizador dos seguintes blogues:
- http://angola-dfe2-1965a1967.blogspot.com/
- http://fuzileiromergulhador.blogspot.com/
- http://fuzileiromergulhador.no.comunidades.net/
- http://cadetesdomar.no.comunidades.net/index.php

DE CABINDA À ZAMBIA:

          «Dezembro de 1966, a UNITA ataca violentamente Vila Teixeira de Sousa, a região do Cazombo a Leste de Angola, com a vizinha Zâmbia ao lado.
          Fiz parte de um grupo de combate de cerca de 40 Fuzileiros que um dia lhes nasceu o sol a 2000 e tal quilómetros da capital Luanda. Desta vez nas margens direita do Rio Zambeze mesmo ali às portas da Zâmbia (Lumbala Velha).
          Mochila no chão, G3 encostada à perna direita, fumava um cigarro e observava toda a área que me confinava um rio bastante largo com um caudal pouco navegável naquela época do ano e uma mata dispersa longitudinal às margens com clareiras aqui e ali, após esta minha breve observação falava eu para os meus botões:
- "Hum, isto aqui vai cantar mais fino, 40 Fuzileiros vazados de fome, com meia dúzia de botes remendados, isto vai ser um festival".

          No dia seguinte logo ao amanhecer, botes na água e lá vamos nós rio abaixo com o máximo silêncio, encostados a uma das margens que nos oferecia melhor navegabilidade em caso de ser necessário utilizar a velocidade, quando o sol raiou então constatamos que o rio era muito mais perigoso que o julgávamos ser, estava infestado de corpulentos jacarés que embora nós treinados a saltar por cima destes obstáculos, não deixava de ser sempre um risco quando não se fosse mais rápido que a acção do próprio, continuamos a descer o rio e não se deslumbrava sinais de cubatas ou palhotas nas margens.
          A determinado ponto invertemos o sentido e subimos o rio antes que se fizesse noite, regressa-mos ao ponto de partida sem confrontos, mas com plena certeza de terem sido de perto observados os nossos movimentos, não tardariam a testar as nossas capacidades de acção.
          Dois dias depois, 25 Fuzileiros do grupo partiram da Lumbala para o Cazombo, afim de escoltar uma Lancha por terra com destino a Lumbala, 30 minutos após a nossa partida de Lumbala, fomos terrivelmente emboscados na picada, com uma barragem de fogo de armas automáticas à distancia de pouco mais de 10 metros que nos fez rastejar em sua direcção, mas impedidos pelo rebentamento de várias granadas, mantivemos por alguns minutos um forte duelo de fogo, ouvimos gritos como dizendo:
- "Angola é nossa"
          O fogo diminuiu após o disparo certeiro do nosso Lança-Granadas-Foguete, permitindo-nos um avanço de poucas dezenas de metros que culminou na fuga rápida do inimigo, deixando no terreno 2 mortos e nós com um saldo de 12 feridos.

          Os poucos Fuzileiros que ficaram no acampamento comandados por um Sargento, ao ouvirem os rebentamentos das granadas e o matraquear das armas automáticas, imediatamente largaram em botes rio acima navegando em velocidade pelo leito do rio, com o objectivo de fazerem o envolvimento ao inimigo ou os surpreender na travessia do rio para a margem oposta.
          Percorridas cerca de duas milhas avistaram umas canoas que apressadamente rumavam para a margem infiltrando-se na orla da densa mata abrindo rajadas de fogo contínuo para os botes, estes debaixo de fogo intenso largam da zona da morte e embicam à margem esquerda abrindo fogo de Bazuca e calaram o inimigo.
          Fizeram uma batida na zona da margem esquerda encontrando mortos e alguns feridos, assim terminou o dia 28 de Dezembro de 1966, vivido na minha pessoa como interveniente na acção.»

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