05/10/11

FANFARRA DA ARMADA

“Atroando os ares com o rufos dos tambores e toques de clarim, a Fanfarra faz tremer as pedras da calçada e vibrar os vidros das janelas,
aí vem a nossa Marinha!”
 
Clarim com galhardete

          Em Agosto de 1740, segundo algumas fontes históricas já existia um conjunto musical no Regimento da Armada Real, aquartelados no Castelo de S. Jorge que interpretavam uma música marcial intitulada “Charamela” durante desfiles à frente das forças apeadas.
          Em 1793, documentos sobre a Armada Real referem que esta disponha de uma Charanga com 09 elementos que tocava as suas músicas à frente do 1.º Regimento de Infantaria de Desembarque.
          Em 27 de Novembro de 1807, aquando da 1.º Invasão das tropas francesas de Napoleão, comandadas pelo General Junot, a Brigada Real da Marinha garantiu a segurança pessoal do Príncipe Regente D. João VI, respectiva família real, membros da corte portuguesa e funcionários do Estado, num total de 15.000 pessoas, na retirada estratégica para Brasil, embarcando no Porto de Belém numa Esquadra composta por 57 navios, protegida por naus britânicas.
          Nesta viagem a Charanga acompanhou a Família Real na sua viagem para o Brasil e à excepção de 02 elementos que regressaram a Portugal em 1821, os restantes foram integrados na Armada Brasileira, após Declaração de Independência pelo Imperador D. Pedro I.
          A 07 de Janeiro de 1837 é publicado o Decreto que cria o "Batalhão Naval", corpo militar com luxuosos uniformes desenhados por D. Fernando II (marido da Rainha D. Maria II), unidade militar que desfilava em passo oblíquo à maneira inglesa e que recebia o maior soldo entre todas as unidades militares nacionais existentes.
Como unidade militar, o "Batalhão Naval" foi dotado em 1840 de:
• uma Charanga Marcial:
- 01 Timbalão;
- 10 caixas;
- 05 pífaros;
- 08 cornetas de chave;
- 05 clarins contraltos;
- 05 clarins sopranos;
- 05 baixões.
• uma Fanfarra:
- 01 Tambor-mor;
- 01 timbalão;
- 10 caixas de guerra;
- 05 clarins contraltos.


Charanga do Batalhão Naval da Armada Real (imagem cedida pela Revista da Armada)


Tambor-mor Jerómino Girão da Fanfarra do Batalhão Naval da Armada Real (imagem cedida pela Revista da Armada)

          Todos os executantes exibiam uniformes coloridos e exista ainda um Tambor-mor, este último à frente da formação, apetrechado com Bastão-Compasso.
          Ambas unidades musicais eram dirigidas pelo Maestro alemão Mark Holzel, oriundo de um Regimento Prussiano, que deslocou-se para Portugal a pedido de D. Fernando II, que adoptando conceitos prussianos introduziu novos instrumentos musicais, destacando-se um parecido com a actual lira.
          Em 22 de Outubro de 1851, por Decreto Régio o “Batalhão Naval” é extinto (incluindo o seu Tambor-mor), a sua guarnição de 1.200 Praças é dissolvida e distribuída pelo Exército e diversas classes da Armada, originando o “Corpo de Marinheiros Militares”.
          A própria Charanga Marcial é reduzida a 08 músicos e designada de «Charanga de Marinheiros», composta unicamente por instrumentos de bocal e percussão, não obstante em 3 de Abril de 1903 foram os primeiros a gravar um disco fonográfico em Portugal, nas instalações do Quartel do Corpo de Marinheiros.

          Em 1918, o Ministro da Marinha (Oficial Superior da Marinha de Guerra Portuguesa) decidiu substituir as Cornetas por Clarins, posteriormente ordenou a constituição de grupos de executantes com clarins de vários tons em vez de um só, passando a ser constituída por Clarins Sopranos, Contraltos, Baixos, cornetins, caixas de guerra e por um tambor de metal, como armamento os clarins eram munidos somente de Sabres.


Charanga de Marinheiros (imagem cedida pela Revista da Armada)

          Observando o disposto no livro "Corpo de Marinheiros da Armada" (compilação histórica que versa sobre o 1.º Centenário desta unidade: 1851- 1951), pelo ano 1937 do século passado, a Fanfarra foi recriada e organizada pelo Comandante Forteé Rebelo, por sugestão de clarins existentes na época, quase todos oriundos do ano de recrutamento 1930, em 1950 é novamente reorganizada pelo Comandante Flaseschen de Mendonça.


Fanfarra da Armada em 1952 (imagem cedida pela Revista da Armada)

          Nesta unidade usava-se antigamente uma corneta de cobre (bugle), sendo que as Praças da Marinha que a tocavam eram designados por Corneteiros-tambores, por tocarem também Tambor (Caixa de Guerra), quando eram considerados pelos seus camaradas bons executantes, as guarnições de unidades de Fuzileiros e das unidades navais, ofereciam-lhe uma Requinta de prata.
          Em 1968, a Portaria n.º 234 35 de 15 de Julho cria a classe de Mestre-clarins (Q) para Sargentos e Cabos e a classe de Fuzileiros-clarins (FZQ) que substituí a classe Marinheiros-clarins (na época com 73 elementos), sendo reduzido o respectivo curso de formação técnica e teórica de 09 para 03 meses de duração.


Fanfarra da Armada em 1970 durante o Juramento de bandeira na Escola Naval (imagem cedida pela Revista da Armada)

          Em 1978 o Timbalão-mor é substituído por um Tambor-mor (FZQ), que utilizou o Bastão-Compasso do antigo Batalhão Naval, cedido pelo Museu da Marinha e posteriormente uma réplica, sendo integrado na Banda da Armada aquando de cerimónias de carácter militar, participando no mesmo ano no 1.º Festival de Bandas Militares no Restelo.


Tambor-mor com Bastão-Compasso à frente da Fanfarra da Armada em Paris / França (imagem cedida pela Revista da Armada)


Tambor-mor com Bastão-Compasso à frente da Fanfarra da Armada (imagem cedida pela Revista da Armada)

          Actualmente à frente da formação da Fanfarra da Armada segue o Timbalão-mor, envergando por vezes uma pele de leopardo sobre a farda, em formato de avental, como outrora foi usado no século passado.


