8.ª “HISTÓRIA À VISTA”, da autoria do Marinheiro FZE José Rebelo / “Zezito” (nome de guerra).
DE CALÇAS CAÍDAS:
«Foi em Angola, no distrito do Cubango junto à fronteira com o sudoeste africano. Por determinação militar, fui nomeado para fazer segurança a duas dúzias de negros que numa pequena planície extraíam terra barrenta que depois de moldada e cozida, saíam quantidades de blocos de tijolos: o local ficava a cerca de 04 quilómetros do acampamento militar, local da minha pernoita e alimentação (todos os dias fazia aquele percurso apeado).
Na orla da planície onde decorria a escavação, confinava uma mata de baixo arvoredo muito parecido a medronheiros e aqui, “era a casa de banho ao ar livre”! Certo dia um negro por aqui encontrou um animal com poucos dias de nascido e me ofertou; reparei que o animal seria da família de gato e tremia muito, embrulhei-o no meu casaco camuflado e ao fim do dia levei para o acampamento; a rapaziada achou graça ao animal, fizeram-lhe uma cama num bocado de esponja, encheram-lhe a barriga de leite e pela manhã, o animal estava morto.
Voltei ao trabalho e mais ou menos a meio da manhã, vou a mata fazer as minhas necessidades: ponho a G3 no chão ali ao meu lado, desaperto o cinto, baixo as calças e já de cocras, aparece-me um corpulento gato soprando de boca aberta, bigodes estendidos andando e parando já perto de mim, não me mexi e na posição que estava com a mão direita apanho um punhado de terra e mando para o sacudir, mais agitado ficou como a preparar o salto, foi aqui que eu disse:
- "O diabo do gato quer mesmo atirar-se a mim!".
Na posição que estava quase sem me mexer pego na G3 e numa rajada curta, mato o gato. (assim o denominei por gato pelo facto de nunca ter visto uma chita, animal de grande perigosidade que atraída pelo cheiro do meu casaco vinha quebrar o resgate do filho e teve este fim).
Na sequência deste incidente que teve a consequência do disparo de uma rajada de tiros, os negros imediatamente fugiram, (quando saí da mata já não vi nenhum) foram ter ao acampamento a informar que os bandidos matou tropa… Meia hora depois, aparece no local, duas viaturas carregadas de pessoal, surpresos ao verem-me vivo para lhes contar o sucedido.
Estas histórias são exactamente o que pretendem ser; histórias vividas na guerra. Foram tempos que ajudaram a passar outros tempos que eu agora registo como se fosse contado informalmente no prazer de uma conversa entre amigos.»
DE CALÇAS CAÍDAS:
«Foi em Angola, no distrito do Cubango junto à fronteira com o sudoeste africano. Por determinação militar, fui nomeado para fazer segurança a duas dúzias de negros que numa pequena planície extraíam terra barrenta que depois de moldada e cozida, saíam quantidades de blocos de tijolos: o local ficava a cerca de 04 quilómetros do acampamento militar, local da minha pernoita e alimentação (todos os dias fazia aquele percurso apeado).
Na orla da planície onde decorria a escavação, confinava uma mata de baixo arvoredo muito parecido a medronheiros e aqui, “era a casa de banho ao ar livre”! Certo dia um negro por aqui encontrou um animal com poucos dias de nascido e me ofertou; reparei que o animal seria da família de gato e tremia muito, embrulhei-o no meu casaco camuflado e ao fim do dia levei para o acampamento; a rapaziada achou graça ao animal, fizeram-lhe uma cama num bocado de esponja, encheram-lhe a barriga de leite e pela manhã, o animal estava morto.
Voltei ao trabalho e mais ou menos a meio da manhã, vou a mata fazer as minhas necessidades: ponho a G3 no chão ali ao meu lado, desaperto o cinto, baixo as calças e já de cocras, aparece-me um corpulento gato soprando de boca aberta, bigodes estendidos andando e parando já perto de mim, não me mexi e na posição que estava com a mão direita apanho um punhado de terra e mando para o sacudir, mais agitado ficou como a preparar o salto, foi aqui que eu disse:
- "O diabo do gato quer mesmo atirar-se a mim!".
Na posição que estava quase sem me mexer pego na G3 e numa rajada curta, mato o gato. (assim o denominei por gato pelo facto de nunca ter visto uma chita, animal de grande perigosidade que atraída pelo cheiro do meu casaco vinha quebrar o resgate do filho e teve este fim).
Na sequência deste incidente que teve a consequência do disparo de uma rajada de tiros, os negros imediatamente fugiram, (quando saí da mata já não vi nenhum) foram ter ao acampamento a informar que os bandidos matou tropa… Meia hora depois, aparece no local, duas viaturas carregadas de pessoal, surpresos ao verem-me vivo para lhes contar o sucedido.
Estas histórias são exactamente o que pretendem ser; histórias vividas na guerra. Foram tempos que ajudaram a passar outros tempos que eu agora registo como se fosse contado informalmente no prazer de uma conversa entre amigos.»
Camarada, deve-lhe ter bem valido o desconhecimento de que era uma chita, caso contrário presumo que além de calças caídas, o resto do que lhe aconteceria, não é difícil de imaginar, com um bocado de brincadeira :)
ResponderEliminarMiguel Costa
Essa "história" é engraçada, certo que situações similares aconteceram a muitos militares portugueses.
ResponderEliminarA mim logo em 1961, armado em trepador de árvores de fruto, dei no Catio - Guiné com um grande bicho da familia dos macacos, designado macaco-cão que espetou-me as unhas e arranou-me a cara e braço, levei pontos a frio!, mais uns centrimetros ao lado tirava-me um olho.
Pior foram os outros bichos iguais que ao verem a amigo a dar-me uns safanões, mesmo comigo já a descer a árvore, devem ter ficado cheios de coragem e prepararam-se para se atirar a mim também, valeu-me o nosso guia Fula que com uma velha espingarda tipo MAUSER deu um tiro no bicho e os outros fugiram.
Depois de ter sido assistido pelo socorrista, disse-me o guia fula, em tom de brincadeira que macaco-cão deve ter atacado por medo e por nunca ter visto homem branco...
António Santos C.ÇAC 153 Guiné 1961/63