6.ª “HISTÓRIA À VISTA”, da autoria do VALM REF Adriano de Carvalho, nascido a 07/10/23 e ingresso na Armada a 04/08/42.
OS ANANASES:
«Como era do curriculum, no fim do 2.º Ano da Escola Naval embarcámos no Aviso "João de Lisboa" para a viagem de instrução que consistia numa cruzeiro pelos Açores e Madeira, para assim termos oportunidade de dar aplicação prática conhecimentos de navegação apreendidos entretanto.
O navio era muito pequeno para alojar além da guarnição 33 Cadetes, mais um capelão e um oficial instrutor da Escola Naval, de forma que dormíamos pelos cantos e víamo-nos atrapalhados para satisfazermos as nossas necessidades higiénicas, devido às bichas.
Tínhamos no entanto ao nosso dispor uma pequena câmara, para convivermos nas poucas horas vagas que nos restavam. Por sua vez o Capelão (Pde. C.S.) ocupava o camarote anexo cujo conjunto, em princípio, constituía o alojamento do Comandante a navegar.
Aconteceu que na passagem por Ponta Delgada, alguém mimoseou o nosso Capelão com uns 06 ananases, ainda verdes, para irem amadurecendo até Lisboa. Ora o nosso guia espiritual teve a triste ideia de pendurá-los numa corda na referida câmara, sobre a mesa.
De início isso não nos prejudicava muito porque o espaço útil não foi afectado. Simplesmente com o decorrer dos dias da viagem, os ananases começaram a amadurecer e a espalhar um aroma próprio que cada vez mais desafiava a nossa gula. Certa tarde a nossa resistência soçobrou. Mandamos vir uma garrafa de vinho do Porto e fomos a eles. Não restou nenhum para amostra.
Começámos então a ficar preocupados com as prováveis consequências, mas ideias para resolver a situação não apareciam, até que alguém foi tocado pelo Espírito Santo e surgiu pendurado na corda um bonito cartão com os dizeres:
"DEUS OS DEU DEUS OS LEVOU".
O capelão quando viu o cartão em vez dos ananases, esboçou um sorriso amarelo mas não teve coragem de participar de nós. Deixo-lhe aqui homenagens pelo desportivismo.
PÓS "KEATING":
Após a minha promoção a 2ºTenente depois de um ano em Guarda-Marinha e ter ainda andado na fiscalização da pesca como imediato da LF "Dourada" no Norte e "Bicuda" no Sul, embarquei no Navio Petroleiro "Sam Brás" onde servi durante cerca de um ano como encarregado da navegação.
Naquela época o "Sam Brás" era o único Petroleiro que o país dispunha em tempo de grandes restrições de combustíveis devido à guerra, de forma que não havia praticamente paragem entre as sucessivas viagens de reabastecimento de gasóleo, gasolina, etc. Lembro-me ter feito viagens ao Médio Oriente (Bahrain), Aruba, Curaçau, Venezuela e até à Califórnia.
O Oficial de Administração Naval era o L.C. um tipo quem se dizia ser o 1ºTenente mais antigo do mundo pois tinha quase vinte anos de posto. Era um sujeito um tanto ou quanto primitivo embora boa pessoa. No que respeita a conhecimento de línguas era como a tia do Eça de Queiroz que só falava português e quando lá fora queria ovos estrelados se punha de cócoras e a cacarejar.
Ora numa viagem que fizemos a Port Arthur (no Texas) aconteceu que andando eu e o E.R. a passear pela terra (que era uma pequena cidade tipicamente americana de ruas perpendiculares umas às outras e casas de madeira), ao passarmos junto a um Drug Store ouvimos lá dentro forte barulheira feminina.
Entrámos e vimos que havia uma roda de empregadas em grande risota e envolvendo alguém que depressa descobrimos ser o nosso L.C. que entretanto ladrava e se coçava, proporcionando assim "big show". Perguntámos então ao nosso L.C. que história era aquela.
Respondeu-nos que tinha uma encomenda de um Mar-e-Guerra em Lisboa que lhe tinha pedido para trazer pós para as pulgas dos cães e que as parvas não havia maneira de o entenderem!»
OS ANANASES:
«Como era do curriculum, no fim do 2.º Ano da Escola Naval embarcámos no Aviso "João de Lisboa" para a viagem de instrução que consistia numa cruzeiro pelos Açores e Madeira, para assim termos oportunidade de dar aplicação prática conhecimentos de navegação apreendidos entretanto.