Timbalão-mor envergando uma pele de leopardo sobre a farda em 1968 (Foto cedida por António Moleiro)


Timbalão-mor envergando uma pele de leopardo sobre a farda em 2011, durante a Nossa Senhora da escada - Lisboa (Foto cedida por 1SAR FZ Dinis Correia / Fanfarra da Armada)

          A Fanfarra já não é dotada de um elemento Tambor-Mor equipado com o Bastão-Compasso, em virtude da falta de recursos humanos suficientes na unidade para o efeito, não obstante está previsto a sua reactivação a curto espaço de tempo.
          No que concerne à estrutura organizacional, a Fanfarra tem uma lotação aprovada de 29 elementos, sendo 04 da categoria de Sargentos e 25 da categoria Praças.


Fanfarra da Armada (Foto de Bruno Martins, cedida por Macedo Pimentel)

          A Fanfarra da Armada é actualmente chefiada por um SMOR ou SCH da classe de músicos, designado por “Mestre da Fanfarra”, coadjuvado por 03 Sargentos da classe de Fuzileiros com o curso de Requinta e Chefe de Terno.
Compreende as seguintes funções e número de elementos por instrumento:
- 01 Timbalão-Mor;
- 02 Timbalões pequenos;
- 02/04 Caixas de Guerra;
- 01 Pratos;
- 13/15 Clarins Sopranos (1.ª voz e 2.ª voz);
- 02 Clarins Contraltos;
- 02 Clarins Contrabaixos.


Fanfarra da Armada sob o comando de um SMOR da classe de músicos (Foto cedida por 1SAR FZ Dinis Correia / Fanfarra da Armada)

          Presentemente nem todos efectivos da Fanfarra são FZQ’s, existe neste momento um Cabo M (manobra) e um Cabo AP (artilheiro), em virtude da formação em Clarins ministrada por elementos da Banda da Armada ter sido aberta em 2006 a outras especialidades existentes na Marinha Portuguesa.
          A Fanfarra da Armada desde da sua fundação é uma unidade independente da Banda da Armada, distinguindo-se em termos técnicos e na formação dos seus elementos, hoje em dia encontra-se na dependência directa do Comando do Corpo de Fuzileiros e adstrita à Base de Fuzileiros.
          É da competência da Fanfarra da Armada providenciar entre 03 a 06 Requintas e Chefes de Terno para satisfazer todo o cerimonial militar a cargo da Marinha Portuguesa.


Fanfarra da Armada no Dia do Fuzileiro 2011 (Foto cedida por SAJ Afonso Brandão / FZE e Mergulhador-Sapador)

          Tem capacidade para actuar com a totalidade dos seus efectivos ou dividida em pequenos grupos, denominados “Ternos de Clarins”, compreendendo de 03 a 09 elementos.
          Participa integrando a Banda da Armada ou actuando isoladamente em representação dos Fuzileiros e da Marinha Portuguesa em diversas formalidades de cerimónias e eventos, quer de natureza religiosa, civil ou militar, a título de exemplo:
-Procissões religiosas;
- Juramento de bandeira na Escola de Fuzileiros;
- Juramento de bandeira na Escola Naval;
- Imposição de Boinas a novos Fuzileiros;
- Guarda de Honra;
- Desfiles Militares;
- Pequenos concertos;
- Festas populares;
- Actividades marítimas;
- A convite de Associações de Marinheiros.


Fanfarra da Armada em Newark / New Jersey / EUA (imagem cedida pela Revista da Armada)

19/09/11

EFEMÉRIDADES NOS FUZILEIROS PÓS 25 DE ABRIL DE 1974


Equipa de Fuzileiros

          Em Junho de 1974, o Serviço de Polícia Naval foi confiado a título permanente aos Fuzileiros, sendo atribuído a competência de tal exercício ao Pelotão de Fuzileiros n.º 16, mais tarde por necessidades operacionais fundiu-se com o DFE n.º 5, originando uma Companhia com 140 efectivos.
          Entre 21 de Outubro de 1974 e 21 de Fevereiro de 1975, decorre o 34.º e último curso de Fuzileiros Especiais, posteriormente ainda iniciou-se um novo curso, mas não foi concluído face à especialidade ter sido suspensa.

          Com a necessidade de centralizar a estrutura organizacional do Corpo de Fuzileiros, é criado um órgão de implantação territorial administrativo autónomo, o CCF - Comando do Corpo de Fuzileiros (criado pelo Decreto n.º 275/74 de 24 de Junho), ao qual incumbe garantir o apoio logístico e administrativo, promover a preparação, treino e o aprontamento permanente de toda a Força [Decreto Regulamentar nº 29/94 de 1 de Setembro], sob o comando de um Oficial-General.
          Na sua dependência, actualmente encontra-se a EF - Escola de Fuzileiros (unidade de instrução e formação técnico-militar, física, moral e cultural criada pela Portaria nº 18 509 de 03 de Junho de 1961), a BF - Base de Fuzileiros (unidade com a missão de apoiar com os seus serviços técnicos e logísticos o CCF e todas as forças de Fuzileiros), a Fanfarra da Armada e outras unidades da Armada que lhe sejam atribuídas pelo Almirante CEMA.



Edifício de Comando da Escola de Fuzileiros (Foto cedida por Macedo Pimentel)

          Observando o disposto na Portaria n.º 258/75 de 16 de Abril é criado os Batalhões de Fuzileiros n.º 1, 2, 3 e 4, com o desiderato de estruturar em Batalhões as Companhias de Fuzileiros existentes e obter uma melhor organização administrativa e operacional, a 01 de Novembro de 1979 o BF n.º 1 passou a Batalhão de Polícia Naval, entretanto como o BF n. 4 como nunca foi activado, é extinto em 1977 e os BF n.º 2 e 3 mantém-se como unidades de manobra.


Elemento da Polícia Naval (Foto cedida por Macedo Pimentel)


          Findo as operações do "conflito do Ultramar" em Novembro de 1975 e face a redefinição dos princípios estratégicos devido à descolonização de África e ao início do advento da Guerra Fria, ordens de razão que originaram uma profunda modificação política e consequentes alterações ao ambiente da ordem internacional, o curso de Fuzileiro adaptou-se aos novos potenciais cenários de intervenção, focalizando a táctica terrestre com ataque coordenado e apoio de fogo, assim como o desembarque anfíbio em costa aberta sem grande oposição frontal, recorrendo as zonas de menor espera por parte do inimigo.


Desembarque de Fuzileiros em costa aberta

          A 26 de Abril de 1976, inicia-se o 1.º CFORN FZ - Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval Fuzileiro realizado na Escola de Fuzileiros, correspondendo ao 26.º CFORN e anteriormente ministrado pela Escola Naval.


Foto de diversos Oficiais Fuzileiros oriundos da Reserva Naval

          A 25 de Fevereiro de 1977 é extinto o curso de Fuzileiro Especial e por inerência os DFE's, transitando as respectivas condecorações concedidas às unidades para a Força de Fuzileiros do Continente a 03 de Novembro de 1978.
          Em Junho de 1997, com a extinção e respectivo encerramento da Escola de Alunos Marinheiros em Vila Franca de Xira, toda a recruta básica ministrada às Praças da Marinha Portuguesa, passa a ser leccionada na Escola de Fuzileiros.


Demonstração de capacidades

          Ainda em 1977 (15 de Abril) é concluída a construção do edifício do CCF e é implementado o Curso Técnico Complementar, permitindo aos cidadãos masculinos após terminar o SMO por opção nos Fuzileiros (2 anos de duração), a possibilidade de ingressar no Quadro Permanente da unidade.
          A 31 de Julho de 1979 é inaugurada pelo então Presidente da República o Monumento aos Fuzileiros mortos em combate durante a Guerra Colonial, estando formadas em Parada todas as unidades de Fuzileiros, em 25 de Novembro do mesmo ano, preside às comemorações desta data novamente nas instalações da Escola de Fuzileiros.


Presidente da República nas comemorações do 25 de Novembro


          Ainda em Junho de 1979, dada a premência de obter uma melhor racionalização dos meios de apoio atribuídos às unidades dos Fuzileiros, são edificados na dependência do CCF, a UAF (Unidade de Apoio de Fogos), a UATT (Unidade de Apoio de Transportes Tácticos) e a UAMA (Unidade de Apoio de Meios Aquáticos) [Portaria n.º 303/79 de 28 de Junho].

          Em 1985 inicia-se na Escola de Fuzileiros, no âmbito das tarefas decorrentes de protocolos de cooperação técnico-militar bilateral a nível dos PALOP, o 1.º Curso de Fuzileiros frequentado por militares africanos, neste caso 02 Oficiais e 03 Sargentos da República da Guiné-Bissau, e em 1992 é criado o 1.º Destacamento de Fuzileiros da República da Guiné-Bissau.
          A partir do ano lectivo 1985/86 a entrada de Oficiais da classe Fuzileiro para o quadro permanente, passou a ser processado mediante ingresso como Cadete na Escola Naval, no mesmo ano em Fevereiro de 1986 o distintivo da "Boina de Fuzileiro" é substituído e a 30 de Junho de 1986 é inaugurada a "Sala-Museu dos Fuzileiro".

          Com o advento da entrada em vigor da LOMAR - Lei Orgânica da Marinha [Decreto-Lei nº 49/93 de 26 de Fevereiro] e sua regulamentação subsequente, o Comandante do Corpo de Fuzileiros encontra-se na dependência directa do Vice-Almirante Comandante Naval.
          No ano de 1994, face à reestruturação de que tem sido objecto a actividade dos Fuzileiros, é adoptado um novo regulamento [Decreto Regulamentar n.º 29/94 de 1 de Setembro], transitando as incumbências de organização e adestramento para o Comando do Corpo de Fuzileiros, após a extinção da Força de Fuzileiros do Continente.
          Com o Conceito Estratégico Militar de 1994, a doutrina operacional e estratégica da unidade foi redefinida devido ao fim do conflito colonial em África, muito focalizada para o combate de contra-guerrilha e ao fim da Guerra Fria, factos que originou uma profunda modificação na política nacional e consequentes alterações ao ambiente da ordem internacional, ambas determinantes na reformulação dos objectivos estratégicos do Corpo de Fuzileiros, nomeadamente no que tange à capacidade de responder a:
- Ameaças isoladas, convencionais ou assimétricas;
- Condução de operações anfíbias;
- Missões de manutenção e de imposição da paz;
- Protecção e/ou evacuação de cidadãos nacionais residentes no estrangeiro.


Companhia de Instrução da Escola de Fuzileiros

          Assim, tendo em conta as directivas fixadas às Forças Armadas relativas à reestruturação, redimensionamento e reequipamento em 15 de Outubro de 1990, atendendo ao Despacho CEMA n.º 49/90 de 17 de Julho, foi desactivado o BF n.º 3 e o BF n.º 1 deixou de exercer as funções de Batalhão de Polícia Naval, passando novamente a unidade de manobra.

21/07/11

ANUÁRIO DA RESERVA NAVAL 1976-1992



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19/06/11

2.º ANIVERSÁRIO DO BLOG BARCO À VISTA

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13/06/11

OS PRIMEIROS CURSOS DE FUZILEIROS

(ACTUALIZADO)

Desfile em Ordem Unida do 1.º Curso de Fuzileiros Especiais no Corpo de Marinheiros da Armada (imagem do livro "Fuzileiros - Factos efeitos na Guerra de África" do Cte. FZE Sanches Baêna)

          O 1.º Curso de Fuzileiros Especiais realizou-se a 5 de Junho de 1961 e teve a duração de 15 semanas, sendo dividido em duas fases, a 1.ª na data supracitada frequentada por 36 Praças e a 2.ª a 14 de Agosto do mesmo ano frequentada por 42 Praças, participando também 5 Oficiais Subalternos da classe de Marinha (três 1.º Tenentes e dois 2.º Tenentes) e 1 Oficial Subalterno da classe de Administração Naval (2.º Tenente).
          A título de curiosidade é de salientar que antes da realização do curso, procedeu-se à montagem apressada de tendas colectivas de campanha cedidas pelo Exército, no campo de futebol para alojar os instruendos e a construção e disposição no terreno dos obstáculos e pistas de treino nas instalações do Corpo de Marinheiros da Armada, efectuados pelos próprios instruendos e sob supervisão dos 4 instrutores que lhes ministraram o curso e anteriormente frequentaram o curso de especialização "Royal Marines Commandos" no Reino Unido.
          Em 10 de Novembro de 1961, após concluir a instrução e formação em Portugal, parte para Angola a bordo de um avião Douglas DC6 da FAP, a 1.ª unidade de Fuzileiros, o DFE n.º 1 [Portaria n.º 18 774 de 13 de Outubro de 1961], composta por 04 Oficiais, 04 Sargentos, 19 Marinheiros e 59 Grumetes, todos elementos oriundos do 1.º Curso de Fuzileiro Especial, iniciando a sua comissão de serviço no âmbito das operações de reocupação militar do Norte de Angola.
          A 31 de Maio de 1962 desembarca em Luanda - Angola a Companhia de Fuzileiros Navais n.º 1, composta por 07 Oficiais, 09 Sargentos, 9 Cabos, 12 Marinheiros e 106 Grumetes.