O navio era muito pequeno para alojar além da guarnição 33 Cadetes, mais um capelão e um oficial instrutor da Escola Naval, de forma que dormíamos pelos cantos e víamo-nos atrapalhados para satisfazermos as nossas necessidades higiénicas, devido às bichas.
Tínhamos no entanto ao nosso dispor uma pequena câmara, para convivermos nas poucas horas vagas que nos restavam. Por sua vez o Capelão (Pde. C.S.) ocupava o camarote anexo cujo conjunto, em princípio, constituía o alojamento do Comandante a navegar.
Aconteceu que na passagem por Ponta Delgada, alguém mimoseou o nosso Capelão com uns 06 ananases, ainda verdes, para irem amadurecendo até Lisboa. Ora o nosso guia espiritual teve a triste ideia de pendurá-los numa corda na referida câmara, sobre a mesa.
De início isso não nos prejudicava muito porque o espaço útil não foi afectado. Simplesmente com o decorrer dos dias da viagem, os ananases começaram a amadurecer e a espalhar um aroma próprio que cada vez mais desafiava a nossa gula. Certa tarde a nossa resistência soçobrou. Mandamos vir uma garrafa de vinho do Porto e fomos a eles. Não restou nenhum para amostra.
Começámos então a ficar preocupados com as prováveis consequências, mas ideias para resolver a situação não apareciam, até que alguém foi tocado pelo Espírito Santo e surgiu pendurado na corda um bonito cartão com os dizeres:
"DEUS OS DEU DEUS OS LEVOU".
O capelão quando viu o cartão em vez dos ananases, esboçou um sorriso amarelo mas não teve coragem de participar de nós. Deixo-lhe aqui homenagens pelo desportivismo.
PÓS "KEATING":
Após a minha promoção a 2ºTenente depois de um ano em Guarda-Marinha e ter ainda andado na fiscalização da pesca como imediato da LF "Dourada" no Norte e "Bicuda" no Sul, embarquei no Navio Petroleiro "Sam Brás" onde servi durante cerca de um ano como encarregado da navegação.
Naquela época o "Sam Brás" era o único Petroleiro que o país dispunha em tempo de grandes restrições de combustíveis devido à guerra, de forma que não havia praticamente paragem entre as sucessivas viagens de reabastecimento de gasóleo, gasolina, etc. Lembro-me ter feito viagens ao Médio Oriente (Bahrain), Aruba, Curaçau, Venezuela e até à Califórnia.
O Oficial de Administração Naval era o L.C. um tipo quem se dizia ser o 1ºTenente mais antigo do mundo pois tinha quase vinte anos de posto. Era um sujeito um tanto ou quanto primitivo embora boa pessoa. No que respeita a conhecimento de línguas era como a tia do Eça de Queiroz que só falava português e quando lá fora queria ovos estrelados se punha de cócoras e a cacarejar.
Ora numa viagem que fizemos a Port Arthur (no Texas) aconteceu que andando eu e o E.R. a passear pela terra (que era uma pequena cidade tipicamente americana de ruas perpendiculares umas às outras e casas de madeira), ao passarmos junto a um Drug Store ouvimos lá dentro forte barulheira feminina.
Entrámos e vimos que havia uma roda de empregadas em grande risota e envolvendo alguém que depressa descobrimos ser o nosso L.C. que entretanto ladrava e se coçava, proporcionando assim "big show". Perguntámos então ao nosso L.C. que história era aquela.
Respondeu-nos que tinha uma encomenda de um Mar-e-Guerra em Lisboa que lhe tinha pedido para trazer pós para as pulgas dos cães e que as parvas não havia maneira de o entenderem!»
Recebido por correio electrónico do CMG REF Luís Costa Correia:
ResponderEliminar" É com gosto que vejo que este notável "blog" é lido por distintos Almirantes já reformados e que já ultrapassaram as oito décadas de idade - sem perderem o sentido de humor naval tão bem caracterizado pelos presentes episódios saborosamente descritos pelo Senhor Almirante Adriano de Carvalho.
Também formulo o meu desejo de que o Autor deste excelente "barcoavista" veja reconhecido pela Marinha o seu importante trabalho de divulgação de assuntos navais.
Luís Costa Correia".