1º Pelotão Companhia de Fuzileiros Navais n.º 1 de partida para Angola

          Para além dos livros e manuais supracitados no artigo sobre a
"FORMAÇÃO EM "ROYAL MARINES COMMANDOS" NO REINO UNIDO", a instrução do 1º Curso de Fuzileiros Especiais e seguintes foi também baseada em livros e manuais de carácter militar de origem nacional:
- Disciplina de Infantaria da Escola Naval;
- Manuais do Exército de Guerra Subversiva ("Operações contra Bandos armados e Guerrilha, Acção Psicológica, Apoio às Autoridades Civis e Administração e Logística");
- Regulamento para a Instrução de Sapadores de Armas;
- Livro "Guerra Revolucionária" do Tcor Hermes de Oliveira.
          Em fins de Julho de 1961, por despacho do então Almirante Sub-CEMA Reboredo e Silva, o 1.º Tenente da classe de Marinha Maxfredo da Costa Campos (CMG REF), anteriormente destacado na Escola Naval como Professor, leccionando a disciplina de Infantaria e mentor da 1.ª Pista de Combate da Escola Naval denominada pelos Cadetes de "Maxlândia", é destacado para desempenhar as funções de 1.º Comandante do Batalhão de Instrução do Curso de Fuzileiro, ao mesmo tempo que frequenta o curso, na qualidade de Oficial - aluno e proceder à procura de um local para a implantação da futura Escola de Fuzileiros.



1.ª Pista de Obstáculos e de Combate da Escola Naval "Maxlândia" (imagem cedida pelo Cte. Maxfredo da Costa Campos)

          A Escola de Fuzileiros seria criada pela Portaria n.º 18 509 de 3 de Junho de 1961, nas Instalações Navais de Vale do Zebro e subordinada ao G2EA, tratando-se da unidade responsável pela instrução e formação técnico-militar, física, moral e cultural de Fuzileiros Navais e Fuzileiros Especiais.

          Parte significativa do equipamento utilizado na instrução dos primeiros Cursos de Fuzileiros Especiais provinha de várias origens:
- Botes pneumáticos da marca ZODIAC adquiridos à África do Sul, posteriormente substituídos por botes da marca AERAZUR de fabrico francês e por último, por razões de Política Internacional, pelo modelo ZEBRO, nas suas versões I, II e III fabricados pela empresa portuguesa de artigos de praia REPIMPA, que reunia as melhores características dos modelos anteriores (casco do ZODIAC e painel de popa do AERAZUR) a pedido do Cte. Maxfredo da Costa Campos;
- Espingardas automáticas ARMALITE AR-10 de 7,62mm adquiridas directamente ao representante do fabricante holândes, posteriormente cedidas às Tropas Pára-quedistas, que adquiriram a mesma arma, mas em lotes de maior quantidade, em troca das primeiras espingardas HK G3 A1 m/961 com coronha e guarda-mão em madeira de fabrico nacional (Fábrica de Braço de Prata).



Espingarda automática ARMALITE AR-10 de 7,62mm

Espingarda automática HK G3 A1 m/961

-Pistolas-metralhadoras FBP de 9mm e espingardas de repetição MAUSER 98K de 7,92mm, facultadas pela Escotaria do Corpo de Marinheiros para instrução e exercícios;
- Lança-chamas MARAÑOZA, LGF INSTALAZA 58-B "BAZOOKA" de 88,9mm e morteiros médios ECIA 81mm adquiridos a um vendedor civil (Sr. José Zoio);
- Granadas de mão, pistolas WALTHER P-38 de 9mm, metralhadoras-ligeiras MG-13 DREYSE de 7,92mm, morteiros ligeiros M2M/52 de 60mm, jipes DODGE (Jipão), camionetas Scania e camiões GMC 6x6 cedidos pelo Serviço de Material do Exército;
- 2 Jipes WILLY's (posteriormente substituídos por LAND ROVER) adquiridos a um stand de automóveis Todo-o-Terreno (Sr. Santos) sito na Avenida da Liberdade.


          Quanto aos locais para treino, para além das próprias instalações do Corpo de Marinheiros, foram utilizados a Quinta do Antelmo para exercícios de destreza (Pista de Combate), a vasta área de mata da Base Naval do Alfeite para exercícios tácticos, a Serra da Arrábida para exercícios de campo (Escaladas, Rappel, Orientação, Golpes de mão, Corridas de Fundo, Progressões Nocturnas), Portinho da Arrábida (Natação Nocturna), Pedra da Anicha (Passagem Interior), zona das Matas de Palmela e Rios Tejo e Sado.


Exercícios do 1.º Curso de Fuzileiros Especiais no Corpo de Marinheiros da Armada (imagem do livro "Fuzileiros - Factos efeitos na Guerra de África" do Cte. FZE Sanches Baêna)

          A formação ministrado aos instruendos foi evoluindo ao longo dos primeiros Cursos de Fuzileiros, consistindo em aulas teóricas e práticas entendidas necessárias à preparação física, consciência psicológica e força anímica:
- Infantaria de combate;
- Marinharia;
- Preparação física e militar;
- Combate corpo-a-corpo;
- Higiene e primeiros-socorros;
- Comunicações;
- Condução de meios terrestres e aquáticas;
- Sobrevivência na selva;
- Judo e boxe;
- Natação utilitária;
- Orientação;
- Táctica e estratégia;
- Armamento;
- Tiro e manejo de explosivos.
          A partir de Junho de 1964, após a frequência de um Curso de Minas e Armadilhas na Escola Prática de Engenharia do Exército pelo Cte. Maxfredo da Costa Campos, alguns Fuzileiros começaram a receber instrução em técnicas de inactivação e minas e armadilhas.
          Indiscutível e reconhecido por todas as gerações de Fuzileiros são os valores superiores que sempre nortearam a formação moral e ético-profissional ministrada:
- o espírito de Fuzileiro;
- a camaradagem;
- o cumprimento da missão ao serviço da Nação.



Instruendos do 1.º Curso de Fuzileiros Especiais com a espingarda automática ARMALITE AR-10 de 7,62mm (imagem do livro "Fuzileiros - Factos efeitos na Guerra de África" do Cte. FZE Sanches Baêna)

          Observando o disposto no Decreto-lei 43 515 de 24 de Fevereiro de 1961, em Agosto de 1961 é implementado um regulamento [Portaria 18 659 de 12 de Agosto de 1961], no qual é instituída nos quadros da Armada uma nova classe de Sargentos e Praças, a dos Fuzileiros Navais, permitindo aos militares destas categorias o ingresso na classe de Fuzileiro mediante a frequência do curso de Fuzileiro com a duração de 17 semanas ou um curso de conversão, tendo por especializações a de Monitor (FZM) e de Fuzileiro Especial (FZE) [Portaria 18 314 de 13 de Janeiro de 1961].
          Atendendo à dupla necessidade de facilitar o acesso à especialização de "Fuzileiro Especial" e utilizar os recursos humanos existentes no seio dos quadros da Marinha de Guerra Portuguesa, pela Proposta n.º 93 de 26 de Maio de 1961 do então Almirante CEMA, é permitido atribuir esta especialização a outras classes da Marinha, mediante a frequência do respectivo curso.
          Não obstante, no mesmo ano é criada a especialização de Fuzileiro Especial como formação complementar da Escola Naval, sendo nomeados para frequência do respectivo curso muitos Oficiais subalternos da classe de Marinha, com a finalidade de servir a posteriori como Comandante ou Imediato de um DFE ou CF [Portaria 18 525 de 14 de Junho de 1961].

06/04/11

FORMAÇÃO EM "ROYAL MARINES COMMANDOS" NO REINO UNIDO

DÉCADA DE 50

          A partir dos anos 50 do século passado, a evolução política do continente africano, com despertar dos «Nacionalismos Africanos», nomeadamente com a criação de novos Estados independentes com assento na ONU, ex-colónias de países europeus e a crise originada pelo Presidente do Egipto Coronel Gamal Abdel Nasser ao nacionalizar o Canal do Suez em 1956, originaram o fomento e reorganização da Marinha Portuguesa em África.
          As alterações na política de Defesa Nacional em 1959, face a percepção latente das potenciais ameaças à soberania nacional nas colónias africanas, determinou a atribuição da primeira prioridade de intervenção nos mesmos territórios, revendo-se conceitos de estratégia e táctica adoptados até à data.
          Tal mutação teve consequências para a Armada, entre elas destaca-se os contactos efectuados pelo então Sub-CEMA CMG Roboredo e Silva nos inícios de 1959 a franceses e a britânicos, com o escopo de solicitar apoio à formação de um pequeno quadro de futuros Oficiais e Sargentos instrutores de Infantaria Naval.

          Tal solicitação materializou-se sob a forma de pedido de proposta de treino, primeiro ao Comando da "École des Fusiliers Marins du Centre Siroco" em Cabo Matifou - Argélia, a 1.ª escolha do Sub-CEMA, cujo aprovação do pedido foi retransmitido a 3 de Fevereiro de 1959 por intermédio do Adido Militar da Embaixada de Portugal em Paris, para a ser frequentado por: um 2.º Tenente, 1 Sargento e 5 Praças, com a condição de os instruendos frequentarem um período de treino básico de 8 meses para Oficiais, mais 2 meses adicionais de especialização em "Commando Marine", e um período de treino básico de 5 meses para pessoal recrutado.
          Atendendo à longa duração do treino proposto pelos franceses, no mesmo dia (3 de Fevereiro de 1959), o Sub-CEMA envia também uma proposta de treino ao Comando dos "Royal Marines" da Marinha Real Britânica (criados em 1942 durante a 2.ª Guerra Mundial), por intermédio do Adido Naval da Embaixada de Portugal em Londres, recebendo a 3 de Abril de 1959 por resposta a proposta de frequência de um curso de instrução especializada em "Comandos", com a duração de 9 semanas.

DÉCADA DE 60


Almirante Roboredo e Silva

          Deste modo, após os contactos estabelecidos e a escolha pela proposta britânica, em virtude de tratar-se de um curso de menor duração e objectivos da formação, o Sub-CEMA Comodoro Roboredo e Silva com grande antevisão de potenciais problemas de soberania nas Províncias Ultramarinas, entrega uma proposta [informação n.º 29] em Janeiro de 1960 ao Almirante CEMA, para na reorganização da Marinha de Guerra Portuguesa ocorra a reconstituição de uma força destinada a operações de comandos e desembarques anfíbias - os Fuzileiros.
          Em 26 de Abril de 1960, o Sub-CEMA insiste na sua proposta junto do Almirante CEMA [informação n.º 139], alegando que a reconstituição de uma força anfíbia como os Fuzileiros oferecem o maior interesse para o Ultramar e a Metrópole, além de que permitiria libertar as guarnições de unidades navais de efectuarem serviço de segurança e patrulhamento em terra ou operando como Força de Desembarque, em detrimento da capacidade operacional do Navio de Guerra a que se encontravam destacados.
          Tal proposta acaba por ser aprovada sob a forma de Despacho CEMA em 20 de Abril de 1960, atendendo ao indicado na Proposta n.º 104 de 01 de Maio de 1959 pelo Estado-Maior da Armada, sugerindo a frequência de um curso de "Comandos" no estrangeiro por 1 Tenente, 1 Sargento ou 1 Cabo e 3 Praças, projecto que contou com o apoio inicial do Reino Unido.

- FORMAÇÃO EM "ROYAL MARINES COMMANDOS" NO REINO UNIDO


Exercícios de campo em Lympstone (Foto cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          Seis meses antes de o eclodir do conflito do Ultramar no Norte de Angola (15 de Março de 1961), em 16 de Agosto de 1960, foram enviados para a Escola dos Fuzileiros da Marinha Real Britânica, no âmbito da cooperação técnico-militar, uma equipa de 4 futuros instrutores com o propósito de frequentarem a partir de 22 de Agosto, as últimas 10 semanas do curso de especialização "Royal Marines Commandos" em Lympstone - South Devon, nas instalações do "Infantry Training Centre Royal Marines":
- (1) 2º Tenente da classe de Marinha Pascoal Rodrigues (CMG REF), na época destacado num Draga-Minas;
- (3) 1.º Marinheiros da classe Monitores Santos Santinhos , Baptista Claudino e Ludgero Silva "Piçarra" (SAJ FZE REF), na época a ministrarem recruta e instrução na Escola de Alunos Marinheiros (GN1EA Vila Franca de Xira).


Na companhia de um Instrutor inglês (foto cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          Estas últimas semanas corresponderam à fase de aplicação prática da teoria com os exercícios físicos finais, familiarizando-se com as respectivas técnicas e tácticas de Infantaria Naval, a posteriori no final do curso receberam a «Boina Verde» e o distintivo de "Royal Marines Commando" como símbolo de Forças de Elite.


Os 4 primeiros Fuzileiros com a Boina Verde dos "Royal Marines Comandos" (Foto original cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          Regressaram a Portugal em 30 de Outubro de 1960 e observando o disposto na Proposta n.º 93 de 26 de Maio de 1961 do CEMA para o Ministro da Marinha, começaram a ministrar instrução nas instalações do Corpo de Marinheiros da Armada, enquanto se procedia às obras de adaptação das instalações em Vale do Zebro.
          De destacar que os 4 portugueses (únicos estrangeiros) ficaram nos 10 primeiros lugares do curso de especialização "Royal Marines Comandos" (32 instruendos ao todo), entre Oficiais, Sargentos e Praças, sendo de salientar que o 1.º Marinheiro Mário Claudino concluiu o curso em apreço e a Prova de Marcha de 60Km em 1.º lugar, inclusive à frente dos próprios ingleses, feito pelo qual foi distinguido com um louvor e medalha.


Exercício em Pista de obstáculos em Lympstone (Foto cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          Tratou-se de um curso que focou com particular ênfase a capacidade física, a disciplina e o treino técnico para o combate ofensivo (patrulhas de combate, emboscadas e incursões), tendo a teoria sido brevemente abordada (operações anfíbias e tácticas básicas de infantaria), originando a iniciativa do Tenente Pascoal Rodrigues de a completar e desenvolver posteriormente, mediante o acompanhamento da criação dos Caçadores Especiais do Exército no CIOE de Lamego e respectivos exercícios.


Exercícios de campo em Lympstone (Foto cedida por Cte. Pascoal Rodrigues)

          De realçar que também foi cedido ao Tenente Pascoal Rodrigues manuais de contra-guerrilha e guerra psicológica, por alguns Oficiais destacados no CIOE que frequentaram em 1958 e 1959, cursos de informação, contra-subversão e contra-guerrilha em centros de instrução estrangeiros (Argélia, Bélgica, Espanha, EUA, França e Inglaterra), a título de exemplo:
- Intelligence Centre of the British Army;
- Centre d'Instruction à la Pacification et à la Contre-Guérilla d'Arzew no teatro de operações francês na Argélia;
- Centro de Tropas de Choque da Córsega;
- Estágios na Défense nationale Française.

          De modo a sedimentar os conhecimentos adquiridos, o Tenente Pascoal Rodrigues optou por estudar livros sobre a doutrina e experiências de países estrangeiros:
- Operações anfíbias dos Fuzileiros Norte-americanos (2ª Guerra Mundial e Coreia), cedido por Adidos Militares Navais da Embaixada Norte-americana em Lisboa;
- Manuais sobre tácticas inglesas de contra-guerrilha (Malásia), trazidos da formação em Inglaterra;
- Conceito de contra-penetração francês (Indochina e Argélia);
- Manual de Campo de Treinamento Físico Militar do Ministério da Guerra do Brasil de 1958.

          É de salientar que para a constituição orgânica das unidades de Fuzileiros (Equipa, Secção, Pelotão, Companhia, Destacamento), o Tenente Pascoal Rodrigues inspirou-se igualmente no modelo britânico e para a formação em meio aquático de botes pneumáticos no sistema ATP das publicações temáticas militares da NATO.
          A título de curiosidade, o uniforme e procedimento de manejo das armas e marcha em acelerado com arma na Ordem Unida, ainda hoje implementado nos Fuzileiros, é da autoria do Tenente Pascoal Rodrigues, por adaptação dos conhecimentos do curso frequentado no Reino Unido.

13/03/11

FUZILEIROS NA GUERRA COLONIAL

(ACTUALIZADO)
          No ano em que se comemora os 50 anos da criação da Escola de Fuzileiros, eis uma resenha redigida com o objectivo de recordar a Guerra Colonial, tendo em linha de conta que como acontecimento histórico do passado recente da Nação, traduziu-se na prática no 1.º "teste de fogo" aos ensinamentos ministrados na Escola de Fuzileiros e ao seu produto, as gerações de militares que desde 1961 ostentam a Boina dos Fuzileiros.

GUERRA COLONIAL


Guiões das unidades de Fuzileiros

DÉCADA DE 60
          Os Fuzileiros participaram activamente com 12.255 militares durante toda a Guerra Colonial (1961 a 1974), nos três TO - Teatros de Operações onde se desenrolou o conflito bélico:

• Angola: - Rio Zaire, Dembos, Rio Lungué-Bungo, Rio Zambeze, Rio Cubango; - 17 DFE's e 22 CF's destacados;
• Guiné-Bissau: - Bissau, Rio Cacheu, Cacine, Cumbijã; - 27 DFE's e 12 CF's destacados;
• Moçambique: - Cabo Delgado, Niassa, Tete, Lourenço Marques; - 19 DFE's e 12 CF's destacados.

          Foram das principais forças militares portuguesas mobilizadas para o combate de contra-guerrilha, criando-se para o efeito 3 tipo de unidades de combate:
DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais: 13 unidades metropolitanas e 3 africanas, cada uma inicialmente com 75 e a partir de 1967 com 80 efectivos (4 Oficiais, 6 Sargentos, 14 Cabos, 32 Marinheiros e 24 Grumetes), divididos em três grupos de assalto vocacionados para missões de combate ofensivo de limitada duração e penetração na orla costeira (golpes de mão) e realização de operações conjuntas com os outros ramos das FA's;
CF - Companhias de Fuzileiros Navais: 12 unidades, cada uma com 140 efectivos (7 Oficiais, 8 Sargentos, 13 Cabos, 36 Marinheiros e 76 Grumetes), divididos por três pelotões de atiradores e uma formação de comando, composta pela secção de comando e uma secção de quartéis.           Dispunham ainda de uma secção de abastecimento, secção de secretaria, secção de comunicações e secção de saúde, competia-lhes a missão de patrulhamento, escolta de comboios fluviais de embarcações mercantes, desempenhar o serviço de Polícia Naval e montar segurança a navios, aquartelamentos e Comandos Navais;
Pelotões Independentes: 4 unidades, cada uma com 43 efectivos (2 Oficiais, 2 Sargentos, 4 Cabos, 13 Marinheiros e 22 Grumetes), tratou-se de unidades destacadas para o Ultramar e integradas no dispositivo local da Marinha, nomeadamente no Arquipélago de Cabo Verde.

          De salientar que por regra cada Fuzileiro cumpria duas comissões de serviço no Ultramar, integrado num DFE ou CF, existindo inclusivo diversos militares, nomeadamente entre as classes de Sargentos e Praças, que cumpriram até 4 comissões, cada uma de 2 anos de serviço.
          Tal particularidade justifica-se em virtude de todas as unidades de Fuzileiros, nesta época serem formadas por militares do Quadro Permanente e Voluntários, o que traduzia-se num determinado número de militares com experiência de combate, que por inerência contribuia para o aumento do desempenho operacional da respectiva unidade.
          Finda a comissão de serviço no Ultramar, a unidade de Fuzileiros regressava a Portugal, sendo os seus efectivos rendidos na totalidade, no entanto mantinha o mesmo n.º de designação como unidade militar, que após nova constituição orgânica, destacava novamente para África em comissão de serviço, somente a Marinha de Guerra Portuguesa dos 3 ramos das FA's adoptou este sistema de rendição de unidades militares.



Guarnição do DFE n.º 2 destacado em comissão de serviço em Angola entre 1965-1967 (Foto cedida por SAJ Afonso Brandão / FZE e Mergulhador-Sapador)

          Em 10 de Novembro de 1961, após concluir a instrução e formação em Portugal, parte para Angola num DC6 da FAP a primeira unidade de Fuzileiros, o DFE n.º 1 [Portaria n.º 18 774 de 13 de Outubro de 1961], composta por 2 Oficiais, 4 Sargentos, 9 Marinheiros e 60 Grumetes, iniciando a sua comissão no âmbito das operações de reocupação militar do Norte de Angola.
          Em Junho de 1962, desembarca na Guiné-Bissau o DFE n.º 2, com o escopo de reforçar o dispositivo militar, participa juntamente com o DFE n.º 7 e DFE n.º 8 na «Operação Tridente» na ilha do Como, e nas buscas para localizar o Sargento Lobato, Piloto de um avião T6 da FAP que caiu após embate com o respectivo "asa", sobrevivendo à queda do aparelho e seria feito prisioneiro pelo PAIGC.
          Em Outubro de 1962, desembarca a Moçambique a CF n.º 2, tendo por missão garantir a defesa e segurança do Comando Naval de Moçambique em Lourenço Marques (actual Maputo), tendo um dos seus pelotões destacado para Metangula, no Lago Niassa.

- OS MEIOS UTILIZADOS
          No que concerne à dotação orgânica de material, a Marinha de Guerra Portuguesa atendendo à guerra de guerrilha que ocorria nos TO's, apetrechou as unidades de Fuzileiros com meios ligeiros de baixo custo, fácil operação e manutenção.
          Ao longo do conflito, os meios adoptados pouco evoluiram e as unidades de Fuzileiros adequavam casuisticamente os meios empregues conforme a missão a executar.
          Tendo por exemplo a guarnição de um DFE, esta era equipada com os seguintes meios:

• ARMAMENTO:
- Armas individuais:
- Lapiseira-pistola .22¹ (3);
- Pistolas WALTHER P-38 de 9mm (13);
- Espingardas .22 (2); caçadeiras de 12mm (2);
- Espingardas HK G3A2 m/963 de 7,62mm com bipé (8);
- Espingardas HK G3A2 m/963 de 7,62mm (63 + 9 de reserva).

- Armas de apoio:
- Lança-chamas MARAÑOZA² (1);
- Metralhadoras-ligeiras MG-42 mod.59 de 7,62mm (2);
- Lança-Rockets ARMADA 69 ou OGMA de 37mm (2 + 12 granadas SNEB);
- LGF INSTALAZA 58-B "BAZOOKA" ou LGF FIRESTONE H/29 A1 B1 de 88,9mm (2 + 12 granadas);
- Morteiros pesados TAMPELLA 120mm³ (2 + 36 granadas);
- Morteiros médios ECIA 81mm (2 + 36 granadas);
- Morteiros ligeiros M2M/52 de 60mm (2 + 36 granadas);
- Morteirete 60 mm (2 + 36 granadas);
- Peça OERLIKON Mk2 de 20mm³;
- Peça BOFORS de 40mm.




















Peça Bofors de 40mm na Pedra do Feitiço - Angola

- Armamento explosivo:
- Granadas de mão ofensivas SPEL m/962;
- Granadas de mão defensivas SPEL m/963;
- Granadas de mão BIVALENTE PRB 423;
- Granadas de mão de fumo SPEL;
- Granadas incendiárias;
- Granadas armadilhas;
- Cordão detonante²;
- Dilagramas M26A1 "ALG" ou ARMADA 64 (24).

¹ Defesa pessoal de Oficiais;
² Parte da dotação mas pouco utilizado;
³ Utilizado na defesa de instalações
(TAMPELLA na Vila Cacheu - Guiné-Bissau / OERLIKON na Tabanca Grande - Guiné-Bissau).


• COMUNICAÇÕES:
- Apitos (5);
- Transreceptor AN/PRC-6 ou AN/PRC-10 (2);
- Transreceptor HF 156 (2);
- Transreceptor AN/PRC-116 (20);



Marinheiro C "radiotelegrafista" do DFE n.º 9 no Mágué velho

(A partir dos finais da década de 60)
- Transreceptor AN/PRC-216 ou AN/PRC-236 B (2);
- Emissor / receptor RACAL TR-28 B2 HF (2).

• MEIOS TERRESTRES:
- Jipes 4x4 LAND ROVER (3);
- Mercedes UNIMOG 401 / 404;
- Berliet TRAMAGAL;
- Camião de carga SCANIA VABIS ou BEDFORD (1).

• MEIOS ANFÍBIOS:
- Botes pneumáticos ZODIAC ou ZEBRO III (12);
- Motores MERCURY de 50cv (12);
- Botes de fibra de vidro (sintex) "MARUJO".


Bote de fibra de vidro (sintex) "MARUJO"

• FARDAMENTO:
- Fato de combate camuflado padrão "LAGARTO" de 2 peças, acolchoado nos joelhos, cotovelos e ombros, dispondo de 16 bolsos e fechos Zippo; fato de macaco de 1 só peça;
- Botas de combate em cabedal "Botas de Fuzileiro" (estanques e resistentes) ou de lona;
- Meias de enchimento;
- Poncho camuflado com capuz; - Rede mosquiteira de pescoço;
- Cinturão.

• EQUIPAMENTO DIVERSO:
- Máquina fotográfica de 16mm (2);
- Máquina de escrever (1);
- Binóculos (4);
- Bússolas SILVA (10);
- Relógios à prova de água AQUASTAR (10);
- Lanternas estanques (10);
- Filtros para água CATADIN (12),
- Algemas (3);
- Lápis dermográfico;
- Lapiseira de sinais;
- Kit sanitário;
- Faca de combate;
- Cantil de 1 litro
- Very-lights.

• CÃES DE GUERRA: (ler artigo)

- OFICIAIS FUZILEIROS DA RESERVA NAVAL
          Paralelamente no mesmo período temporal e com o início do conflito colonial a carência de Oficiais aumentará substancialmente, deste modo a partir do 4º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval (6 de Outubro de 1961) em diante, a Reserva Naval também contribuiu com Oficiais Subalternos para as unidades de Fuzileiros [Portaria 18 393 de 12 de Abril de 1961].
          Os Cadetes que frequentavam o Curso de Oficial da Reserva Naval na Escola Naval eram oriundos de mancebos com frequência universitária ou já detentor de Curso Superior Universitário que se voluntariavam ou eram convocados a cumprir o SMO, observando o disposto na Portaria n.º 18 393 de 18 de Abril de 1961:
- Escola Superior de Belas-Artes;
- Faculdade de Ciências;
- Faculdade de Direito;
- Faculdade de Economia;
- Faculdade de Letras;
- Instituto Nacional de Educação Física;
- Instituto Superior de Agronomia;
- Instituto Superior de Estudos Ultramarinos;
- Instituto Superior Técnico.

          A Reserva Naval registou inclusivo maiores taxas de integração de Oficiais Subalternos nas unidades de Fuzileiros, por regra integrando como Imediato, 3.º e 4.º Oficial, que os Oficiais Subalternos oriundos do Quadro Permanente: - 82 Oficiais da RN em 139 Oficiais integrados nos DFE, correspondendo a 56%; - 217 Oficiais da RN em 328 Oficiais integrados nas CF, correspondendo a 66%;
          De destacar que diversos Oficiais oriundos da RN, após ingresso nos QP's da Armada, comandaram DFE's e CF's.
          A título de exemplo o 4º CFORN forneceu 9 Oficiais que integraram as CF n.º 1 e n.º 2, destacadas respectivamente para Angola e Moçambique.

DÉCADA DE 70
          É de realçar que a durante o conflito colonial, a Guiné-Bissau e Moçambique foram os TO's onde as unidades de Fuzileiros foram colocadas mais à prova, no que concerne à capacidade operacional e resistência física e psicológica, devido às particularidades sui generis do terreno, clima, organização e capacidade de combate da guerrilha do PAIGC (poder de fogo e "fornilhos") e FRELIMO (implantação de minas A/P e A/C).
          No caso da Guiné-Bissau, no início da guerra os Fuzileiros estavam aquartelados na cidade de Bissau e subordinados ao Comando de Defesa Marítima da Guiné (criado pelo Decreto-lei 41 990 de 3 de Dezembro de 1958 e activado em Maio de 1959), actuando na razão de um DFE por bacia hidrográfica (Cacheu, Geba / Corubal e Buba / Cacine).


Fuzileiros em operações em zona de tarrafo da Guiné-Bissau

          No entanto, com o evoluir da guerra, meios de combate e efectivos nas unidades PAIGC, que se materializou numa quase transformação de guerra de guerrilha para convencional, foi necessário ajustar o dispositivo e os Fuzileiros também foram destacados para junto das fronteiras Norte e Sul, sendo atribuídos a um COP - Comando Operacional ou CAOP - Comando de Agrupamento Operacional, nomeadamente para reforço das acções de contra-penetração de guerrilheiros do PAIGC vindo do Senegal ou da Guiné Conakry.
          Em Moçambique, os Fuzileiros operaram nos distritos de Cabo Delgado, Tete e Niassa, sendo este último juntamente com o seu Lago Niassa o cenário por excelência, com bases em Metangula e Coubé, cada uma com um DFE destacado, este distrito era também denominado de "Estado de Minas Gerais" pelas forças portuguesas, em virtude da profusão de minas A/C e A/P colocadas pela FRELIMO.

- OS DESTACAMENTOS DE FUZILEIROS ESPECIAIS AFRICANOS
          Atendendo ao esforço em termos de recursos humanos que Guerra de Ultramar necessitava e dentro da política de africanização do conflito, são constituídos somente na Guiné-Bissau a partir de Abril de 1970, no Centro de Instrução e Preparação de Fuzileiros Especiais Africanos em Bolama, os únicos DFE africanos: DFE 21 [21 de Abril de 1970], DFE 22 [16 de Novembro de 1971] e DFE 23 [1 de Julho de 1974].
          No entanto o DFE 23 nunca chegou a ser formalmente activado, sendo os 3 DFE's africanos desactivados em 25 de Agosto de 1974.
          Tratou-se de unidades guarnecidos por Oficiais, Sargentos e algumas Praças metropolitanos (Comandante, Imediato, quartel-mestre, radiotelegrafista [telefuzo], enfermeiro, etc), sendo as restantes Praças recrutados entre voluntários da população nativa da província, regra geral dando-se preferência aos assalariados do Comando de Defesa Marítima, de Serviços da Marinha, guias de unidades de Fuzileiros, estivadores e pessoal oriundo de companhias de milícias ou caçadores nativos.


Guiões dos DFE's Africanos 21, 22 e 23

          A 22 de Novembro de 1970, o DFE n.º 21 (Africano) participou na «Operação Mar Verde», na Guiné-Conakry, competindo-lhe a missão de atacar a prisão “La Montaigne”.

- BAIXAS ENTRE OS FUZILEIROS
          Segundo a Comissão COLOREDO, durante todo o conflito, os Fuzileiros tiveram 185 baixas mortais, sendo que entre os feridos, 50% dos mesmos foram vítimas do efeito de minas A/P, A/C ou "fornilhos":
Angola: [57 mortos] 13 em combate; 34 por acidente e 10 por doença;
Guiné-Bissau: [99 mortos] 55 em combate; 35 por acidente e 9 por doença;
Moçambique: [29 mortos] 13 em combate; 10 por acidente e 6 por doença.
          O único Oficial que faleceu em combate foi um 2TEN FZ da Reserva Naval da CF n.º 1, oriundo do 18.º CFORN, em Junho de 1973, no Chilombo - Leste de Angola.
          Findo o conflito do Ultramar e extinção dos Comandos Navais e de Defesa Marítima das ex-colónias em 1975, com a finalidade de uniformizar de modo mais profícuo procedimentos operacionais e administrativos, tornou-se necessário estruturar em Batalhões as Companhias de Fuzileiros existentes, criando-se os Batalhões de Fuzileiros n.º 1, 2, 3 e 4 [Portaria n.º 258/75 de 16 de Abril].

12/03/11

PATCHFANATIC WEBSITE



          O "PATCHFANATIC WEBSITE" da autoria do 1SAR AD Luis Carlos Amaral Laranjeira da Marinha de Guerra Portuguesa foi actualizado em 05/02/2011, cuja colecção possui no total 1688 PATCH's dos 3 ramos das FA's e de vários países.

          No que concerne à "Marinha de Guerra Portuguesa" o site em apreço já ostenta 7 páginas dedicadas a este ramo das FA's de Portugal, reunindo até ao momento 250 PATCH’s de diversas unidades navais, terrestres, da EHM, Fuzileiros, Mergulhadores, especialidades de Praças / Sargentos / Oficiais, missões e exercícios internacionais.